Título: BB avança em negócios com governos
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Fonte: Valor Econômico, 15/05/2008, Finanças, p. C1

O Banco do Brasil decidiu reagir ao avanço dos bancos privados sobre os negócios com o setor público e anuncia hoje uma série de mudanças na área de governo, considerado um dos três pilares da instituição, ao lado do varejo e do atacado. Entre as principais mudanças estão a criação de uma área específica em Brasília para cuidar de operações estruturadas de Estados e municípios, entre elas a renegociação de dívidas, criação de Fundos de Investimento em Direitos Creditórios (FIDC), compra de royalties e Parcerias Público Privadas (PPP).

A nova área já nasce com uma grande operação em andamento: a renegociação da dívida do Estado do Mato Grosso com a União, de R$ 5,3 bilhões. O BB aguarda a aprovação da Assembléia Legislativa do Estado para colocar em prática uma operação que envolve captação externa de recursos. "Há a possibilidade de uma emissão externa em reais e o alongamento da dívida do Estado", diz o diretor de governo do BB, Sérgio Nazaré.

De acordo com Nazaré, um dos motivos que levaram o banco a criar uma área de operações estruturadas para governos foi a constatação de que, com o grau de investimento obtido pelo Brasil e a queda na taxa de juro, há espaço para a renegociação das dívidas com o objetivo de barateá-las e de alongar seu prazo. "Esses Estados assumiram compromissos com a União no fim da década de 90, a IGP-DI mais 6% ou 9% ao ano. Hoje, essas taxas são caras." A renegociação de MT é a primeira com participação do setor privado, alternativa aberta pela União em 2007.

Outra frente do BB é a antecipação de royalties aos Estados e municípios - o banco já adquiriu R$ 225 milhões desses recebíveis, a maior parte deles de petróleo. Os governos estão impedidos de se endividar por conta da Lei de Responsabilidade Fiscal e por uma resolução do Banco Central. Mas a venda de recebíveis provenientes de royalties não são encarados como endividamento caso os recursos sejam usados para amortizar dívida ou para fundo de previdência dos servidores.

Além da área de operações estruturadas, o BB está criando duas áreas para agrupar suas atividades de governo. Uma delas será a de crédito - o banco conseguiu retomar o posto de maior repassador de recursos do BNDES para programas do setor público, como o Provias. A outra foi batizada de articulação federativa, que supervisionará o Projeto Nordeste, uma ação do BB que apóia o desenvolvimento regional a partir de cruzamentos com os planos plurianuais dos Estados do Nordeste.

As mudanças não ficarão restritas a Brasília. O BB está criando um novo cargo, o de gerente regional do setor público, que, segundo Nazaré, será um dos mais altos níveis da carreira bancária. Acima desses gerentes ficarão apenas os superintendentes estaduais do BB. A idéia é ter gente especializada e com maior autonomia para desenvolver operações com as esferas do setor público. Serão 11 em todo o país. Nazaré afirma que pesquisas realizadas pelo BB no início do ano apontaram a necessidade de expansão da especialização da área de negócios com o setor público. "Esse é um tipo de cliente que gosta de ser visitado e não de visitar o banco", explica. Para atender a essa necessidade, uma das medidas que o BB anuncia hoje é a expansão do número de plataformas (espécie de birô especializado que funciona dentro das agências) de 50 para 62 em todo o país, até o fim do ano. Com isso, o banco pretende ampliar o número de municípios atendidos por essa estrutura especializada dos atuais 83 municípios para 126. O banco tem ainda 39 agências totalmente voltadas para o setor público.

O BB e os bancos privados têm travado uma batalha em torno dos negócios com o setor público. Em um episódio recente, instituições privadas creditaram parte do fracasso dos leilões para a venda da gestão das folhas de pagamento das prefeituras a uma ação agressiva do BB e a decisões de governadores que romperam contratos com bancos para repassá-los ao BB. Em reuniões, o BB reage dizendo que não incita quebra de contratos e que tem apresentado melhores serviços. Especialistas ouvidos pelo Valor afirmam que as mudanças do BB copiam o que já fazem os bancos privados. "Eles perderam espaço e agora estão tentando reagir", disse um deles.