Título: Demanda sobe mais que o previsto e tira aço da exportação
Autor: Ribeiro , Ivo
Fonte: Valor Econômico, 15/05/2008, Empresas, p. B8

Freire, do Inda: "Com recorde atrás de recorde, a rede de distribuição vai atingir este ano 4 milhões de toneladas" A demanda por aço no país durante o primeiro trimestre, que ficou bem acima da expectativa do setor, pegou as fabricantes locais no contrapé, principalmente no segmento de chapas para automóveis, autopeças, bens de linha branca, máquinas, equipamentos e construção civil. De janeiro a março, as vendas domésticas cresceram 19%, quase o dobro do que previram as empresas para 2008 ao final do ano passado - 10%. A Usiminas, por exemplo, já teve de recorrer a importações de chapa fina galvanizada para atender suas clientes japonesas no setor automotivo. A empresa está estudando se traz lotes de outros tipos de aço.

Outra saída para atender os clientes locais foi redirecionar material de exportação para o mercado doméstico. Assim tem feito Usiminas e CSN em aços planos e Gerdau em produtos longos. A siderúrgica mineira reduziu a um terço seus embarques de chapas finas a frio no trimestre e quase à metade as vendas de material laminado a quente. "Estamos sendo bastante seletivos na exportação" disse Renato Vallerini Jr., diretor de exportação da Usiminas em conferência com analistas sobre resultado do balanço trimestral.

A fatia destinada ao mercado doméstico por parte da Usiminas vem crescendo trimestre a trimestre: era de 72% das vendas totais um ano atrás, subiu para 76% no segundo trimestre de 2007 e alcançou os 81% entre outubro e dezembro. Mantido nos três meses iniciais de 2008, esse índice já saltou para 89% neste trimestre, uma vez que a empresa já está com tudo vendido até julho.

Na CSN, conforme destacou a empresa durante a divulgação de seus resultados, o volume vendido para clientes locais representou 84% - marca histórica na companhia, incluindo suas controladas. Considerando só entregas diretas da controladora até março, o índice sobe para 93% e a previsão é ser ainda mais elevado no trimestre em curso.

As exportações brasileiras de produtos laminados planos de janeiro a abril apresentou queda de 9,8% em valor, conforme dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC). Em volume, a queda foi superior, uma vez que os preços tiveram expressivas altas no mercado internacional. Isso retrata o que ocorre no setor: a cada dia as siderúrgicas locais têm de queimar "gorduras" da exportação para suprir clientes no país. Ao contrário, segundo o MDIC, os embarques de produtos semi-manufaturados de ferro e aço (placas e tarugos, principalmente), tiveram aumento de 45% no período.

O ritmo da procura interna mantém-se consistente em maio, aponta o Instituto Nacional de Distribuição de Aço (Inda), que representa as empresas que atuam na venda de aços planos extra-usinas, com forte presença na cadeia que chega até o varejo. Esse canal de comercialização responde por cerca de um terço do material de aço plano consumido no país.

No ano passado, conforme dados do Instituto Brasileiro de Siderurgia (IBS), o consumo desse tipo de produto no país somou 13,35 milhões de toneladas, um recorde que deve ser superado de longe em 2008, mantido o atual nível de pedidos. De janeiro a março, as vendas das usinas locais no mercado interno atingiram 3,23 milhões de toneladas. O patamar de consumo, incluindo aço importado, foi além da marca de 3,5 milhões de toneladas do último trimestre de 2007.

As líderes de compras são as montadoras e autopeças, fabricantes de máquinas agrícolas, indústria e construção civil, com mais de 23% de aumento em cada atividade industrial. No segmento de aços longos (vergalhões, perfis, barras e outros) foi registrado alta de 27% no primeiro trimestre, com vendas de 2,16 milhões de toneladas. O grupo Gerdau conseguiu ampliar suas vendas em 37% de janeiro a março no país. Para isso, conforme informou seu presidente, André Gerdau Johannpeter, a analistas do mercado de capitais, teve de redirecionar exportações.

Em março, a distribuição de aço plano bateu recorde de vendas, com 336 mil toneladas, segundo informou Christiano Cunha Freire, presidente do Inda e da Freffer, que está entre as dez maiores do país. "Vamos superar 4 milhões de toneladas pela primeira vez em um ano", afirma o empresário. Segundo Freire, as usinas têm atendido os pedidos das distribuidoras e da maioria dos clientes. Mas nada de volumes além do planejados. Lotes de última hora, nem pensar.

Enquanto a produção de aço (oferta) das usinas cresceu 6,5%, a demanda chega ao triplo disso em chapas planas e quadruplica no caso dos materiais acabados longos. O volume a ser produzido pelo país neste ano é de 37 milhões a 38 milhões de toneladas, mas o acréscimo se concentra quase todo em produto para exportação - placas e tarugos.

Há apenas o investimento da ArcelorMittal Tubarão em novas capacidades de material laminado plano, para 2009 (2 milhões de toneladas). Os projetos de Usiminas e CSN são todos para 2010/2011 em diante. Em longos, há algumas expansões na Gerdau e a nova unidade da Votorantim, em Resende, para o próximo ano.

Importar está cada vez mais difícil e caro. Por isso, consumidores já preferem comprar tudo no Brasil. Com restrições de exportação na China e Índia, a oferta ficou bastante apertada no mercado internacional. Os preços subiram fortemente nos EUA (uma tonelada de bobina de chapa a quente já é vendida a US$ 1,23 mil) por conta dos aumentos de preços do minério e do carvão. Ontem, paralelamente à divulgação de seu balanço, o grupo ArcelorMittal anunciou que estava elevando o preço do produto para ? 720 euros (US$ 1,1 mil) a tonelada na Europa para vendas a partir de julho e agosto.

No Brasil, a partir de ontem, até 1º de junho, ArcelorMittal, CSN e Usiminas estão reajustando seus preços de 5% a 16%. "Mesmo com isso, ainda é mais vantajoso comprar no Brasil.", diz Freire. Vallerini, a Usiminas, destacou que há um espaço da ordem de 10% para equiparação com material importado, mas lembrou que não há novos planos de um novo aumentos para o segundo semestre.

Um provável problema de suprimento à vista, a partir de 2009, refere-se a chapas grossas, material usado na construção civil, gasodutos, máquinas e implementos e tubos para gasodutos. A oferta interna e o consumo do país devem se cruzar em 2009, acima de 2 milhões de toneladas.