Título: Cargo de segundo escalão, salário de primeiro time
Autor: Pariz, Tiago
Fonte: Correio Braziliense, 19/02/2011, Política, p. 5

Aliados não reeleitos terão vencimentos astronômicos com a soma das aposentadorias ao valor recebido nas novas funções

A indicação de políticos derrotados nas urnas e aposentados de seus mandatos para cargos de destaque em empresas estatais vai criar uma nova classe de supersalários no funcionalismo público de Brasília. Futuros ocupantes de cargos de destaque em bancos públicos desfrutarão de benefícios astronômicos. Dois casos chamam atenção dentro da Caixa Econômica Federal (CEF): o do ex-deputado Geddel Vieira Lima (PMDB-BA) e o do ex-governador da Paraíba José Maranhão (PMDB). Estão em jogo duas vice-presidências. A de Crédito à Pessoa Jurídica deverá ficar nas mãos do político baiano, enquanto a de Loterias tem o paraibano como nome mais cotado.

Se a presidente Dilma Rousseff confirmar a indicação de ambos, cada um receberá um salário de R$ 28,75 mil na CEF mais participação nos lucros e resultados do banco. Esse vencimento se somará à aposentadoria que ambos recebem por tempo de contribuição como parlamentar e como governador.

Geddel entrou em fevereiro na lista inativa da Câmara, de acordo com medida publicada no Diário Oficial da União de ontem, e receberá um benefício mensal pouco superior a R$ 6,9 mil. Somados os dois subsídios, o ex-deputado terá à disposição R$ 35,65 mil mensais.

José Maranhão recebe dos cofres públicos paraibanos uma pensão de R$ 18,3 mil desde que administrou o estado pela primeira vez, entre 1995 e 2002. Com o salário que terá da Caixa, o peemedebista desfrutará de R$ 47,05 mil todo mês. Em 2007, o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu acabar com pensões vitalícias de ex-governadores quando cassou o benefício do ex-governador de Mato Grosso do Sul Orcírio dos Santos, o Zeca do PT. O entendimento majoritário foi que o pagamento criava uma regalia contrária ao princípio da moralidade. No caso de Geddel, ele tem direito à aposentadoria por ter contribuído mensalmente com o Plano de Seguridade Social dos Congressistas, com cerca de R$ 2,9 mil mensais.

Deputados e senadores tiveram aumento recente em seus salários e passaram a receber R$ 26,7 mil mensais, o mesmo valor pago à presidente Dilma e aos ministros do Supremo ¿ teto do funcionalismo público. O caso dos supersalários de Geddel e de José Maranhão não entra na conta desse limite devido ao cargo de direção da Caixa estar fora do alcance da legislação. Por exemplo, a Presidência do banco estatal tem uma remuneração mensal de R$ 31.628.

Geddel disputou o governo baiano na última eleição e saiu derrotado, interrompendo cinco mandatos seguidos desde 1991. Ele será recompensado com o cargo na Caixa depois de ter sido cotado para a Presidência da Embratur. Chegou-se a especular até a Companhia Brasileira de Trens Urbanos. Já Maranhão tentou a reeleição para o governo na Paraíba, mas foi derrotado por Ricardo Coutinho (PSB). A indicação de ambos na Caixa deve sair na próxima semana, depois da votação do salário mínimo no Senado, marcada para quarta-feira.