Título: Oposição vai pelas beiradas
Autor: Iunes, Ivan
Fonte: Correio Braziliense, 19/02/2011, Política, p. 6

DEM e PSDB focam nas disputas municipais para chegarem com força na sucessão de Dilma

O acordo de paz selado internamente pelo DEM deu início ao projeto alardeado pela oposição desde as eleições nacionais de 2010: definir agora as principais ações para o pleito presidencial de 2014. A avaliação feita pelos caciques é de que a demora na escolha do candidato tucano à Presidência da República acabou por atrasar o processo necessário de construção da imagem de José Serra. Agora, DEM e PSDB pretendem fechar questão até o segundo semestre, pelo menos nos bastidores, em torno de um nome para o Palácio do Planalto. Passa pela estratégia o retorno pelas eleições municipais de alguns personagens eleitoralmente fortes dos dois partidos, mas que ficaram sem mandato em outubro. A maioria deve coordenar as eleições em seus estados, mas, em alguns casos, a disputa pelas prefeituras não está descartada.

Depois de vencer a disputa interna com o grupo comandado por Jorge Bornhausen, a parcela do DEM ligada ao atual presidente Rodrigo Maia começa a trabalhar com as composições municipais. O futuro presidente da legenda, o senador Agripino Maia (DEM-RN), comandará o processo de reorganização do partido pelos municípios. A ideia é tentar renovar os quadros nas cidades e utilizar nomes de grande capital eleitoral, como o ex-senador Heráclito Fortes (DEM-PI), a fim de tentar conquistar prefeituras importantes ou ao menos pavimentar nomes em ascensão da legenda. Como o partido avalia que não há tempo para trabalhar com sucesso um nome para 2014, a tendência é de que a sigla feche com o nome escolhido pelos tucanos para a eleição ¿ a preferência declarada é pelo senador Aécio Neves (PSDB-MG).

As movimentações a fim de emplacar os nomes das eleições municipais, no entanto, já começaram. DEM e PSDB pretendem direcionar esforços aos parlamentares eleitos pelo sistema proporcional, no caso deputados, por estarem em exposição constante na mídia. Os tucanos devem trabalhar para lançar os deputados Rogério Marinho na Prefeitura de Natal, Bruno Araújo em Recife, Nelson Marquezan em Porto Alegre, Otávio Leite no Rio de Janeiro e Rita Camata em Vitória. O senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP) é cotado para substituir Gilberto Kassab (DEM) em São Paulo. Derrotados nas eleições de outubro, Tasso Jereissati e Arthur Virgílio receberão a incumbência de organizar os pleitos no Ceará e no Amazonas, respectivamente.

Pelo DEM, o partido ainda estuda onde alocar José Carlos Aleluia (DEM-BA) e Héraclito Fortes (DEM-PI) ¿ derrotados no ano passado. Candidato a vice de Serra, o ex-deputado federal Índio da Costa (DEM-RJ) estuda tentar a Prefeitura do Rio de Janeiro, mas terá de buscar um acordo com o tucano Otávio Leite. O mesmo quadro se repete em Salvador, em que Aleluia disputa com o tucano Antônio Imbassahy. Para a administração de Recife, o deputado federal Mendonça Filho (DEM-PE) também tenta consolidar o seu nome, mas terá Araújo pela frente. ¿Onde houver emissoras de televisão, nosso investimento será forte, porque as eleições nas grandes cidades impactam nas menores¿, explica o líder do DEM na Câmara, Antônio Carlos Magalhães Neto (BA).

Peso da herança Reduzido a 46 deputados federais e cinco senadores, até o ano passado eram 62 e 14, o DEM atribui à oposição sistemática ao governo Lula e ao caso do mensalão no governo do DF o desempenho nas urnas. ¿O grave problema envolvendo o único governador que o partido tinha, José Roberto Arruda, imobilizou o jogo do Democratas na pré-campanha de 2010¿, diz o líder Antônio Carlos Magalhães Neto (BA).