Título: Ruralistas querem mais benefícios
Autor: Zanatta , Mauro
Fonte: Valor Econômico, 16/05/2008, Agronegócios, p. B11

Os produtores rurais querem aproveitar o momento de preocupação do governo com o impacto dos preços dos alimentos nos índices de inflação e o cenário de forte demanda mundial por comida para ampliar os benefícios oficiais ao setor.

Uma proposta conjunta da Confederação da Agricultura e Pecuária (CNA) e das Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB) pede a destinação de R$ 110 bilhões em crédito para custeio, comercialização e investimento no setor ao longo do ano-safra 2008/2009, que começa em 1º de julho. Também solicita redução, de 6,75% para 5%, nos juros subsidiados e a alocação de R$ 400 milhões para a subvenção ao seguro rural, que teria a elevação dos limites cobertos pelas apólices. Nesse caso, estariam embutidos bônus de 15% por pagamento em dia. Mas preconiza o fim da vinculação da concessão do crédito à adesão ao seguro, política iniciada há duas safras pelo Banco do Brasil.

Os produtores querem, ainda, a elevação de 25% para 30% da parcela de aplicação obrigatória dos depósitos à vista dos bancos no setor rural (exigibilidades bancárias), além do aumento da fatia de recursos a juros subsidiados para reduzir o juro médio pago nas operações de crédito rural.

O Plano de Safra deve ser anunciado na segunda quinzena de junho, mas os produtores sabem que será difícil arrancar do governo uma redução nos juros do crédito rural devido à tendência macroeconômica de combater a elevação da inflação com um aperto na política monetária. "Mas esperamos aumentar de forma considerável os recursos ao crédito", diz o deputado Homero Pereira (PR-MT), vice-presidente da CNA. A sugestão esbarra na forte redução dos depósitos à vista provocada pela alta nos juros, o que diminui os recursos obrigatórios para o setor. Os produtores querem, aliás, tirar do Banco do Brasil o monopólio das operações com recursos da chamada poupança rural, parcela de 65% desse depósitos que devem ser aplicados no setor.

A proposta conjunta CNA-OCB prevê uma elevação geral nos limites de crédito e adicionais de crédito de 15% para o crédito em caso de adoção de plantio direto nas fazendas, rastreamento do gado, operações com seguro de proteção de preços (hedge) e modelo de integração lavoura-pecuária, que pode reduzir as áreas de pastagem degradada e melhorar a relação cabeça de gado por hectare. Também seriam beneficiados com crédito extra os produtores de feijão, arroz, milho e trigo.

Para acompanhar o ritmo das encomendas de novas máquinas, os produtores sugerem ao governo a redução dos spreads bancários e da taxa flat cobrada pelo BNDES nos empréstimos vinculados aos programas de investimento. Além disso, querem aumentar o orçamento e os limites de financiamento das linhas.

O setor rural busca, ainda, um reajuste geral dos preços mínimos e a polêmica recriação da Comissão para a Compra do Trigo Nacional (Cetrin), extinta em 1990, que fixava os preços e direciona a produção brasileira. É uma medida radical de intervenção no mercado de trigo, cujo abastecimento depende em 70% das importações. A proposta CNA-OCB também prevê outra polêmica: a criação de uma linha de crédito para os confinamentos de gado, combatidos em certa medida por pecuaristas por significar excessiva verticalização da produção.