Título: Fundos de private equity ignoram a crise e captam US$ 25 bilhões
Autor: Júnior , Altamiro Silva
Fonte: Valor Econômico, 16/05/2008, Finanças, p. C1

A crise no mercado imobiliário americano teve impacto reduzido nos fundos de private equity (carteiras que compram participações em empresas) dedicados a países emergentes. No auge da crise, entre os meses de fevereiro e abril, estas carteiras captaram no mercado nada menos que US$ 25 bilhões, quase a metade do levantado em todo o ano passado, quando o setor captou o recorde de US$ 59 bilhões.

Apesar das turbulências do mercado, os principais aplicadores destes fundos - seguradoras, fundos de pensão, gestores de fortunas e grandes gestoras de recursos - planejam aumentar os aportes nos private equities. Uma pesquisa feita com estes investidores nos meses mais agudos da crise das hipotecas mostra que 74% deles pretendem ampliar os investimentos em fundos dedicados a Brasil, Rússia, Índia e China (que formam a sigla Bric) e em outros mercados emergentes, como África do Sul e México nos próximos três a cinco anos.

Nenhum investidor ouvido na pesquisa pretende reduzir os aportes e 19% pretendem manter os recursos atuais. Os números fazem parte de um levantamento recém-concluído da Empea (a associação dos fundos de private equity dedicados a mercados emergentes, com sede em Washington) e que ouviu 81 investidores institucionais. Os dados serão divulgados nesta sexta-feira e marcam o início da 10ª Conferência Anual Global dos Fundos de Private Equity, na capital dos EUA.

A principal razão apontada pelos investidores para justificar o interesse nestes países é o alto retorno que oferecem, aliado a um risco em baixa. A rentabilidade líquida esperada está em 23%, em dólar, ao ano - sete pontos acima das aplicações semelhantes feitas nos Estados Unidos. Os investidores alegam ainda a melhora da governança corporativa, a profissionalização dos gestores e a relativa estabilidade econômica e política destes países, além da oportunidade de diversificação do patrimônio.

O principal impacto da crise do subprime nos fundos de private equity foi o fim das operações alavancadas, nas quais o fundo usava crédito bancário para ampliar o tamanho da operação. Sarah Alexander, presidente da Empea, lembra que estas operações, muito comuns nos EUA, ainda engatinhavam nos países emergentes, com algumas grandes operações isoladas.

No Brasil, uma das maiores foi a compra da Magnesita por um fundo da GP Investimentos no ano passado por R$ 1,2 bilhão. Com o fim das operações alavancadas, a gestora Blackstone registrou prejuízos. Ainda nos EUA, uma divisão da gestora Carlyle de títulos hipotecários faliu em meio à crise.

Segundo o estudo da Empea, um dos indicadores do crescente interesse pelos Bric é que as taxas de administração dos fundos dedicados à região vêm caindo. Antes muito mais altas que as das carteiras voltadas para EUA e Europa, elas chegaram a praticamente o mesmo nível. Em média estão em 1,95%, frente a 1,80% dos fundos europeus e americanos.

O mercado preferido, de longe, ainda é a China, com 43%. A Índia vem em seguida, com 30%, e o Brasil em terceiro (11%), seguido pela Rússia (7%). Dos investidores pesquisados, 41% dizem estar "observando" o mercado brasileiro. Entre as principais dificuldades para investir nestes mercados estão a insuficiência de profissionais, falta de dados setoriais e riscos políticos.

Para os especialistas, a promoção do Brasil a grau de investimento deve trazer ainda mais recursos para o país. Várias gestoras estrangeiras abriram escritórios recentemente por aqui, já se preparando para este cenário. Entre elas, estão Carlyle (a maior do mundo), Cartesian, Actis, Permira e Apax, das quais as três últimas são grandes gestoras européias.

Entre as carteiras brasileiras com planos de captar recursos, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) já aprovou este ano a criação de 32 fundos, que podem levantar R$ 8,4 bilhões. A CVM analisa ainda mais oito carteiras, com patrimônio de R$ 1,9 bilhão. Muitos destes recursos devem vir de investidores estrangeiros.