Título: Investimento continua forte no 1º trimestre
Autor: Lamucci , Sergio
Fonte: Valor Econômico, 20/05/2008, Brasil, p. A3
O investimento continuou firme no primeiro trimestre, espelhando o forte crescimento do consumo de máquinas e equipamentos e da produção de insumos típicos para a construção civil. As previsões dos analistas apontam para uma expansão na casa de até 18,5% na comparação com o mesmo período do ano passado.
Para 2008, a aposta é de que a formação bruta de capital fixo (FBCF, que mede o que se investe na construção civil e em máquinas e equipamentos) crescerá entre 11% e 14%, mesmo num cenário marcado pela alta dos juros. Os números da FBCF mostram que as empresas brasileiras continuam a investir na ampliação e modernização da capacidade produtiva, o que é importante para mitigar os riscos inflacionários, ainda que por si só não os eliminem, como dizem os analistas do Bradesco.
As estimativas para a expansão do investimento feitas pelo Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos do Bradesco são bastante positivas. Para o consumo aparente de máquinas e equipamentos (soma da produção e da importação, com a exclusão da exportação), os analistas do Bradesco apostam numa alta de 21,8% de janeiro a março, crescimento até um pouco superior aos 21,6% registrados no quarto trimestre de 2007.
Com o câmbio valorizado, as empresas continuam a aproveitar o barateamento dos bens de capital para importar máquinas, destaca o economista Fernando Rocha, da JGP Gestão de Recursos. No primeiro trimestre, as compras externas desses bens aumentaram 34%, pouco abaixo dos 35,7% dos últimos três meses do ano passado.
A produção de bens de capital, por sua vez, cresceu 17,1%, abaixo dos 24% do quarto trimestre de 2007. "É uma desaceleração normal, porque a base de comparação começa a ser maior", dizem os analistas do Bradesco. Mesmo com uma produção mais fraca, o consumo aparente de máquinas e equipamentos seguiu firme porque, além do aumento robusto das importações, houve uma desaceleração significativa do ritmo das exportações. Como lembra o departamento econômico do banco, as vendas externas entram com sinal negativo no cômputo do indicador. As compras externas subiram 6,8% no primeiro trimestre, bem menos que os 17,2% dos três últimos meses do ano passado.
O desempenho da construção civil também continua positivo, registrando uma aceleração significativa neste ano. No primeiro trimestre, a produção de insumos para a construção cresceu 9,7% em relação ao mesmo período do ano passado, mais que os 7,3% do quarto trimestre de 2007. O mercado imobiliário vive um boom no Brasil, num cenário que combina financiamentos de prazos mais longos, regras que dão mais segurança para os bancos emprestarem, aumento do emprego e da renda e maior confiança do consumidor. Além desse bom momento na construção residencial, os analistas do Bradesco acreditam que há um impacto também das obras de infra-estrutura, num momento em que o governo tenta fazer deslanchar o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
Nesse quadro, o Bradesco estima que, no primeiro trimestre, a FBCF tenha crescido 18,5% sobre os primeiros três meses de 2007. "Se confirmada, será a maior expansão nessa base de comparação desde o segundo trimestre de 1995", dizem os analistas do banco, que projetam ainda uma alta de 3,8% em relação ao quarto trimestre do ano passado, na série livre de influências sazonais. Rocha, por sua vez, prevê um crescimento de 16% para a FBCF na comparação com igual período de 2007, e de 2,5% com o trimestre imediatamente anterior.
As projeções para a alta do investimento no ano apontam para mais um crescimento superior a dois dígitos - em 2007, a expansão foi de 13,4% e em 2006, de 10%. Para o consultor de análise econômica do Itaú, Joel Bogdanski, a consolidação da estabilidade macroeconômica, com a percepção de que a economia deve crescer a taxas médias mais elevadas, e com menos volatilidade, tudo isso com inflação sob controle, induz os empresários a continuar investindo num ritmo forte. A economista Thaís Marzola Zara, da Rosenberg & Associados, lembra que a capacidade instalada em níveis elevados também estimula as empresas a investir, ainda mais associada a um quadro de demanda forte.
Ela ressalta também a promoção do país ao grau de investimento, o que deve facilitar a obtenção de recursos no exterior a um custo mais baixo. O volume expressivo de investimentos estrangeiros diretos recebidos pelo país - foram US$ 34,6 bilhões em 2007 e podem ser US$ 38 bilhões neste ano, segundo Thaís - é outro fator que ajuda a manter elevado o ritmo da FBCF. Ela espera uma alta de 11,3% do investimento no ano, considerando normal alguma desaceleração em relação a 2007, uma vez que a base de comparação é elevada. O Bradesco aposta em alta de 12%.
Uma dúvida é saber como será a reação do investimento à alta dos juros. Para os analistas ouvidos pelo Valor, o impacto não será muito relevante, até porque não se espera um aperto monetário muito severo. "O investimento é feito com horizontes mais longos. Como a perspectiva de longo prazo da economia brasileira é de continuidade do crescimento com estabilidade de preços, faz sentido para os empresários se preparem para atender a uma demanda que deve ser crescente", diz Bogdanski, que espera, pelo menos por enquanto, uma Selic de 13,75% ao ano em dezembro - depois da alta de 0,5 ponto percentual do mês passado, a taxa atingiu os atuais 11,75%.
Em levantamento com 1.600 empresas, o departamento econômico do Bradesco questionou os empresários sobre qual seria o impacto sobre as decisões de investimento das elevações da Selic. Para 50,3% dos entrevistados em abril, uma alta de 2 pontos percentuais da Selic não afetaria os investimentos programados para 2008, enquanto 22,3% fariam um leve ajuste no planejamento. Outros 19,3% prevêem uma queda moderada e 8,3% dizem que haveria um recuo acentuado.
O Bradesco prevê que a Selic terminará o ano em 13,5%, o que significaria um aperto monetário total de 2,25 pontos. Há quem veja, porém, uma elevação mais forte dos juros, como Thaís, que vê a Selic em 14% em dezembro, e como Rocha, que aposta em 14,25%.
O economista da JGP acredita que a alta dos juros impactará o investimento especialmente em 2009. Ele espera um crescimento de 14% neste ano - mais alto que os 13,4% de 2007 -, mas prevê uma desaceleração para 9% no ano que vem. A importação de bens de capital, que tem sido fundamental para puxar a FBCF para cima, tem forte correlação com a atividade econômica, lembra Rocha. Como esta deve perder força no ano que vem, devido ao impacto defasado da alta dos juros, as compras externas de máquinas e equipamentos também tendem a crescer a um ritmo mais fraco, afirma ele, que projeta uma expansão de 5% do PIB em 2008 e de 4% em 2009. Rocha diz, porém, que uma expansão do investimento de 9%, ainda mais após três anos de forte alta, está longe de ser um mau resultado.