Título: Obama deve insinuar vitória nas primárias após votações de hoje
Autor: Balthazar , Ricardo
Fonte: Valor Econômico, 20/05/2008, Internacional, p. A11

O senador Barack Obama está a um passo de vencer a disputa pela liderança do Partido Democrata na corrida presidencial americana, mas a última coisa que ele parece disposto a fazer é cantar vitória antes de cruzar a linha de chegada, um movimento que provocaria a fúria dos aliados da ex-primeira-dama Hillary Clinton num momento delicado da batalha partidária.

Obama está perto de assegurar o apoio de mais da metade dos delegados eleitos para a convenção nacional que indicará em agosto o candidato dos democratas à Casa Branca. Mas isso não basta para liquidar a disputa. Ele ainda precisa convencer um punhado de lideranças partidárias que continuam em cima do muro a esquecer Hillary e aderir à sua caravana.

Obama e Hillary se enfrentarão novamente nas urnas hoje, quando os democratas realizarão prévias estaduais em Kentucky e Oregon. Os dois Estados são pequenos e pode ser que o resultado não seja suficiente para precipitar o fim do duelo. As pesquisas mais recentes dizem que Obama está na frente em Oregon e prevêem que Hillary ganhará com folga em Kentucky.

De acordo com projeções da agência de notícias Associated Press, Obama já garantiu o apoio de 1.910 dos 2.025 delegados necessários para ter a maioria na convenção, e Hillary tem 1.721 ao seu lado. Os 125 delegados em jogo hoje em Oregon e Kentucky serão divididos proporcionalmente, conforme a votação obtida pelos candidatos.

Os democratas realizarão mais três prévias até a primeira semana de junho, quando se encerrará a etapa preliminar da campanha presidencial. Mas na prática a opinião dos eleitores que ainda não votaram perdeu muita importância. A definição agora depende dos chamados superdelegados, líderes partidários que têm direito a voto na convenção e poderão ignorar a vontade popular se preferirem.

Mesmo que o resultado de hoje seja insuficiente para fechar a conta, ele poderá ajudar Obama de várias maneiras, deixando mais claro que sua vantagem sobre Hillary tornou-se insuperável e persuadindo um maior número de superdelegados de que chegou a hora de abraçá-lo. Dos 796 superdelegados que terão direito a voto em agosto, mais de 200 ainda não se definiram.

Para Obama, o melhor seria que a agonia acabasse logo. Mas Hillary já deixou claro que fará tudo que puder para prolongá-la. Mesmo que suas chances de ganhar a candidatura tenham se tornado desprezíveis, levar a disputa até que o último voto seja contado pode ajudar a fortalecer Hillary e o marido, o ex-presidente Bill Clinton, na hora de discutir os termos da rendição.

A maioria dos analistas acha muito difícil que Hillary entre na chapa de Obama como candidata a vice-presidente depois de tudo o que um disse do outro na campanha. Mas muitos observadores acreditam que ela está interessada em obter ajuda para pagar as dívidas que acumulou na campanha, estimadas em mais de US$ 20 milhões, e um bom tratamento para seus amigos na máquina partidária.

Nos últimos dias, os assessores de Obama alimentaram grande expectativa em torno de um discurso que ele fará hoje à noite em Iowa, o Estado em que Obama colheu sua primeira vitória no início da maratona eleitoral, em janeiro. Mas é improvável que ele use a oportunidade para proclamar seu triunfo sobre Hillary, o que poderia contrariar os eleitores da ex-primeira-dama e riscar a imagem de bom-moço que Obama cultiva.

Como a própria Hillary lembrou ontem, uma declaração precipitada agora seria um erro. "Isto não está nem perto de terminar", disse a ex-primeira-dama num comício. Hillary voltou a dizer que tem melhores condições do que Obama de vencer o candidato do Partido Republicano, o senador John McCain, na eleição de novembro, porque nas prévias partidárias ela saiu-se melhor nos Estados maiores.

Uma vitória hoje também ajudaria Hillary a ganhar tempo até que a direção do partido decida o que fazer com as delegações de Michigan e da Flórida, que apóiam sua candidatura mas perderam o direito de participar da convenção. Os dois Estados ignoraram o calendário estabelecido pela cúpula partidária ao realizar suas primárias, foram punidos e terão seu caso rediscutido numa reunião no dia 31.

Hillary venceu as prévias nos dois Estados, mas ninguém acha que valeu. Por causa da confusão com a direção do partido, nenhum candidato fez campanha nesses lugares e Obama chegou a tirar o nome da cédula em Michigan. Mas se os votos dos dois Estados forem computados ela poderá dizer que foi mais votada que o rival nas primárias. Dificilmente a solução do problema irá tirar a vitória de Obama, mas um acordo tornaria a derrota menos amarga para Hillary.