Título: Jirau terá energia mais barata que Santo Antônio
Autor: Capela , Maurício
Fonte: Valor Econômico, 20/05/2008, Empresas, p. B6

O deságio praticado no leilão da segunda hidrelétrica do rio Madeira, Jirau, transformou o empreendimento no mais barato da região amazônica. Se na venda da primeira usina, a de Santo Antônio, o lance vencedor foi 35% menor em relação ao preço-teto de R$ 122 por megawatt hora (MWh), em Jirau o desconto aproximou-se dos 22% em comparação aos R$ 91 por MWh definido como valor máximo. Mas para a esmagadora parcela do setor de energia no Brasil, a pergunta que fica é como um projeto considerado menos atraente foi vendido a um preço tão baixo?

Além de ficar no meio da floresta amazônica e distante 130 quilômetros da capital de Rondônia, Porto Velho, a hidrelétrica de Jirau entrega efetivamente 1,975 mil megawatts (MW). Número menor que os cerca de 2,2 mil MW da primeira usina do Madeira. Isso, sem contar que Santo Antônio está a cinco quilômetros de Porto Velho.

Portanto, é pela combinação de entrega menor de energia e distância maior da capital de Rondônia que Jirau tem sido considerado um projeto com maior grau de dificuldade em relação à usina de Santo Antônio. A título de comparação, o Valor Data aplicou a inflação acumulada entre janeiro e abril deste ano, segundo o índice IPCA, nos R$ 78,87 por MWh que o consórcio Odebrecht e Furnas ofereceu por Santo Antônio. E o resultado foi que, sob esta perspectiva, ainda assim cada MWh de Jirau ficou R$ 9,14 mais barato que o da primeira usina do Madeira.

Ontem, o consórcio liderado pela franco-belga Suez e pela construtora brasileira Camargo Corrêa surpreendeu a todos do setor ao oferecer um lance de R$ 71,37 por MWh para ficar com Jirau. E o sentimento entre os agentes do setor foi o mesmo visto em dezembro do ano passado, quando o consórcio liderado por Odebrecht e Furnas propôs um lance 35% menor.

"Não há tecnologia no mundo ou antecipação da entrega de energia que possa explicar um preço tão baixo", afirma o economista Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infra-Estrutura (CBIE). "Energia a este preço é um sinal equivocado que o governo federal dá ao setor no país, porque esta tarifa não remunera, principalmente porque nela há o valor que deverá ser pago para as linhas de transmissão do Madeira", completa Pires.