Título: Foco está na inovação, diz Coutinho
Autor: Neumann , Denise
Fonte: Valor Econômico, 19/05/2008, Brasil, p. A4

Luciano Coutinho: "A inovação é fundamental, não estamos mirando apenas o aumento da formação bruta de capital fixo" O presidente do BNDES, Luciano Coutinho, tem pela frente o desafio de arrumar R$ 320 bilhões para que o banco possa cumprir, até 2010 os compromissos assumidos como um dos principais financiadores dos dois grandes programas de desenvolvimento do atual governo - o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), focado em infra-estrutura, e o recém-lançado Programa de Desenvolvimento Produtivo (PDP), a política industrial do segundo mandato de Luiz Inácio Lula da Silva.

O volume de recursos representa dobrar os desembolsos do banco em relação ao volume emprestado no triênio anterior (2005-2007), que somou R$ 165 bilhões. Dentro dos R$ 320 bilhões, os R$ 80 bilhões destinados a 2008 já estão quase totalmente equacionados entre os recursos tradicionais do Fundo de Amparo do Trabalhador (FAT), empréstimos com o Tesouro Nacional, apoio de organismos multilaterais e, talvez, a retenção de uma parte do lucro de R$ 7,3 bilhões do ano passado.

Para compor o funding dos próximos anos, Coutinho conta com o apoio do Ministério da Fazenda (ele faz questão de ressaltar o apoio que tem recebido do ministro Guido Mantega) e pretende ampliar as captações externas e as cooperações e empréstimos com organismos multilaterais (Banco Mundial, Banco Interamericano de Desenvolvimento, Cooperação Andina de Fomento etc). "Teremos uma composição de recursos mais diversificada que a atual", diz ele, reconhecendo que proporcionalmente a participação do FAT no total tende a diminuir.

Mesmo considerando o volume expressivo de recursos que o banco precisa dispor, Coutinho lembra que essa é uma fração do esforço que está sendo feito para elevar a taxa de investimento do país para 21% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2010. Se as metas forem alcançadas, o país terá investido em máquinas, equipamentos, estradas, portos, edificações etc um total de R$ 1,7 trilhão na soma de 2008 a 2010. A participação do banco, portanto, seria um pouco inferior a 20%.

"Existem outras fontes de suporte para que as taxas de poupança e investimento cresçam", diz o presidente do BNDES. Ele cita o reinvestimento dos lucros do setor privado, o mercado de capitais em crescente e acelerada expansão, as captações externas do setor privado e o próprio setor bancário não-estatal.

Apesar do volume expressivo de recursos mobilizados diretamente pelo banco e dos recursos privados que os formuladores do Programa de Desenvolvimento Produtivo esperam desencadear, Coutinho avalia que as políticas de inovação são o grande diferencial desta nova política. "Na primeira, as linhas eram focadas em determinados setores, agora elas são para qualquer empresa", diz ele.

Por isso, argumenta, desta vez o país conseguirá, de fato, elevar o percentual do PIB que é investido em atividades de pesquisa e desenvolvimento (P&D) e que há anos estacionou em 0,5% do produto. A meta da política industrial é chegar, em 2010, a um volume anual de dispêndios nesses programas de R$ 18,2 bilhões. "Quando uma empresa chegar ao banco para apresentar um projeto, vamos questioná-la se ele traz inovação. Se a a resposta for positiva, ela será informada que temos uma linha especial para ela", explica Coutinho. Essa linha terá juros de 4,5% ao ano, taxa antes destinada apenas aos programa para fármacos e de software. O próprio BNDES, diz ele, vai participar como acionista (injetando capital de risco) em empresas inovadoras. Para subvenção (fundo perdido), o banco triplicou seus recursos anuais.

"A inovação é fundamental, não estamos mirando apenas o aumento da formação bruta de capital fixo. Queremos que isso seja feito com forte componente inovador, para elevar a produtividade da economia e não apenas a oferta", argumenta Coutinho. Com produtividade, diz, os salários podem aumentar sem pressionar os custos industriais e, em conseqüência, sem pressionar a inflação.

Em 2004, quando o governo lançou sua primeira política industrial, Luciano Coutinho estava "fora" do setor público, mas mesmo assim ajudou a defender a idéia de que o país precisava de uma política indutora do investimento privado, que o setor público deveria ter um papel ativo no desenvolvimento econômico e que não fazia sentido deixar todas estas decisões para o "mercado".

Como presidente do BNDES, Coutinho assumiu um papel ativo na formulação desta segunda política industrial, ainda recebida com críticas. Ele lista três tipos de críticas ao programa: uma ideológica, de quem é contra; outra de fundo macroeconômico, que não é contrária à política industrial, mas não a enxerga como capaz de fazer efeito diante das atuais taxas de juro e câmbio; e uma terceira, mais focada na sua implementação.

Ele só se preocupa com as duas delas. Na sua avaliação, o cenário macroeconômico de 2008 (quanto a juros e câmbio) não vai perdurar até 2010. Coutinho acredita que a contração do déficit externo americano vai fazer com que, em alguns meses, o dólar volte a recuperar parte do valor perdido - ele calcula que a moeda americana esteja depreciada entre 20% e 25% em relação ao euro. "Uma das razões da apreciação do real é global e em parte isso será revertido", diz.

Quanto a crítica da implementação, Coutinho diz que o "tamanho do desafio" está claro para todos os envolvidos na condução do programa. Ele lembra que haverá uma secretaria-executiva para acompanhar a implementação das medidas e diz que o próprio banco está criando uma secretaria especial de apoio ao programa. "O Ministério do Desenvolvimento já começou a fazer reuniões com os setores envolvidos", argumenta.