Título: Braskem estuda complexo no Peru com a Petrobras
Autor: Ribeiro, Ivo; Schuffner, Cláudia
Fonte: Valor Econômico, 19/05/2008, Empresas, p. B1

A Braskem, maior petroquímica da América Latina, dá mais um passo em sua estratégia de expansão e internacionalização para se consolidar entre as maiores do setor no mundo. A empresa firmou no sábado, no Peru, memorando de entendimentos com PetroPeru e Petrobras para estudar a implantação de um complexo petroquímico integrado à base de gás no país. É o segundo movimento da Braskem na região. O primeiro foi na Venezuela, onde desenvolve em estágio adiantando dois projetos de resinas com a Pequiven.

José Carlos Grubisich, presidente da Braskem, disse ao Valor que um projeto no Peru, que detém ricas reservas de gás de alto teor, significa ter acesso a matérias-primas competitivas na petroquímica, caso do gás, e a um mercado de resinas importante na costa oeste das Américas - supre o Peru e Chile, Equador, Colômbia e Estados Unidos via Pacífico. Além disso, pode atingir a China, a Coréia e o Sudeste asiático.

O executivo explicou que o investimento pode variar entre US$ 1,5 bilhão e US$ 2,5 bilhões, dependendo da escala do projeto, preliminarmente desenhada de 800 mil a 1,2 milhão de toneladas da resina plástica polietileno. Se tudo ocorrer dentro do previsto, a petroquímica entra em operação em 2014. "Na próxima semana equipes das três empresas começam a constituir grupos de trabalho para dar andamento aos estudos e, no prazo de um mês, um grupo técnico da PetroPeru virá ao Brasil para visitar fábricas e centros de tecnologia da Braskem." Grubisich voou no sábado para Lima, capital peruana, para firmar o acordo que vinha sendo costurado há seis meses.

"O Peru, com grau de investimento, amplas reservas de gás e obras de logística e infra-estrutura, reúne condições favoráveis para se montar esse empreendimento, o de maior escala da costa do Pacífico", afirmou o executivo. Ele lembrou que a experiência acumulada nos projetos da Venezuela durante os últimos dois anos será ponto chave para acelerar os estudos no Peru. "Vamos combinar nesse projeto escala mundial, tecnologia atualizada e matéria-prima competitiva, o que nos permitirá concorrer com empresas do Oriente Médio."

Contribuíram para essa parceria as atividades da Petrobras no Peru em pesquisas e exploração de petróleo e gás natural. Essa aposta cresceu neste ano no país, onde produz 15 mil barris por dia de óleo e tem vários investimentos em andamento. São dez blocos exploratórios. Recentemente, a estatal brasileira anunciou uma participação de 35,15% de gás e condensados no campo Kinteroni, operado pela Repsol (41%) e a Burlington Resources Peru (23,85%). As reservas de Kinteroni foram estimadas em 2 trilhões de pés cúbicos (TCFs ). Ele está dentro do bloco exploratório 51, próximo a Cuzco e ao norte do campo de Camisea, descoberto na década passada pela Shell.

A análise de uma unidade petroquímica no Peru, com participação da estatal brasileira não é nova. Em 2006, durante a visita do presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli, ao país, foram assinados vários acordos para estudos de viabilidade econômica de projetos de exploração e produção de gás natural, biocombustíveis, refino e petroquímca, bem como possíveis associações com a estatal PetroPeru e com a Perupetro, agência reguladora do setor.

Esse acordo no Peru, explica Grubisich, se insere nos três eixos estratégicos da companhia: consolidação no Brasil, com incorporação das participações da Petrobras em vários empreendimentos (Copesul, Ipiranga e Paulínia); desenvolvimento de novas fontes de matérias-primas no Brasil, como o etanol (um projeto de 200 mil toneladas de polietileno a partir de álcool até 2010); e internacionalização com acesso a matérias-primas competitivas. Na Venezuela, os dois projetos prevêem 450 mil toneladas de polipropileno em 2010 e 1,2 milhão de polietileno em 2012. O investimento é de US$ 3,5 bilhões, sendo 70% na forma de "project finance". "Em cinco anos, a empresa vai aportar US$ 550 milhões."

Com produção de 3,1 milhão de toneladas e receita líquida de R$ 18,7 bilhões no ano passado, a Braskem projeta chegar a 5,7 milhões de toneladas de resinas termoplásticas (PE, PP e PVC) em 2012. E cada vez mais reduzindo a dependência da fonte nafta, com ampliação de gás e outras, como o etanol, mais competitivas.