Título: Companhias ampliam produção de dispositivos
Autor: Romero, Cristiano
Fonte: Valor Econômico, 19/05/2008, Tecnologia & Telecomunicações, p. B3

A boa fase do mercado de PCs tem puxado as operações de boa parte dos fabricantes de placas-mãe, um dos principais componentes usados na produção de computadores. A brasileira Digitron, fundada há 22 anos pelo executivo Sung Un Song, faturou R$ 360 milhões em 2007. Se a demanda continuar no mesmo ritmo a companhia deverá crescer 35% neste ano, atingindo cerca de R$ 480 milhões.

Na fábrica em Manaus, diz Song, as linhas de produção não têm descanso. Ao todo, 1.350 funcionários se revezam em três turnos, ritmo forte para atender o mercado e compensar o investimento nas máquinas, que segundo o executivo duram apenas de três a quatro anos e precisam estar em constante renovação.

Na taiwanesa MSI Computer, a meta para o início deste ano era produzir 50 mil placas de PCs por mês para revendas especializadas, mas o volume já chega a 80 mil componentes. Para grandes fabricantes de computadores, a demanda atinge 200 mil peças por mês. "O mercado continua respondendo bem", diz Marcelo Martins, diretor comercial da MSI no Brasil, mas a expectativa é que as encomendas cresçam ainda mais no segundo semestre.

No fim de 2006, a MSI decidiu montar uma fábrica no Brasil. O plano era erguer uma base na região Sudeste no prazo de um ano. Mas o negócio não saiu do papel porque, segundo Martins, o mercado não apresentava demanda suficiente. A MSI, embora tenha escritório no país, não possui fábrica própria. Ela importa os componentes, que são montados no Brasil por um parceiro local. Em agosto do ano passado, depois de encerrar contrato com a Jabil, passou a trabalhar com a brasileira Teikon, que tem fábrica de Manaus.

Outra companhia asiática que aproveita o crescimento do mercado de computadores é a chinesa PC Chips, representada no Brasil pela Terra da Amazônia, também com fábrica na Zona Franca. "Nos últimos 18 meses, aumentamos nossa produção em 70%", afirma Ricardo Taciro, diretor financeiro da companhia.

O interesse pelo setor de componentes levou a Intel Capital, braço de investimento da fabricante de chips, a entrar na operação da Digitron, ainda em 2005. O aporte, não revelado, levou a empresa a quadruplicar sua estrutura. Um nova fábrica construída em Manaus recebeu investimentos de R$ 40 milhões. "Com essa operação geramos uma capacidade de produção de 80 mil placas-mãe por semana", conta Sung Un Song. Neste ano, diz ele, mais R$ 10 milhões serão injetados na ampliação das linhas.

Ao trazer a montagem completa ou parcial de placas para o país essas companhias tentam oferecer um preço mais competitivo para brigar entre si e, principalmente, para combater os estragos causados pelo mercado paralelo, que segundo estimativas atinge 30% do setor. "O Brasil passou décadas se abastecendo de contrabando porque as empresas do ramo não conseguiam se fortalecer, mas hoje isso mudou radicalmente", diz Song.

Com mais ou menos contrabando, o fato é que nas últimas semanas boa parte da indústria de componentes sofreu com seus produtos detidos na alfândega devido à greve dos auditores da Receita Federal. "Fomos obrigados a dar férias coletivas de suas semanas para 300 funcionários", diz Ricardo Taciro, da Terra Amazônia. "Mas agora a situação já voltou ao normal."