Título: Reeleição difícil leva senadores de volta às bases
Autor: Ulhôa, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 19/05/2008, Política, p. A8

As principais lideranças do Senado estão com os dias contados na Casa. Entre os 54 senadores cujos mandatos se encerram em 2010 estão o atual presidente, Garibaldi Alves (PMDB-RN), os líderes de PT, PMDB, PSDB e DEM e os presidentes das comissões mais importantes - Constituição e Justiça (CCJ), Assuntos Econômicos (CAE) e Relações Exteriores (CRE). A maioria deles, principalmente os de oposição - 17 (oito do PSDB, oito do DEM e um do PSOL) e dois pemedebistas dissidentes, que costumam votar contra o governo -, têm dificuldade para se reeleger.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em reunião com o PDT, fez uma lista dos senadores em fim de mandato e previu perda de quadros importantes da oposição, por estar na contramão da vontade popular e não apresentar propostas alternativas ao eleitor. Essa atuação "dá mídia, mas não dá voto", teria dito Lula.

Segundo um interlocutor do presidente, em avaliações feitas nas reuniões da coordenação política, um Senado completamente diferente do atual sairá das urnas em 2010, dando maioria tranqüila às forças ligadas ao governo petista. A Casa hoje tem composição desfavorável a Lula. Numericamente, há equilíbrio de forças, mas, somando os votos de dissidentes da base, a oposição obtém importantes vitórias.

Na avaliação desse auxiliar de Lula, se o presidente fizer seu sucessor, este terá um Senado mais colaborador. Se a oposição vencer a disputa presidencial, a relação do novo Senado para o novo presidente será igual à que existe hoje entre Lula e o Senado: maioria oposicionista e muito mais folgada do que hoje.

A preocupação já afeta o dia-a-dia do Senado. Os parlamentares passam mais tempo nas bases e se envolvem nas campanhas municipais. O objetivo é eleger aliados em municípios considerados estratégicos, como são Natal e Mossoró, no Rio Grande do Norte, para o líder do DEM, José Agripino (RN).

Sua situação é emblemática. Ex-governador, exercendo o terceiro mandato de senador e líder do DEM desde 2001, para voltar ao Senado Agripino tem que driblar acordo entre a governadora Wilma de Faria (PSB) e o presidente do Senado, Garibaldi Alves (PMDB-RN). Os dois querem as duas vagas que serão abertas em 2011. Agripino não se considera vencido. "Ela tem a máquina e eu, conceito".

O líder do PSDB, Arthur Virgílio (AM), parceiro de Agripino na oposição, também enfrenta problemas para voltar. Virgílio pretende disputar as prévias do PSDB para escolha do candidato a presidente. Mas, perdendo essa disputa, tentará voltar ao Senado, para o qual foi eleito em 2002. É líder desde que assumiu.

Seus aliados dizem que sua chance depende de aliança com o ex-governador Amazonino Mendes (PTB), de quem sempre foi adversário. Tem gente trabalhando por uma composição com Amazonino para governador e Virgílio para o Senado. Uma das vagas é considerada ganha pelo governador, Eduardo Braga (PMDB).

"A eleição nacional não será suficiente para alavancar os candidatos hoje na oposição, principalmente em Estados menos desenvolvidos. A população se lembrará das conquistas que teve no governo Lula e vai pagar essa dívida de gratidão votando nos candidatos identificados com ele", diz o diretor do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), Antonio Augusto Queiroz.

Em Pernambuco, por exemplo, não será fácil a reeleição de Sérgio Guerra (PSDB), presidente nacional do seu partido, e Marco Maciel (DEM), ex-vice-presidente de Fernando Henrique Cardoso e atual presidente da CCJ. Ao menos uma vaga certamente será ocupada pelo candidato do governador Eduardo Campos (PSB). Ele deve disputar reeleição ou compor chapa à Presidência apoiada por Lula. Há pré-candidatos fortes ao Senado, como o deputado Armando Monteiro Neto (PTB), presidente da Confederação Nacional da Industria, e o prefeito de Recife, João Paulo.

Maciel é pessoalmente forte, mas seu partido está esfacelado no Estado. Guerra é ligado a Campos, mas sua volta depende das composições eleitorais que se fizerem necessárias em 2010.

Ainda na oposição, o ex-presidente do PSDB e ex-governador Tasso Jereissati (PSDB), tem inegável liderança no Estado, mas o partido enfraqueceu e está fora da máquina estadual e da capital, ambos sob comando de aliados de Lula. O governador Cid Gomes (PSB) deve tentar a reeleição, mas a prefeita de Fortaleza, Luiziane Lins (PT), que busca a reeleição em 2008, pode tentar o Senado em 2010. O ex-ministro Eunício Oliveira (PMDB), aliado de Lula, está de olho em uma vaga no Senado. Se eleger a senadora Patrícia Saboya (PDT) - outra em fim de mandato - prefeita de Fortaleza, Tasso ganha suporte na capital. Se o deputado Ciro Gomes (PSB) for candidato a presidente, o tucano estará numa saia justa. Já se indispôs no partido por apoiar Ciro para presidente. Agora, diz que "apoiará o candidato do PSDB, seja quem for".

Também estão em fim de mandato, entre outros, o presidente da CRE, Heráclito Fortes (DEM-PI) e os senadores goianos Demóstenes Torres (DEM) e Lúcia Vânia (PSDB). A tucana tem sustentação na base partidária, mas não conta com apoio do ex-governador Marconi Perillo, que comanda o partido no Estado e tem mais quatro anos de mandato. Uma opção seria sua saída do PSDB e a disputa por outra legenda, numa chapa encabeçada pelo presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, que prepara terreno disputar o governo.

Aliada de Meirelles, Lúcia Vânia levou-o a evento em Anápolis (GO), de apoio à criação de Zona de Processamento de Exportação (ZPE) na região. Ele foi a grande estrela. O problema da senadora é como trocar de partido sem perder o mandato, já que a legislação eleitoral exige fidelidade partidária. Fala-se que Meirelles iria para o PR ou para o PP.

Nem só os senadores da oposição podem enfrentar problemas pra voltar. Romeu Tuma, ex-pefelista, hoje no PTB, é tido como um caso quase perdido. Foi para um partido da base aliada de Lula, mas perdeu a sustentação política. O presidente do PMDB, Orestes Quércia (PMDB), deve disputar uma vaga pro Senado, numa chapa com o PSDB. Se esse acordo fracassar, a vaga deve ser de Guilherme Afif Domingos (DEM), que abriu mão na composição com Quércia, que passa pelo apoio do PMDB à reeleição do prefeito Gilberto Kassab (DEM).

Aloizio Mercadante (PT), presidente da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) não estaria com eleição ganha. Dependeria de uma candidatura competitiva para o governo do Estado, como a de Marta Suplicy. A líder do PT, Ideli Salvatti (SC), em fim de mandato, quer disputar o governo de Santa Catarina.