Título: Excesso de gasto público é entrave ao crescimento,
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 21/05/2008, Brasil, p. A2

Álvaro Bandeira, da Ágora: país deverá receber mais investimentos O nível do gasto público na economia brasileira foi crítica comum do ex-diretor do Banco Central e sócio da Ciano Investimentos, Ilan Goldfajn, e do executivo da Ágora Investimentos, Álvaro Bandeira, durante o seminário "Brasil + 20", promovido pelo Instituto Millenium, na PUC-Rio. "Os problemas são os gastos do governo e o tamanho do Estado", disse Goldfajn, ao fazer um prognóstico para a economia brasileira para os próximos 20 anos. Ele relacionou diversas mudanças positivas nas duas décadas passadas, como a estabilidade de preços, abertura comercial, aumento da produtividade das empresas e entrada em vigor da Lei de Responsabilidade Fiscal.

Nas suas projeções, Goldfajn vê vantagens na demanda crescente de alimentos e commodities industriais no mundo, pois o Brasil é produtor de bens primários. Entretanto, diz haver um entrave à sustentabilidade do crescimento no peso do gasto do governo sobre o PIB. Goldfajn não crê que os próximos governos consigam diminuir o tamanho dos programas de transferências de renda, como o Bolsa Família, por questões políticas. "As transferências não geram riquezas. No curto prazo, tiram as pessoas da pobreza, no longo prazo, não. Infelizmente, as tranferências vieram para ficar", afirmou.

Na avaliação de Bandeira, a política fiscal piorou, ao referir-se à escolha de segmentos na política de desenvolvimento produtivo anunciada semana passada e ao eventual retorno da CPMF. "Ao mesmo tempo em que faz renúncia fiscal, o governo quer reeditar a CPMF."

Bandeira não poupou críticas à proposta de um fundo soberano, anunciada pelo ministro Guido Mantega. "Não consigo ver um objetivo no fundo soberano brasileiro. Teria que haver superávit nominal e o Brasil não gera esses recursos e não terá até 2010." Ele também criticou a política de gastos, especialmente as transferências de renda. "Nunca tivemos situação econômica tão favorável, mas a sensação é de que começamos a perder o foco de longo prazo."

Bandeira, entretanto, prevê mais investimentos no país por conta da conquista do grau de investimento. "O país vai ter mais empréstimos a taxas mais baixas, o número de empresas no mercado de capitais vai aumentar e o de fusões e aquisições também", disse.

Também participou da discussão o consultor David Zylberztajn. Ele lançou uma reflexão sobre qual seria escolha mais sustentável do país para seu projeto de desenvolvimento, especialmente na área de energia. "A gente tem oportunidade quase singular no mundo para escolher a forma como queremos crescer dentro do conceito de sustentabilidade", afirmou. em referência a questão ambiental e energética.