Título: Conversor encalha e setor busca alternativas
Autor: Moreira , Talita ; Facchini , Claudia
Fonte: Valor Econômico, 21/05/2008, Empresas, p. B3

No ano passado, a Positivo Informática anunciou que lançaria dois modelos de conversores para TV digital, em meio à expectativa do início das transmissões em alta definição no país, marcado para dezembro na cidade de São Paulo. Cinco meses após a estréia, no entanto, a Positivo já parou de vender os decodificadores e confirmou que o volume comercializado foi baixíssimo.

A direção da companhia informa que comprou apenas um lote do aparelho - feito sob encomenda pela Teikon, mas depois disso desistiu do negócio devido à baixa procura do consumidor.

A Positivo não está sozinha. Boa parte dos fabricantes de conversores suspendeu a produção ou nem chegou a começá-la. Outros, como a AOC, mantêm os projetos em compasso de espera. "A maioria parou porque tem estoque de sobra e aguarda o aquecimento da demanda", afirma Wilson Périco, presidente do Sindicato da Indústria de Aparelhos Elétricos, Eletrônicos e Similares de Manaus (Sinaees).

Esse é o retrato de um mercado que se revelou bem mais modesto - e diferente - do que as empresas esperavam. A demanda pelos conversores que captam o sinal digital ficou muito aquém do previsto. Faltam dados oficiais, mas a estimativa da indústria é de que tenham sido vendidos cerca de 20 mil equipamentos até agora. A capacidade instalada nas fábricas supera 1 milhão de decodificadores por mês.

Os consumidores, aparentemente, viram pouca vantagem em comprar um aparelho que custa quase o preço de um televisor - a versão mais barata sai por R$ 500 - para melhorar a qualidade de imagem e som.

O ministro das Comunicações, Hélio Costa, jogou lenha na fogueira ao sugerir que os consumidores esperassem para comprar os decodificadores, porque os preços estariam altos demais. Executivos do setor alegam que essas declarações atrapalharam. Mas apontam outros motivos para o desinteresse demonstrado pelo consumidor até agora.

"Não é apenas uma questão de preço. A procura é baixa", avalia Hélio Rotenberg, presidente da Positivo. Para ele, falhas nas transmissões e a falta de conteúdo em alta definição são dois fatores que afugentaram o telespectador. "Se as pessoas não vêem, não entendem como funciona a TV digital, e não vão comprar um decodificador", afirma.

Segundo Périco, do Sinaees, a TV digital não decolou por causa de erros na estratégia do governo, que não conseguiu transmitir com clareza à população quais são as vantagens da tecnologia. O executivo diz que as cinco empresas que instalaram linhas de produção de decodificadores no Amazonas investiram entre US$ 500 mil e US$ 1 milhão cada. Proview, Thomson, Samsung, Elsys e Teikon fazem parte de um grupo maior, formado por 17 companhias que chegaram a ter projetos aprovados na Zona Franca de Manaus para fabricar os conversores de TV digital e TV por assinatura.

Quanto maior for a demora para disseminar o sinal digital no país, menor será a venda de conversores, observa Périco. Por enquanto, as transmissões começaram em São Paulo, no Rio de Janeiro e em Belo Horizonte. De acordo com o cronograma de implantação, a TV analógica será extinta, no país, em 2016.

Mas nem todas as notícias são negativas. A demanda tem revelado nuances inesperadas. Enquanto a procura pelos decodificadores é baixa, os fabricantes mostram-se satisfeitos com a venda dos aparelhos de TV já preparados para receber o sinal digital em alta definição. Alguns apostam na oferta de produtos cujo maior atrativo é a mobilidade.

A LG nunca chegou a produzir decodificadores, mas lançou uma linha de televisores de LCD e plasma com conversores embutidos. Eduardo Toni, diretor de marketing da empresa, acredita que esses produtos serão o destaque de vendas da companhia no Natal, quando o sinal digital já estiver disponível em mais cidades. O executivo afirma que a multinacional coreana prepara-se para obter a liderança em TVs digitais no Brasil, após ter conquistado o primeiro lugar em televisores de tela fina.

A estimativa do mercado é de que as vendas das TVs de tela fina - analógicas e digitais, de plasma e LCD - chegarão a 2 milhões de unidades neste ano, o dobro do volume de 2007.

Essa é a "ponta do iceberg" para a TV digital, diz Maurício Laniado, vice-presidente da AOC. Na avaliação do executivo, a procura pelos aparelhos de tela fina, cobiçados pelos brasileiros, ajudará a despertar o interesse pelos modelos digitais, ou ao menos pelos conversores. A fabricante de monitores para computador está ingressando no mercado de TVs. Segundo Laniado, a AOC ainda não desistiu de lançar seu decodificador. "Está em teste; preferimos esperar para ter certeza de que não daremos o passo errado."

Mais ousada, a Proview resolveu começar a produzir decodificadores, apesar do cenário desanimador. Tseng Ling Yun, presidente da companhia, aposta no sucesso da empreitada, apoiada na oferta de produtos com preços mais baixos que os dos modelos disponíveis até agora. Segundo o executivo, a empresa com sede em Taiwan lançará conversores por menos de R$ 300.

O Genius Instituto de Tecnologia também não abandonou os projetos na área, embora reconheça que o desempenho do mercado foi frustrante. O centro de pesquisas criou um decodificador que poderá chegar às lojas com preço 30% inferior ao dos produtos mais baratos. Para isso, o equipamento terá algumas funcionalidades a menos, explica Reinaldo de Bernardi, diretor de pesquisa e desenvolvimento. "Quando o sinal digital for levado a mais cidades, haverá um crescimento natural da demanda", afirma o executivo.