Título: Geração 3
Autor: Rothenburg, Denise
Fonte: Correio Braziliense, 21/02/2011, Política, p. 4

Em todas as rodas de parlamentares em que se discute a reforma política e, por tabela, a sucessão de 2014, ninguém tem dúvidas de que a geração dos anos 1930 e 1940 perdeu o bonde para a sucessão presidencial. À exceção da presidente Dilma Rousseff, que exerce o cargo hoje e está entre os potenciais candidatos, os mais atentos afirmam que é hora da passagem de bastão para os mais novos.

Antes de se atirarem sobre essa nova geração, entretanto, representantes de todos os partidos ¿ da oposição, inclusive ¿ deixam claro que o quadro só vale se Lula se mantiver firme na decisão de não concorrer a um terceiro mandato. E quem conhece a fundo o ex-presidente garante que ele diz de coração que não dá para pensar nessa volta ao Planalto.

Vejamos a história: Lula sempre teve um senso apurado para perceber as fases da vida, como os sensitivos percebem as fases da lua. No sindicato do ABC paulista, foi ele quem fez prevalecer a ideia de dois mandatos. Quando criou a CUT, não aceitou dirigi-la. Presidiu o PT e depois fez questão de passar o comando para Olívio Dutra. Na Presidência da República, desfez movimentos no sentido de buscar mais quatro anos no Planalto. Ou seja, o comportamento de Lula ao longo de sua trajetória indica que ele não tem a tradição de ficar eternamente num posto, embora houvesse janelas abertas para isso.

Bem, dito isso, vejamos quem surge no horizonte das promessas, ainda que Dilma seja candidata, uma vez que ela não é considerada pelos políticos como ¿alguém do ramo¿. Aécio Neves é o primeiro da fila, mas não o único. Outros personagens devem ser observados: os governadores de Pernambuco, Eduardo Campos, do PSB; e do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, do PMDB. Para quem pensa que os peemedebistas jamais aceitariam Sérgio Cabral, há no partido quem diga que, se for para pegar o poder sem intermediários, a sigla vai achar que Cabral virou o Brad Pitt da política e lhe estenderá o tapete vermelho.

O fato de Eduardo Campos ser do Nordeste faz com que muitos torçam o nariz para uma possível candidatura do pernambucano ao Planalto. A primeira coisa que alguns dizem é que São Paulo e Minas não votariam em alguém do Nordeste. Coincidentemente, são os mesmos que, há três anos, quando Dilma foi batizada de mãe do PAC, diziam que ela não emplacaria porque, além de ser mulher, não tinha traquejo político e seria engolida por José Serra, apesar de ter um padrinho forte como Lula. Os tais experts falavam também que Dilma não tinha inserção em São Paulo e perderia a eleição. Os fatos provaram que estavam errados.

E nesta segunda-feira... Por tudo o que foi dito acima, nesse momento ¿ em que Lula já avisou a seu partido que comece a discutir 2012 para amarrar os aliados ¿ é preciso deixar de lado os preconceitos e observar a geração que se consolida no primeiro time. Hoje, por exemplo, Campos estará em Sergipe ao lado da presidente Dilma Rousseff para o fórum dos governadores do Nordeste, que tem uma safra expressiva de políticos dessa nova geração. Ali, na pequena Aracaju, o governador Marcelo Déda (PT) receberá Jaques Wagner (BA), Ricardo Coutinho (PB), Wilson Martins (PI), Teotônio Vilela Filho (AL), Rosalba Ciarlini (RN), Cid Gomes (CE) e Roseana Sarney (MA).

Palavras de Déda, o anfitrião: ¿Queremos uma maior integração da região, que mudou seu perfil. Antes, vivia-se de cestas básicas. Hoje, a população nordestina é consumidora e a necessidade de infraestrutura e projetos estratégicos é grande¿.

Ao mesmo tempo em que os governadores buscam soluções conjuntas, os políticos voltam os olhos para o que acontece por ali. Na semana passada, Sarney alertou, em entrevista ao Correio, que o Nordeste está ávido pelo novo pacto federativo e pelo fim das desigualdades.

Do mesmo modo, na política não dá mais para olhar o Nordeste como a região onde os políticos devem ficar no banco, vendo a fila de sulistas andar ou mesmo delegados à condição de vice. Podem até ser vice, mas será por decisão própria de conveniência e circunstâncias, e não por imposição. Afinal, no centro-sul há uma legião de nordestinos que a vida inteira guindaram os paulistas ao poder.

Dilma, que de boba não tem nada, rende homenagens aos nordestinos hoje. Afinal, como detentora do poder de disputar a reeleição, é a única da antiga geração que está, aos olhos de hoje, com a faca e o queijo em mãos para concorrer no futuro. No caso dos paulistas, enquanto eles continuarem divididos, talvez lhes reste observar a fila passar, como ocorreu por muito tempo com os demais estados e regiões do país. O tempo dirá.