Título: Juro mais alto altera o perfil da dívida
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Fonte: Valor Econômico, 21/05/2008, Finanças, p. C3

A perspectiva de aumento dos juros pelo Banco Central (BC) levou o Tesouro a adotar postura mais conservadora nos leilões de oferta de títulos. Isso significa que foi obrigado a colocar lotes menores de papéis prefixados, o que provocou, em abril, ligeira deterioração do perfil da dívida pública mobiliária federal interna (DPMFi). No mês passado, o estoque da dívida interna diminuiu 2,5%, passando de R$ 1,25 trilhão para R$ 1,21 trilhão.

A participação dos títulos prefixados caiu de 36,26% para 34%. Os papéis ligados à Selic aumentaram seu peso de 33,35% para 35,34%. No caso dos títulos remunerados por índice de preços, a parcela aumentou de 27,39% para 27,63%. Por outro lado, o prazo médio aumentou de 37,8 meses para 39,26 meses e a participação de papéis com vencimento em até 12 meses caiu de 30,63% para 27,01%.

Os juros apropriados (contabilizados para o período) na dívida pública foram, em abril, de R$ 8,45 bilhões. Desse valor, R$ 11,64 bilhões foram referentes à dívida interna e houve redução de R$ 3,18 bilhões na dívida externa. Neste ano (janeiro a abril), os juros apropriados foram de R$ 47,88 bilhões.

O custo médio da DPMFi, acumulado em 12 meses, aumentou, em abril, de 12,62% para 12,64% ao ano. Isso foi devido à maior variação dos índices de preços na comparação com o que ocorreu em abril de 2007.

O Plano Anual de Financiamento (PAF) da dívida pública para este ano define que a participação de títulos prefixados tem de ficar entre 35% e 40%. Em dezembro de 2007, essa parcela foi de 35,1%. Na estratégia traçada pelo Tesouro, a prioridade é elevar as participações de prefixados e papéis ligados a índice de preços e, ao mesmo tempo, reduzir o impacto da taxa de juros Selic. Portanto, no momento, a política monetária contracionista está exigindo um esforço adicional na gestão da dívida.

Em abril, o Banco Central elevou a Selic de 11,25% ao ano para 11,75%. Além disso, sinalizou que, para evitar maior inflação, essa não será a única elevação.

"A alta dos juros dos prefixados reflete a expectativa dos investidores quanto à ação do Banco Central. É aumento de custo para o Tesouro. Por isso, vamos mais devagar. O BC está fazendo o trabalho dele", comentou o coordenador-geral de Operações da Dívida Pública, Guilherme Pedras. Ele ainda acrescentou que não há uma deterioração do perfil da dívida, mas apenas uma adaptação aos movimentos do mercado. "As bandas do PAF continuam factíveis", garantiu.

Pedras informou que, no mercado, as expectativas de taxas para o DI, em janeiro de 2010, eram de 14,26% em 19 de maio. Em 4 de abril, era de 13,09%. Independentemente da conjuntura, a confiança na economia brasileira é bastante sólida. Revelou que no leilão realizado ontem, foi colocado integralmente lote de títulos com vencimento em dez anos.

Neste ano, a gestão da dívida interna teve resgate líquido de R$ 54 bilhões, o que é coerente com a postura mais conservadora que implica em ofertas de lotes menores.

Pedras admitiu que resgate líquido significa redução do colchão de liquidez mantido pelo Tesouro, mas disse que esse movimento é compensado pela realização do superávit primário.

A expectativa do governo é de elevação da participação de investidores estrangeiros na dívida interna, principalmente fundos de pensão e de investimento. Isso já vem ocorrendo, independentemente da recente promoção do Brasil à classificação de grau de investimento pela Standard & Poor's.

Em março, ela foi correspondente a 5,85%, parcela maior que as de fevereiro (5,68%) e janeiro (4,96%). Para ele, o impacto do "investment grade" será no médio prazo.

No âmbito da dívida externa, o estoque recuou 6,25% em abril, chegando a R$ 99,6 bilhões (US$ 59 bilhões). Segundo o Tesouro, a redução decorreu da valorização da moeda nacional frente às demais moedas que integram a dívida pública federal externa (DPFe). Também contribuíram os vencimentos dos títulos Global 2008 e DM 2008. Do total da DPFe, R$ 76,5 bilhões são da dívida mobiliária e R$ 23,1 bilhões da dívida contratual.