Título: Volta de Palocci ao governo está nas mãos do presidente do STF
Autor: Costa , Raymundo
Fonte: Valor Econômico, 23/05/2008, Política, p. A5
Palocci: a volta do ex-ministro ao governo também interessa a setores do PT que o vêem como barreira mais eficaz a Ciro Gomes do que Dilma Roussef O nome do ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci permeou as articulações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para a substituição dos dois ministros que vão deixar o governo até o dia 5 de junho, mas, ao que tudo indica ainda não será desta vez que Palocci voltará ao governo. Para o lugar de Luiz Marinho, na Previdência e Assistência Social, o presidente está entre uma indicação do PT, o deputado José Pimentel (CE), o secretário-executivo Carlos Eduardo Gabas e o presidente do INSS, Marco Antonio de Oliveira. A ministra Marta Suplicy indicou o seu secretário-executivo, Luiz Eduardo Pereira Barreto, para substituí-la.
Lula pensa em chamar Palocci de volta ao Executivo, e calculava fazer isso na oportunidade da substituição dos ministros que disputarão a eleição de 5 de outubro, pois esperava que o ministro Gilmar Mendes mandasse arquivar a ação movida contra o ex-ministro, acusado da quebra do sigilo bancário do caseiro Francenildo Pereira. Mas Mendes assumiu a presidência do Supremo Tribunal Federal (STF) sem tomar uma decisão. Também não passou o caso às mãos de outro ministro. Mas nos últimos dias os analistas do Planalto passaram a achar que Gilmar Mendes pode tomar uma decisão antes de 5 de maio, o que desencadearia o processo para a volta de Palocci ao governo.
Lula já se enganou antes a respeito de uma decisão do tribunal: ele também esperava que o Supremo não aceitasse a abertura de processo contra o ex-ministro das Minas e Energia Silas Rondeau. Por conta disso, adiou ao máximo a escolha de um novo titular para a pasta, que recaiu sobre Edison Lobão, assim como Rondeau uma indicação do ex-presidente da República e senador José Sarney (PMDB-AP). Mas no caso de Silas apareceram mais fatos, no decorrer do inquérito. Advogados ligados ao presidente consideram "muito fraca" a denúncia do Ministério Público contra Palocci.
Nas negociações para recompor o ministério no mês de maio, Lula manifestou o desejo e sondou mais de um interlocutor sobre o que achava da volta de Palocci. Um deles, aliás, foi o próprio Luiz Marinho, que deixa a Previdência Social a fim de tentar resgatar para o PT a prefeitura de São Bernardo do Campo (SP), berço do lulo-petismo há cerca de 12 anos controlado pelos maiores adversário do partido, os tucanos do PSDB. O único obstáculo é o processo por causa da quebra do sigilo bancário de Francenildo, pois os processos relacionados ao tempo em que o deputado era prefeito de Ribeirão Preto (SP) são considerados disputa "paroquiais".
Palocci vem tentando aos poucos se recolocar no primeiro plano da política, com discrição. Um colega conta que, ao contrário do também ex-ministro José Dirceu, o ex-ministro fala pouco, mas trabalha muito nos processos contra ele, nos bastidores.
Assim como Lula espera apenas que Palocci se livre de seus problemas na Justiça para chamá-lo de volta, o PT encara essa perspectiva como sendo o melhor dos mundos. A avaliação é que estão postas todas as condições para viabilizar a candidatura de Palocci a presidente da República, com a economia estabilizada e crescimento econômico. Se Dilma Roussef (Casa Civil), uma desconhecida até dias atrás, já alcançou a casa da meia dúzia de pontos nas pesquisas, o PT imagina que Palocci já teria chegado a algo entre 15% e 20%.
Palocci também é visto como um nome capaz de unificar o PT, ao contrário de Dilma, que tem o entusiasmo das seções do Rio Grande do Sul, onde fez política, e Minas Gerais, onde nasceu, mas não empolga todo o partido. Para ser indicada, precisará do apoio decidido de Lula. Além de unificar o PT, Palocci é visto como alguém capaz de inibir o avanço da candidatura do deputado Ciro Gomes (PSB) entre os aliados. Isso sem falar no apoio empresarial e do setor financeiro.
Só há um nome no PT nervoso com a possibilidade de Palocci voltar ao governo: Guido Mantega (Fazenda). É que numa das alternativas analisadas o ex-ministro voltaria não para um dos dois ministérios que ficarão vagos, a Previdência e o Turismo, mas diretamente para a Fazenda. Nesse caso, Mantega seria deslocado para o Ministério do Turismo.
José Pimentel não é um neófito em assuntos de seguridade: foi o relator da proposta de emenda constitucional para a reforma da Previdência. Na crise do "mensalão", em 2005, foi convocado para cuidar das finanças do partido, após o afastamento do tesoureiro Delúblio Soares. É o nome do PT sobre a mesa do presidente Lula, que já esteve outras vezes para nomeá-lo para o ministério. E o mais provável. Lula também analisa o nome do secretário-executivo da Previdência e do presidente do INSS..
Ao contrário de Marinho, que já confirmou sua candidatura, a ministra Marta Suplicy tem adiado o anúncio de que concorrerá à prefeitura de São Paulo, mas ela já tem tudo acertado com Lula para sair até 5 de maio (ministros candidatos precisam deixar os postos até quatro meses antes da eleição). Antes de aceitar a convocação do PT, Marta pediu que Lula a liberasse do compromisso de ficar até o fim do segundo mandato do presidente. Sua indicação é Luiz Eduardo Pereira Barreto Filho.
O PT gostou de comandar o Turismo, que na partilha inicial do governo Lula coube ao PTB - na última mudança ministerial, para encaixar Marta presidente entregou ao PTB a coordenação política do governo, primeiro ocupada por Walfrido dos Mares Guia, que caiu no escândalo do "mensalinho" mineiro e foi substituído pelo deputado José Múcio.
O PT perdeu a coordenação política desde a saída do ex-ministro José Dirceu da Casa Civil. Desde então chegou a ficar inteiramente fora da articulação política, pois até os líderes do governo no Congresso eram de partidos da base de sustentação política do governo. Os petistas nunca se conformaram com a situação, mas há petebistas que também se queixam, por entender que o Ministério das Relações Institucionais oferece menos oportunidades como cargos a preencher e verbas, como tem o Turismo de Marta Suplicy.
Uma das hipóteses consideradas pelo governo foi o deslocamento do atual líder do governo na Câmara, deputado Henrique Fontana (PT-RS), que substituiu José Múcio quando ele foi para o lugar de Walfrido. Múcio, por seu turno, iria para o Turismo, restabelecendo o desenho original do governo. Mas essa é uma hipótese atualmente em baixa no Palácio do Planalto.