Título: Abeiva propõe cotas em troca de imposto de importação
Autor: Olmos , Marli
Fonte: Valor Econômico, 23/05/2008, Empresas, p. B7

Dornbusch, presidente da Abeiva: "Se a intenção é controlar a entrada de carros estrangeiros, a cota funciona muito bem" Os importadores de veículos de marcas que não têm fábricas no Brasil pretendem procurar o governo federal nos próximos dias para propor a troca da cobrança do Imposto sobre Produtos Importados (II) por um regime de cotas. O descontentamento do grupo com a alíquota do imposto, de 35%, não é nova. Mas a idéia de propor as cotas e zerar o II surge como plataforma de gestão de Jörg Henning Dornbusch, presidente da BMW Brasil, que no mês passado assumiu o comando da Associação Brasileira das Empresas Importadoras de Veículos (Abeiva).

"Se a intenção é controlar a entrada de carros estrangeiros, a cota funciona muito bem", afirma Dornbusch. O executivo não tem calculado o tamanho da cota ideal. Principalmente porque o atual vigor do mercado faz com que as projeções de vendas mudem a cada dia. A alíquota de 35% vale para os veículos trazidos dos países com os quais o Brasil não tem acordo de intercâmbio comercial. Sobre os que vêm da Argentina ou México não incide imposto.

Mas, como a maior parte dos veículos vendidos pelas marcas representadas pela Abeiva vêm, sobretudo, da Ásia e Europa, o interesse em substituir o imposto por sistema de cotas tem o apoio dos oito associados que hoje compõem a entidade.

A Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores), que, por sua vez representa as empresas com fábricas no país, informa que essa discussão não está em pauta na entidade.

A Anfavea costuma aparentemente não se incomodar com as manifestações dos importadores. As duas entidades têm uma relação apenas cordial. Ao longo da sua existência, de 17 anos, a Abeiva foi mudando de tamanho e de perfil. Ao longo desse tempo, a entidade perdeu marcas que ergueram fábricas, como as francesas Peugeot e Renault. Outras saíram do país, como a coreana Daewoo.

Também ao longo do tempo, os importadores se voltaram para nichos de mercado, principalmente o de alto luxo, o que acaba não incomodando as montadoras locais.

Dornbusch diz que a atividade dos importadores tende a ganhar corpo daqui para a frente, principalmente por conta do incremento das vendas, puxado pelo crédito fácil e expansão econômica.

Não é só isso. As marcas chinesas já começaram a se interessar em fazer parte dessa comunidade. A Abeiva ganhou o primeiro associado chinês, a Effa Motors, uma marca de carros, utilitários.

A alíquota do II de 35% para veículos está em vigor desde janeiro de 1999. Já foi maior. Chegou a 70% em meados dos anos 90.

Independentemente de o governo ceder aos pedidos de abertura aos veículos fabricados em outros países, os importadores têm esperanças de também aproveitarem os acordos bilaterais que ainda faltam ser firmados com África do Sul e Europa. As discussões tanto de um como do outro foram engavetadas. A filial brasileira da BMW seria beneficiada já com o acordo com a África do Sul, onde tem uma fábrica dos modelos da série 3.

A participação das marcas que não têm fábricas no Brasil no volume de veículos importados gira em torno de 4%. O restante é trazido pelas próprias montadoras, que aproveitam os acordos bilaterais para importar grandes quantidades da Argentina e México.

No ano passado, foram vendidos 2,4 milhões de veículos no mercado brasileiro. Desse total, 258 mil foram importados. Mas, apenas 51,7 mil de países fora do grupo Mercosul e México. Os associados da Abeiva venderam 12,4 mil unidades no ano passado. Eles fecharam o primeiro quadrimestre de 2008 com vendas de 7,7 mil unidades, crescimento de 224% sobre igual período de 2007.