Título: Marfrig paralisa unidade na Argentina
Autor: Rocha , Janes
Fonte: Valor Econômico, 23/05/2008, Agronegócios, p. B10

Mais um frigorífico brasileiro está tendo problemas com o bloqueio às exportações de carne na Argentina. Depois do JBS-Friboi ter anunciado que poderá suspender 1,5 mil de seus 4 mil empregados no país, o Marfrig reduziu pela metade o volume de abate na última semana e meia e paralisou uma unidade do Quickfood, empresa que comprou no ano passado.

Em comunicado enviado anteontem à Bolsa de Valores de Buenos Aires, o Quickfood informou que a unidade de Villa Mercedes, na Província de San Luis, está "paralisada temporariamente desde o dia 12, diante da dificuldade de obter ROE", sigla para registros de exportação concedidos pelas autoridades argentinas, que vinham sendo pedidos há mais de 50 dias.

O Marfrig tem oito unidades frigoríficas na Argentina. No comunicado enviado à Bolsa, o Quickfood acrescenta que a acumulação de estoques de cortes especiais nas câmaras em Villa Mercedes o impede de manter o ritmo de abate. Segundo o comunicado, assinado pelo diretor de relações com o mercado Miguel Gorelik, houve uma regularização nas aprovações de exportações de carne desde sexta-feira passada para várias empresas, mas até agora o Quickfood não teve suas solicitações atendidas.

Desde 2006 a Argentina vem restringindo exportações de carne com o objetivo de garantir o abastecimento interno a preços estáveis. No ano passado as vendas foram reabertas, porém limitadas por cotas. Em janeiro a cota anual foi estabelecida em 480 mil toneladas mas em abril, devido à crise entre o governo e os agricultores por causa dos tributos sobre as exportações de grãos, as vendas de carne foram novamente suspensas.

Na segunda-feira, com a perspectiva de um acordo com os agricultores, o governo anunciou a reabertura das exportações, a ampliação da cota para 500 mil toneladas anuais e a liberação total da venda de carne termoprocessada. A liberação dos registros está condicionada a que as empresas comprovem ter abastecido o mercado interno e garantido a manutenção dos preços de 13 cortes mais populares, segundo uma tabela oficial.

Dos cerca de 500 frigoríficos em atividade na Argentina, 205 estão com suas operações comprometidas. São aqueles cujo principal negócio é a exportação e entre eles estão os que são controlados pelos grupos brasileiros Marfrig e JBS Friboi. Pelos cálculos do Sindicato dos Trabalhadores da Indústria da Carne, 15 mil funcionários poderão ser afetados, dos quais 6 mil já estão com suas atividades suspensas, total ou parcialmente, por causa da queda da produção.

Por enquanto não houve demissões, mas os frigoríficos estão dando férias antecipadas e reduzindo horas de trabalho semanal para uma por dia ou dois dias por semana. Também recorrem ao chamado sistema "preventivo de crises", que permite à empresa reduzir a remuneração de seus empregados a 320 pesos (cerca de US$ 100) mais os encargos sociais. O salário mínimo de um trabalhador da indústria frigorífica é de 624 pesos.

Em meio a este clima, Silvio Etcheun, secretário geral do Sindicato, fechou acordo que eleva o piso salarial em 20%, para 748,8 pesos, mais um adicional de 150 pesos que não contam para os encargos sociais até outubro, quando então serão incorporados aos salários.

Mas Etcheun não tinha nada a comemorar. "O Estado não tem uma política para o setor, diz que vai liberar a exportação mas não libera, e os trabalhadores ficam de reféns nessa situação". O Sindicato pedia 38% de aumento. Além de ter que se contentar com os 20%, o acordo será aplicado só aos empregados dos frigoríficos não afetados pela restrição às exportações - aqueles que produzem apenas para abastecer o mercado interno.