Título: Morte de Jefferson dificulta reeleição de prefeito de Manaus
Autor: Felício , César
Fonte: Valor Econômico, 26/05/2008, Política, p. A10
Um símbolo da integridade moral no Legislativo, o senador Jefferson Péres (PDT-AM) ao morrer na última sexta-feira fragilizou ainda mais a posição política do prefeito de Manaus, Serafim Corrêa (PSB), que tenta uma difícil reeleição este ano contra o ex-governador Amazonino Mendes (PTB), o vice-governador Omar Aziz (PMN), o deputado federal Francisco Praciano (PT) e o ex-deputado Pauderney Avelino (DEM).
A aposta no meio político do Amazonas é que o prefeito não terá como herdar o legado eleitoral de Péres: uma classe média no Amazonas insatisfeita com os grupos dominantes locais e intolerante com desvios de conduta.
Serafim Corrêa não conta com o apoio do governador Eduardo Braga (PMDB), que articula Aziz. Também não tem o apoio de um dos adversários do governador no momento, o senador Arthur Virgílio , líder do PSDB no Senado. Indefinido na eleição manauara, o senador fala com mais entusiasmo do petista Francisco Graciano do que de qualquer outro candidato. "É uma composição muito difícil, que não poderá ser feita se a direção petista proibir coligação proporcional", comentou. O PSDB amazonense conversa ainda com o DEM de Pauderney Avelino.
O líder nas pesquisas é Amazonino Mendes. Com grande rejeição em função de um histórico de acusações de corrupção, Amazonino se beneficia da impopularidade de Serafim Corrêa, que o derrotou em 2004. Mas não conta com apoio das máquinas federal, estadual e municipal e tem pouco tempo no horário eleitoral de rádio e TV.
Principal herdeiro político do senador amazonense, o prefeito não tem a mesma habilidade na formação de alianças eleitorais. Jefferson Carpinteiro Peres sempre se caracterizou por combinar pragmatismo no momento de se fechar alianças eleitorais com a absoluta rigidez de princípios com que se comportou no Senado nos treze anos em que exerceu o mandato. Integrante de uma família de larga tradição de poder no Estado, Peres ingressou tardiamente na cena política, ao eleger-se vereador de Manaus em 1988, aos 56 anos. Foi um fundador do PSDB e elegeu-se senador seis anos depois na esteira do Plano Real, em parceria com o hoje senador Arthur Virgílio Neto, o cacique tucano no Estado.
Ao chegar no Senado, em momento algum sentiu-se obrigado a seguir a disciplina partidária. Comportava-se no Senado como se fosse um membro do Judiciário, área de atuação de seu pai. Perdeu as condições políticas de continuar no PSDB após hesitar, na condição de relator, em aprovar sem ressalvas as contas do governo Fernando Henrique. Migrou para o PDT e tornou-se um oposicionista com quem o governo tucano podia contar em certos assuntos.
"Entregamos a relatoria da Lei de Responsabilidade Fiscal para ele, porque sabíamos que o Jefferson era a favor da idéia e não se pautaria por estar na oposição", relembra Arthur Virgílio, que foi secretário-geral e líder do governo Fernando Henrique. Em 2002, reelegeu-se apoiando a eleição de Braga para o governo estadual e com o aval do então governador Amazonino Mendes. Isto não o impediu de voltar a se opor a Braga e Amazonino logo após o pleito.
Em 2004 foi o principal aliado de Serafim Corrêa (PSB) em sua vitoriosa eleição para a prefeitura de Manaus. Em 2006, concorreu a vice-presidente na candidatura de Cristovam Buarque (PDT) à Presidência da República. Fez oposição ao governo Lula na maior parte de seu mandato. Mas votou com o governo a favor da prorrogação da CPMF. O senador será substituído pelo economista Jefferson Praia, ex- secretário municipal de Desenvolvimento Econômico na gestão de Serafim.