Título: Campanha eleitoral inflaciona demandas
Autor: Zanatta , Mauro
Fonte: Valor Econômico, 26/05/2008, Especial, p. A14

As restrições ao crédito e o arrocho ambiental e fundiário imposto pelo governo federal a produtores rurais e empresas na Amazônia Legal terão forte influência no resultado das eleições municipais deste ano. Governadores, senadores e deputados terão que mostrar empenho aos eleitores locais, sobretudo na base ruralista e madeireira, para garantir a eleição de prefeitos aliados. No horizonte de todos também está o arranjo político para a disputa de 2010.

Alvos mais freqüentes de ambientalistas, dentro e fora do governo, os governadores Blairo Maggi (PR-MT) e Ivo Cassol (sem partido-RO) foram reeleitos em 2006 e devem ser candidatos ao Senado. Com popularidade em alta, ambos precisam emplacar seus candidatos a prefeito para manter o controle em suas bases. Na mesma situação estão Marcelo Miranda (PMDB) em Tocantins e Eduardo Braga (PMDB) no Amazonas. De outro lado, estão os governadores que buscam a reeleição em 2010: Ana Júlia Carepa (PT), no Pará; Jackson Lago (PTB), no Maranhão; José de Anchieta Jr (PSDB), em Roraima; e Waldez Góes (PDT), no Amapá. O governador do Acre, Binho Marques (PT), é a exceção. Deve ceder a vaga ao clã Viana, dos irmãos petistas Jorge e Tião.

"A questão ambiental e a carga de impostos serão os principais temas nas eleições de outubro", analisa a senadora Kátia Abreu (DEM-TO). "Mas discurso radical não vai dar voto. O sucesso no palanque vai depender do equilíbrio entre a ideologia da preservação e a realidade da produção de comida".

Em Mato Grosso, por exemplo, o partido de Maggi (PR) tentará manter pelo menos 50 dos atuais 67 prefeitos filiados no comando dos 141 municípios do Estado. "Todos estão de acordo comigo", pensa Maggi. Aliado do governador, o deputado Wellington Fagundes (PR-MT), é pré-candidato a prefeito de Rondonópolis, berço político de Maggi. Para ele, há riscos para os candidatos em caso de confirmação do pacote ambiental do governo federal. "No início, o Blairo sofreu muita cobrança. Agora já entenderam o lado dele, mas ainda há riscos", afirma.

Suplente de deputado e pré-candidato em Lucas do Rio Verde (MT), o produtor Neri Gheller (PSDB) diz que o governador terá dificuldades para eleger seus candidatos se for confirmado o corte de crédito rural na região, a maior produtora de soja do país. "Vai ser difícil para ele. A base está muito descontente", afirma Gheller, que assumiu o mandato na Câmara Federal por quatro meses em 2007.

Engenheiro agrônomo e membro das bancadas ruralista e da Amazônia, o deputado Wandenkolk Gonçalves (PSDB-PA) diz que a "asfixia" promovida pelo governo federal na região custará caro aos aliados políticos. "O Lula se péla de medo da inflação e vai ter que acabar essa restrição ao crédito. Senão, vai ficar uma montanha de dinheiro parada no banco e nenhum candidato dele vai ser eleito", arrisca. Wandenkolk lembra que a bancada ruralista queria retaliar o pacote ambiental com a derrubada de duas recentes medidas provisórias de suplementação de crédito aos ministérios. "O desmatamento só deixa de avançar quando a floresta em pé tiver mais valor do que a árvore deitada". E critica as ações do governo federal na região. "O Plano de Desenvolvimento Sustentável (PAS) dá, no máximo, para fazer poesia ou música do Chico Buarque", ironiza. Segundo ele, a solução é usar os 18 milhões de hectares abertos com pastagens e várzeas com plano de manejo e recuperação com tecnologia, além de permitir a recomposição de metade das áreas alteradas com plantas exóticas, como o dendê. "Daria para plantar quatro bilhões de árvores".

O deputado Homero Pereira (PR-MT), ex-presidente da federação estadual da Agricultura (Famato), afirma que as novas normas do governo são "inexeqüíveis" na região. "Não há estrutura para fazer georreferenciamento", diz. "Estão na mira áreas consolidadas, e não de desmatamento. É um discurso retrógrado do governo. Pode se fazer licenciamento gradativo". Ex-secretário de Blairo Maggi, o deputado de primeiro mandato cobra um reforço do Ministério da Agricultura. "Se o ministro do Meio Ambiente é ouvido, o da Agricultura também tem que ser. Se ele não está bem, tira. Mas tem que ouvir a autoridade do setor", diz.