Título: BC não deve ajustar meta, dizem economistas
Autor: Ribeiro , Alex
Fonte: Valor Econômico, 27/05/2008, Brasil, p. A3

Analistas econômicos acham improvável que o Banco Central anuncie uma meta ajustada de inflação para 2008, já que as decisões de política monetária tomadas daqui por diante terão efeitos predominantemente sobre a inflação de 2009. "Do ponto de vista teórico, não faz o menor sentido", diz Elson Teles, economista da Concórdia Corretora. "É algo fora de cogitação", afirma Newton Rosa, economista da Sul-América Investimentos.

Ontem, o boletim Focus, do Banco Central, revisou novamente para cima as previsões para a inflação em 2008. A expectativa para o IPCA subiu pela 9ª semana seguida, para 5,24%, acima dos 5,12% esperados até a semana passada. Para 2009, a previsão para o IPCA ficou em 4,5%.

Nos últimos dias, surgiram rumores no mercado financeiro de que, diante da deterioração da inflação ocorrida nas últimas semanas, o BC poderia anunciar um alvo mais alto do que a meta oficial deste ano, definida em 4,5%.

Teles lembra que a inflação de 2008 está saindo do radar do BC. Altas de juros levam de três a seis meses para chegar à atividade econômica e entre seis e nove meses para baixar a inflação. Portanto, decisões tomadas agora têm efeito mínimo sobre a inflação deste ano. O grosso do impacto da política monetária será sobre o índice de preços de 2009. Não faz sentido, assim, o BC dizer que vai perseguir uma meta ajustada em 2008 se o seu principal instrumento - a política monetária - tem efeito limitado sobre a inflação do ano.

É por esse motivo que, nas vezes em que foram adotadas metas ajustadas, o BC anunciou a decisão com maior antecedência. Em janeiro de 2003, por exemplo, o BC informou que iria perseguir uma meta ajustada de 8,5% para o ano, acima da meta oficial, definida em 4%. Na mesma ocasião, o BC anunciou também que iria mirar uma meta ajustada de 5,5% em 2004, acima da meta original, de 3,75%. Outro exemplo ocorreu em setembro de 2004, quando o BC anunciou que iria perseguir um objetivo de 5,1% em 2005, um pouco acima da meta daquele ano, de 4,5%.

Em todos os casos, a meta ajustada foi usada quando havia descontrole inflacionário relevante. No início de 2003, a inflação rodava em 12,5%, e o mercado financeiro esperava 11,5% para o ano. Num contexto como esse, tornava-se pouco crível o BC insistir em uma inflação de 4%.

Algo parecido ocorreu em setembro de 2004. A inflação fecharia aquele ano em 7,6%, e o mercado financeiro projetava uma inflação de 5,73% para o ano seguinte, bem acima da meta, de 4,5%. A meta ajustada foi entendida, naquela época, como uma ponte que iria conduzir, em dois anos, as expectativas inflacionárias para a meta oficial, de 4,5%.

Em tese, o BC poderia até vir a anunciar uma meta ajustada para 2009, dependendo da evolução da inflação nos próximos meses. Mas, na opinião de analistas econômicos, não seria recomendado fazer isso neste momento. "Seria contraproducente", afirma Newton Rosa, da SulAmérica Investimentos.

Ele lembra que, apesar do cenário de relativa incerteza no curto prazo, o mercado financeiro ainda confia na capacidade de o BC controlar a inflação em 2009, tanto que as projeções estão em 4,5%. Nas próximas semanas, disse Rosa, a inflação projetada pode até ficar um pouco acima desse percentual, mas, para ele, 4,5% ainda é o centro da gravidade das expectativas. "É diferente de 2004, quando o BC anunciou uma meta ajustada para trazer a inflação para baixo", diz Rosa. "Agora, uma meta ajustada iria levar as expectativas para cima, e o BC teria que subir ainda mais os juros para controlar a inflação."