Título: Crítico do gasto público, Phelps defende o Bolsa Família
Autor: Grabois , Ana Paula
Fonte: Valor Econômico, 27/05/2008, Brasil, p. A4

Edmund Phelps, premio Nobel de Economia 2006, ontem no Rio: "A alta dos preços dos produtos primários é um tempo de oportunidade para o Brasil" Crítico dos gastos públicos na área social, o prêmio Nobel de Economia de 2006, o americano Edmund Phelps, vê no programa Bolsa Família um acerto do governo Lula que pode melhorar o dinamismo da economia brasileira. "É um grande passo na direção certa", afirmou ontem, após participar da abertura do XX Fórum Nacional, organizado pelo Instituto Nacional de Altos Estudos (Inae), no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Phelps defende o conceito de dinamismo econômico no lugar de crescimento econômico, com o aumento do número e da qualidade dos empregos, da produtividade e a inclusão social.

Segundo o economista, que se disse eleitor do candidato democrata a presidência dos Estados Unidos Barack Obama, há três condicionantes para que o dinamismo se desenvolva. Além da inovação tecnológica e científica em busca da produtividade, é preciso implementar políticas econômicas que contemplem a abertura comercial a outros países e o controle do gasto público na área de bem estar social.

Sem abertura econômica, a moeda local se deprecia e afeta a demanda interna e a produtividade, o que acaba reduzindo os postos de trabalho. Já o gasto social, segundo Phelps, passa a beneficiar a classe média em detrimento dos mais pobres. "Alguns crêem que isso (gasto social) não seja um ônus, mas essa economia não funciona", disse durante a palestra no BNDES. "O conjunto de políticas econômicas não precisa ser ortodoxo ou neoliberal", continuou, ponderando que sem estes três fatores, qualquer país fica impedido de conseguir um elevado crescimento econômico.

Sobre o Brasil, Phelps foi otimista quanto ao cenário de alta de preços no mundo e avalia que o Brasil pode criar uma oportunidade uma vez que o país é um grande produtor de commodities agrícolas e industriais. Esses produtos estão com suas cotações em alta devido ao crescimento da demanda, especialmente da China e Índia.

Phelps, entretanto, julgou ser necessário criar formas de desenvolver o dinamismo na economia brasileira para que em tempos de queda nos preços das commodities, os efeitos negativos sejam menos danosos. "A alta dos preços dos produtos primários é um tempo de oportunidade para o Brasil. Mas é muito importante manter o dinamismo da economia", disse Phelps. "Os preços estão em alta, mas às vezes eles caem", lembrou.

Na visão do jornalista Roger Cohen, colunista do New York Times, o Brasil tem os quatro elementos necessários a uma "alquimia" produtiva. Em sua palestra na abertura do Fórum Nacional, ontem, Cohen lembrou que a abundância de recursos naturais do Brasil é um ativo valorizado diante do ingresso, na economia global, de 37% da população mundial que vivem em China e Índia. Ou seja, diante de um mundo faminto por alimentos e energia.

O primeiro dos elementos dessa alquimia é a terra: 394 milhões de hectares de áreas agricultáveis, dos quais apenas 16% estão hoje plantadas. Nos EUA, lembrou Cohen, são 269 milhões de hectares, sendo que 70% já estão ocupados. (Com Agência O Globo)