Título: Desemprego e ameaças
Autor: Lima, Rubem Azevedo
Fonte: Correio Braziliense, 21/02/2011, Opinião, p. 14

De alguns anos para cá, o Brasil criou o melhor seguro contra o desemprego: a política. Essa, uma arte ou ciência de governar, não é emprego, mas atividade séria, em proveito da nação, do Estado e até do próprio político, se este a exercer honestamente. Os políticos, em geral dos partidos governistas, quando não eleitos, acham-se no direito de cobrar emprego daqueles a quem ajudaram eleger-se.

Isso piorou com a instituição da reelegibilidade para presidente, governadores e prefeitos, que permitiu alianças partidárias nas eleições proporcionais à Câmara Federal e assembleias legislativas. Por isso, nas representações eleitas, passaram a alinhar-se representantes cujos programas partidários adotam princípios quase diametralmente opostos.

Nas eleições com reelegibilidade, dois presidentes as disputaram e se reelegeram. O segundo, porém, sem isenção na disputa, juntou partidos em apoio à candidata que ele mesmo lançou e elegeu. Daí a multidão de políticos derrotados e eleitos, que não couberam nos ministérios, na direção de empresas públicas ou nos cargos em comissão. Foi um caos infernal de queixas e descontentamentos.

Eleita, Dilma pediu ao ministro Mantega um pacote corretivo dos desacertos da gastança de Lula, seu grande eleitor. Depois, ela mudou o mote eleitoreiro de Lula, %u201CBrasil, um país de todos%u201D, para %u201CPaís rico não tem pobreza%u201D, como a mostrar o fracasso de seu antecessor.

Ela revelou a miséria da pobreza oculta, que Lula ignorou, embora gastasse recurso público em propaganda e ajudas nada nobres, a torto e a direito. Com esses atos, ela desnudou Lula, quisesse ou não, mas assustou as facções desavindas do PT, os aliados políticos e a reação sindical. A esfinge Dilma faz, com Lula, esse jogo à vera ou à brinca? Só para impor o mínimo de R$ 545 ou para poder governar?

No seu diário %u2014 Piauí nº 53 %u2014, ela fala do cabelo de Edison Lobão, não dos fatos acima. Seu Diário vai continuar. Esperemos, para decifrá-la. PS: No último artigo, faltou o nome de Machado de Assis, que imortalizou, em crônica, os grandes senadores de seu tempo.