Título: PT veta aliança com o PSDB em BH, mas libera coligações em onze cidades
Autor: Jayme , Thiago Vitale
Fonte: Valor Econômico, 27/05/2008, Política, p. A6

O caso de Belo Horizonte é diferente de todos os outros e não pode haver aliança com a oposição. Esse foi o recado enviado ontem pela Executiva Nacional do PT aos petistas mineiros que apóiam uma coligação com o PSDB para a disputa da prefeitura. Por 13 votos a 2, a cúpula partidária reiterou o veto ao quadro montado na capital de Minas Gerais - decisão oposta à tomada sobre alianças semelhantes em outras onze cidades.

A Executiva Nacional tinha até ontem para se manifestar sobre diversas alianças pendentes em cidades com mais de 200 mil habitantes e capitais nas quais havia problemas - coligação com PSDB, DEM ou PPS, partidos de oposição ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). A palavra final deverá ser dada pelo Diretório Nacional, órgão máximo da hierarquia petista, no próximo fim de semana.

Belo Horizonte foi o primeiro caso a ser analisado. O governador de Minas Gerais, Aécio Neves (PSDB), e o prefeito da capital, Fernando Pimentel (PT), articulam aliança para apoiar Márcio Lacerda (PSB). Os petistas teriam o vice. Na reunião de ontem, o placar de 13 a 2 foi o mesmo da última deliberação da Executiva sobre o tema, há um mês.

O regimento interno do PT exigia uma nova análise do caso antes de o Diretório Nacional se pronunciar. "A Executiva cumpriu uma formalidade. Não encaramos como derrota. Perdemos na decisão de abril. Agora, não. Nem investimos na Executiva Nacional. Nosso foco é o Diretório", disse ontem o deputado estadual Roberto Carvalho (PT), que seria o vice na chapa de Lacerda.

A Executiva Nacional analisou, além de Belo Horizonte, 15 casos de cidades em situação semelhante. Em apenas quatro, rejeitou a aliança. Mas em todas as quatro, o PSDB seria a cabeça da chapa: Cabo Frio (RJ), Cláudia (MT), Açailândia (MA) e Xanxeres (SC). A única cidade na qual o PSDB era apenas um dos componentes da aliança e teve a coligação rejeitada foi a capital mineira.

"Belo Horizonte acabou ficando diferente. Ela poderia ser idêntica a outras coligações. Mas, nos outros casos, não houve a visibilidade de Belo Horizonte, o dedinho, a vontade e a ansiedade do Aécio para que desse certo", justifica a senadora Ideli Salvatti (PT-SC), líder do partido no Senado.

O entendimento na Executiva Nacional é de que o caso acabou sendo "nacionalizado" com a participação efetiva de Aécio e Pimentel. Alguns membros do Diretório Nacional favoráveis ao acordo mineiro tentam dar maior discrição à aliança, na tentativa de torná-la algo apenas local, sem reflexos para 2010.

"É uma bobagem criticar o acordo com o Aécio só porque ele é um suposto candidato do PSDB em 2010. O PT tem outras alianças que são até mais complicadas do que esta com Aécio. E, em Minas propriamente, a aliança não fortalece nem um milímetro a posição de Aécio, que já é boa", diz o prefeito Pimentel.

Casos iguais ao de Belo Horizonte tiveram tratamento oposto. Em Nova Iguaçu (RJ), onde Lindberg Faria (PT) tenta a reeleição, o PSDB foi aceito como parceiro dentro da coligação. Em Nova Friburgo (RJ), Itajaí (SC), Criciúma (SC), Araguaína (TO) e Linhares (ES) o apoio do PSDB também foi considerado bem-vindo.

No Guarujá, o apoio do DEM foi aprovado. Em Montes Claros (MG) e em Palmas, quem poderá apoiar o PT tranqüilamente será o PPS. Em Cáceres (PT), o partido poderá estar com a oposição, desde que PSDB, DEM e PPS não tenham a cabeça da chapa. Em São Vicente (SP), tanto o DEM quanto o PSDB poderão estar na aliança petista.

Depois de avisar que poderia ir à Justiça caso o Diretório Nacional desautorizasse a aliança, o grupo de Pimentel diminuiu o tom na tarde de ontem. Disseram que vão acatar a decisão da cúpula. Mas já ensaiam uma forma de burlar um possível revés. "Essa aliança vai acontecer de todo jeito, ou formalmente ou informalmente. É isso que pensam a cidade e os grandes líderes de Belo Horizonte. Essa aliança já tem a aprovação da população", disse Roberto Carvalho. Há a possibilidade de o PSDB não fazer parte formalmente da coligação. (Colaborou Raymundo Costa)