Título: México desonera importação de comida
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 27/05/2008, Internacional, p. A12

O governo do México decidiu eliminar tarifas de importação de trigo, milho e arroz, num plano para forçar uma ampliação da oferta dos produtos no país e conter a disparada dos preços de alimentos. A medida, apresentada pelo presidente Felipe Calderón, pretende evitar que a alta de preços provoque protestos como os vistos no ano passado tanto no México quanto em outros países, como Haiti e Tailândia.

Nos últimos meses, da Argentina até a Rússia, os governos têm tomado medidas para conter o que a ONU chama de "crise de comida". No fim de semana, Calderón culpou a alta dos alimentos a fatores internacionais, como o aquecimento do consumo na China e na Índia e o uso de milho para a produção de etanol. "Não vamos permitir que as famílias mais pobres paguem pelas consequências de uma situação criada fora de nossas fronteiras", disse.

A abertura deve beneficiar em especial alguns parceiros comerciais latino-americanos do México, entre eles Colômbia, Nicarágua e Costa Rica, cujos produtos ainda enfrentam tarifas elevadas. A idéia, no entanto, foi mal recebida por muitos produtores agrícolas mexicanos, para quem o fim das tarifas representa um golpe contra a produção nacional.

O plano prevê a eliminação de tarifas de importação de trigo, arroz, milho (branco e amarelo), além de criar uma cota de importação isenta de impostos para feijão, sorgo e pasta de soja.

A elevação dos preços no México já provocou protestos de rua e vem pressionando a inflação. Em abril, o índice de preços ao consumidor anual disparou para 4,55%, puxado pela alta do tomate, frango, pão, abacate, entre outros itens. Foi a maior taxa de inflação desde 2005. No ano passado, os preços da tortilha de milho dobraram, em parte por causa do boom do etanol nos EUA.

As novas medidas produzirão uma mudança substancial no acesso ao milho, por exemplo, em alguns países da região. Até então, o milho da Nicarágua, para entrar no México, era taxado em 79%; o da Costa Rica, em 40,6%; o da Colômbia, em 28%, e o da Bolívia, em 36%. Mas as compras de Moçambique e África do Sul (que representaram 19% das importações no primeiro semestre de 2007) são taxadas até agora em nada menos que 194%. No caso da sêmola de trigo, o produto colombiano é ainda um dos mais taxados entre os países da região: 28%. Já o arroz importado da maior parte dos países é taxado em 9%.

Para Margarito Montes Parra, secretário-geral da Unión General Obrera, Campesina y Popular, o governo está estimulando importações de emergência, mas peca porque, segundo ele, não ataca de frente os problemas da agricultura mexicana. Pequenos produtores há anos se queixam do desmantelamento de agências estatais de compra de alimentos.

Além do fim das tarifas dos grãos, o governo eliminará impostos de importação de fertilizantes. E prometeu um programa de crédito preferencial para cerca de 500 mil pequenos agricultores.