Título: OIE restabelece status de livre de aftosa de 10 Estados e do DF
Autor: Moreira, Assis
Fonte: Valor Econômico, 27/05/2008, Agronegocios, p. B11
Para Pratini de Moraes, decisão é importante do ponto de vista sanitário, mas inócua sob a perspectiva comercial A Organização Mundial de Saude Animal (OIE) restabeleceu ontem o status sanitário de 10 Estados brasileiros mais o Distrito Federal como livres de febre aftosa com vacinação, porém deixou o Mato Grosso do Sul de fora. Nesse Estado foi registrado foco de febre aftosa em 30 de setembro de 2005. Logo depois o Ministério da Agricultura confirmou focos também no Paraná. Os episódios levaram a OIE a suspender o status sanitário de algumas regiões do país e à interdição da carne brasileira na Europa e em outros mercados.
Ontem, em Paris, na abertura da 76ª Sessão Geral plenária da OIE, o secretário de Defesa Agropecuária do Ministério da Agricultura, Inácio Kroetz, reiterava que a decisão só sairia hoje, enquanto a OIE a publicava em seu site. Em nota, o Comitê Científico para Doenças Animais da OIE anunciou que recuperaram o status de livre de aftosa com vacinação Bahia, Espírito Santo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Sergipe e Tocantins, do chamado grupo 1, além de São Paulo, Goiás, Mato Grosso, Paraná e Distrito Federal, no grupo 2.
Em comunicado do ministério, Kroetz disse que o comitê da OIE solicitou informações adicionais sobre o Mato Grosso do Sul e que parte delas já foi entregue. Segundo ele, "o conjunto dessas informações será avaliado em julho próximo, o que poderá culminar também com o reconhecimento daquele Estado". Por meio de sua assessoria, a secretária de Produção, Indústria e Comércio de Mato Grosso do Sul, Tereza Corrêa da Costa, disse que "as informações complementares vão ser enviadas ao governo federal assim que os procedimentos forem concluídos". Em viagem oficial ao Japão, ela informou que o Estado precisa concluir algumas atividades na zona de alta vigilância, que inclui 14 municípios na fronteira com o Paraguai. Um relatório de atividades implementadas e em execução já havia sido entregue ao ministério.
O efeito da decisão da OIE no curto prazo ainda é incerto, uma vez que fica a cargo dos países definirem de que país vão comprar. A União Européia, por exemplo, impõe hoje restrições à carne brasileira - alegando problemas na rastreabilidade - e a decisão da OIE não deve alterar esse quadro.
Ontem, em São Paulo, o ministro da Agricultura Reinhold Stephanes disse, conforme comunicado de sua pasta, que "a abertura de novos mercados para a carne brasileira deve ser o principal resultado do reconhecimento" da OIE. Admitiu, porém, que o impacto financeiro para as exportações no curto prazo é quase inexistente porque a procura por carne é tão grande que tem sido difícil ampliar as exportações.
Pratini de Moraes, ex-presidente da Associação Brasileira da Indústria Exportadora de Carne Bovina (Abiec), concorda. Ele disse que a decisão é "importante do ponto de vista sanitário, mas não terá grande efeito comercial porque o mercado está aquecido" e (...) "há escassez de carne bovina". Ele espera, porém, que a decisão da OIE leve o Chile a retomar as importações de carne de São Paulo. Segundo Pratini, o Chile argumentava que São Paulo estava com o status suspenso, por isso vetou as compras. A situação mudou.
Em Paris, o secretário de Agricultura de São Paulo, João Sampaio, afirmou que o restabelecimento do status sanitário do Estado ajudará na conquista de novos mercados. Ele irá ao Chile em julho negociar a retomada das vendas.
Beneficiado pela resolução da OIE, o Paraná espera recuperar ainda este ano o volume de exportação anterior à aftosa. Foram 40,7 mil toneladas e cerca de US$ 100 milhões em 2004, número que despencou para 10,4 mil toneladas e US$ 21 milhões em 2007. Para vender 30 mil toneladas a mais nos próximos meses, representantes do governo e do setor produtivo disseram ontem o que pretendem fazer. "Todos seremos marqueteiros", disse o secretário da Agricultura, Valter Bianchini.
Depois de cerca de R$ 600 milhões em prejuízos - de acordo com o Sindicarne -, persiste a dúvida entre integrantes do governo e criadores de que o Paraná tenha registrado de fato aftosa. "Nunca se confirmou por completo, mas não queremos olhar para trás", disse Bianchini. "Foi uma lição sofrida". (Colaboraram Alda do Amaral Rocha e Valor Online, de São Paulo, Mauro Zanatta, de Brasília, e Marli Lima, de Curitiba)