Título: Déficit externo já supera US$ 14 bi
Autor: Ribeiro , Alex
Fonte: Valor Econômico, 27/05/2008, Finanças, p. C1

O déficit em conta corrente voltou a subir em abril, chegando a 1,08% do Produto Interno Bruto (PIB), no resultado acumulado em 12 meses. Pelas projeções do Banco Central, o indicador ainda deverá registrar ligeira alta em maio, em virtude de um resultado negativo de US$ 1,5 bilhão esperado para o mês. Mas a autoridade monetária espera que, daí por diante, se estabilize em torno de 1% do PIB.

No primeiro quadrimestre, o déficit em conta corrente chega a US$ 14,068 bilhões, o que já supera o resultado negativo esperado pelo BC para todo o ano, de US$ 12 bilhões. O chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, pondera que não é correto extrapolar o desempenho do primeiro quadrimestre para o resto do ano. "Nossa expectativa é que o país possa gerar superávits daqui por diante", afirma Lopes. De qualquer forma, ressalvou, as projeções são passíveis de revisão em junho.

A conta corrente sofreu uma virada de US$ 16,115 bilhões entre o primeiro quadrimestre de 2007 e de 2008, passando de superávit de US$ 2,047 bilhões para déficit de US$ 14,068 bilhões. Cerca de metade dessa virada, ou US$ 8,319 bilhões, se refere à redução no superávit comercial, que saiu de US$ 12,898 bilhões para US$ 4,579 bilhões entre o primeiro trimestre de 2007 e o de 2008. O segundo fator maior importante é um aumento de US$ 7,183 bilhões nas remessas de lucros e dividendos, que saltaram de US$ 5,175 bilhões para US$ 12,358 bilhões. Lopes diz que parte da queda no superávit comercial já era esperada, em razão do maior aquecimento da demanda doméstica, que puxa a importação de bens para consumo e investimento, e da valorização do real. A projeção do BC é que o saldo comercial, que fechou em US$ 40,028 bilhões em 2007, tenha superávit de US$ 27 bilhões neste ano.

Mas, segundo Lopes, houve fatores conjunturais que prejudicaram o embarque de mercadorias. É o caso, afirmou, do atraso do embarque de soja; de protestos que paralisaram uma das ferrovias da Vale do Rio Doce; de manifestações de agricultores na Argentina, que prejudicaram o trânsito de mercadorias para países sul-americanos; e, mais recentemente, da greve da Receita Federal. "Passado o período mais crítico, a balança comercial começa a reagir, e a perspectiva é de números mais favoráveis daqui por diante", afirma Lopes. Ele destaca que, para maio, a projeção oficial é um déficit em conta corrente de US$ 1,5 bilhão, ainda maior do que o déficit de US$ 151 milhões observados no mesmo mês do ano passado, mas de qualquer forma uma melhora importante em relação aos déficits superiores a US$ 3 bilhões observados nos primeiros meses do ano.

Lopes diz que espera uma estabilidade ou mesmo queda das remessas de lucros e dividendos. Segundo ele, as remessas estão sendo puxadas pelos setores financeiro (envio de US$ 3,446 bilhões no primeiro quadrimestre) e automobilísticos (US$ 1,881 bilhão). "São setores que estão remetendo recursos para cobrir prejuízos registrados pelas matrizes", diz Lopes. "Em algum momento, esses setores vão deixar de remeter tanto."