Título: País só mantém 7,3% da Mata Atlântica
Autor: Maia , Samantha
Fonte: Valor Econômico, 28/05/2008, Brasil, p. A6

O crescimento dos setores agropecuário e imobiliário estão tomando espaço da Mata Atlântica no país, que hoje está reduzida a 7,26% da sua área original, o equivalente a 97,6 mil km2. O índice é bem mais baixo do que a porcentagem mínima de preservação exigida por lei, de 20%.

Os números são do mais recente levantamento da fundação SOS Mata Atlântica nos 17 Estados que abrigam esse tipo de bioma. A inclusão dos seis Estados do Nordeste na pesquisa fez com que o índice de conservação aumentasse em relação aos 6,98% divulgados pela instituição em 2006. Também foi confirmada uma redução de 69% na taxa de desmatamento no período de 2000 a 2005 em relação ao período de 1995 a 2000.

A continuidade de desmatamento nos municípios mais críticos de cada Estado de 2005 a 2007, no entanto, preocupa os coordenadores da pesquisa. Das 51 cidades monitoradas, apenas três não apresentaram novos desmatamentos. Doze delas tiveram um desflorestamento anual maior que no período de 2000 a 2005.

As taxas de desmatamento caíram em 30 desses municípios, mas segundo Flávio Ponzoni, coordenador técnico do estudo pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), as quedas ocorreram principalmente em locais onde a cobertura da mata já foi fortemente alterada. "Se há pouco, desfloresta-se pouco", diz. Onde ainda há algo a ser alterado, as taxas se mantiveram elevadas.

Um exemplo disso é Santa Catarina, que possui 23,8% da área original de mata preservada, índice menor apenas que o do Ceará (31,4%). O território catarinense foi o que teve mais áreas devastadas de 2000 a 2005 (45,5 mil hectares), uma alta de 7% em relação ao que tinha sido desmatado no período anterior, de 1995 a 2000.

O Atlas da Mata Atlântica (nome do estudo) detectou que as áreas mais preocupantes de desmatamento estão, além de Santa Catarina, nos Estados do Paraná, Bahia e Minas Gerais, locais que concentram maiores porcentagens de cobertura nativa. "Nos demais, pouco sobrou e o que existe encontra-se em região com relevo acidentado", diz Marcia Hirota, coordenadora do estudo pela SOS Mata Atlântica. Os Estados do Espírito Santo, São Paulo e Rio de Janeiro apresentaram reduções no desmatamento de 2000 a 2005 (quedas de 95%, 91% e 85% respectivamente), mas Marcia explica que são casos típicos em que o que sobrou encontra-se em locais de difícil acesso e menos interessantes para a expansão imobiliária.

Desde o primeiro estudo realizado pela fundação, foi registrada a perda de 16 mil km2 de área de Mata Atlântica, o equivalente a metade de Alagoas. Os maiores blocos de mata estão no Corredor Sul do Rio de Janeiro, na Serra do Mar de São Paulo, e no litoral norte do Paraná até Santa Catarina, no Parque Nacional do Iguaçu.

O levantamento que abrange os anos de 2005 a 2007, feito só com as cidade com índices de desmatamento mais forte, dá alguns alertas. Segundo a coordenadora, no Rio de Janeiro, por exemplo, a média anual de área desflorestada triplicou entre 2005 e 2007 comparado os anos de 2000 a 2005. "Em valores absolutos o desmatamento foi baixo, mas em percentuais é um alerta para o Estado", diz.

Marcia Hirota diz que hoje o que mais contribui para a destruição da Mata Atlântica é o que ela chama de "novo ciclo da agricultura", caracterizado pelo aumento do valor das commodities agrícolas. "O aumento do poder aquisitivo, do consumo, do preço da terra, tudo influencia no momento em que áreas em processo de regeneração natural estão sendo suprimidas para algum tipo de uso e ocupação da terra", diz.

Com o fortalecimento da produção de biocombustíveis no Brasil, Ponzoni alerta que compatibilizar o desenvolvimento desse mercado com a preservação da floresta será um desafio. "Tudo é perigoso se não aliarem resultados de pesquisas voltadas à preservação e a produção de energia", diz ele.

Mario Mantovani, diretor de mobilização da fundação SOS Mata Atlântica, diz que a preservação da bioma depende de maior fiscalização, e do respeito à regra de reserva legal de 20%. Incentivos fiscais aos produtores que preservam também são políticas defendidas como eficientes pela fundação.