Título: México eleva gasto social contra a alta dos alimentos
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Fonte: Valor Econômico, 28/05/2008, Internacional, p. A11
O México anunciou uma nova forma de enfrentar o impacto provocado pela alta mundial dos preços dos alimentos. Em vez de apenas restringir exportações ou tentar ampliar a oferta interna de comida cortando tarifas de importação, o presidente mexicano, Felipe Calderón, disse que o governo federal vai aumentar a valor repassado a famílias de baixa renda no programa nacional de transferência de renda.
Na mesma linha, o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) lançou ontem um linha de crédito US$ 500 milhões para ajudar países latino-americanos a enfrentar a alta dos preços dos alimentos. A linha será destinada a ampliar programas de transferência de renda para garantir que famílias pobres tenham acesso a comida. Por trás das duas iniciativas, a mesma preocupação: o impacto da inflação dos alimentos, que pode aumentar a pobreza na região.
Em um pronunciamento em cadeia nacional na segunda-feira à noite, Calderón, um político de centro-direita, anunciou um novo programa de ajuda em dinheiro. Chamado de Vivir Mejor (Viver Melhor), o programa se destina a aliviar o impacto da alta dos alimentos e atenderá a todos os beneficiários já inscritos em programas do governo federal.
O México, assim como o Brasil, possui um grande programa social "guarda-chuva" chamado Oportunidades, que atende a quase 26 milhões de pessoas em todo o país. O Bolsa Família, do governo federal brasileiro, foi em parte inspirado nessa iniciativa mexicana.
Com o adicional do novo programa, a ajuda mensal média por família no México passará de 535 pesos a 655 pesos - um incremento de 120 pesos (algo em torno de R$ 25). Dos atuais 535 pesos, 195 pesos são destinados para gastos com alimentos. Agora, a fatia para comida salta para 365 pesos. No México, o salário mínimo diário é de o equivalente a R$ 10. Segundo Calderón, o reajuste representará um gasto extra de 4,5 bilhões de pesos, ou R$ 900 milhões.
"O apoio alimentar Vivir Mejor é um esforço para ajudar as famílias a fim de que possam seguir comprando seus alimentos e que não tenham de sacrificar outros gastos tão importantes, com educação e saúde", disse Calderón.
Os preços ao consumidor no México subiram 4,55% entre abril deste ano e abril de 2007, puxados pelas altas do tomate, frango, pão e outros itens alimentícios. No ano passado, o preço da tortilha dobrou, em parte pelo boom do etanol nos EUA, que fez aumentar a demanda e os preços do milho.
Calderón já adiantara no domingo a eliminação de impostos de importação de trigo, milho e arroz como forma de ampliar a oferta dos grãos e conter a inflação.
Nos últimos dois anos, os preços dos alimentos pelo mundo dobraram. Em alguns países, as famílias pobres já gastam 84% de seus ganhos com comida, segundo o BID.
Diante dessa alta, alguns governos na América Latina têm optado por caminhos distintos do do México. A Argentina elevou uma taxa para a exportação de soja e de outros grãos, abrindo uma enorme polêmica com ruralistas. O governo da Bolívia, proibiu a exportação de óleos vegetais, provocando também a ira dos produtores.
No caso do México, o programa de transferência de renda prevê contrapartidas das famílias beneficiárias, como manter os filhos na escola e seguir agenda de vacinação. A linha do BID reforçará programas com formato semelhante, aumentando os recursos para compra de alimentos. Os recursos também poderão ser usados em investimentos em infra-estrutura, ampliação ao crédito e assistência técnica, medidas que poderão aumentar a produção de alimentos.
"O risco para a região é muito real", disse Luis Alberto Moreno, presidente do BID. Para ele, a redução da pobreza na região obtida com estabilidade econômica recente poderá não se sustentar "se nada for feito".