Título: BM&F Bovespa quer integração com outras bolsas da América Latina
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Fonte: Valor Econômico, 28/05/2008, Finanças, p. C2
Gilberto Mifano, presidente do novo conselho: bolsa vale mais que Nasdaq A BM&F Bovespa, bolsa que surgiu da fusão entre a Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F) e da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), pretende retomar o processo de integração das bolsas latino-americanas, paralisado no ano passado por conta da abertura de capital das duas instituições. A nova empresa também não descarta a aquisição de outras instituições na região, como a Bolsa do México, que abre o capital em junho, e já atraiu a atenção da Bolsa da Espanha, que pretende ficar com 5% do capital da empresa mexicana.
O número de acordos, fusões e aquisições entre bolsas de valores dobrou em 2007. Foram nada menos que 117 operações, das quais 37 fusões, 5 desmutualizações e 70 memorandos de atendimentos entre instituições. Os dados foram citados ontem na primeira apresentação pública dos executivos da nova bolsa após a aprovação da fusão, no início do mês.
Gilberto Mifano, presidente do conselho de administração provisório da nova instituição, e Manoel Felix Cintra Neto, conselheiro, participaram de um café da manhã com sócios do Instituto Brasileiro de Executivos Financeiros (Ibef).
Mifano destacou que a BM&F Bovespa, com valor de mercado de US$ 23,3 bilhões, vale mais que bolsas como Nasdaq e a Bolsa de Valores de Londres (LSE, em inglês), que negociam volume de ações muito maior que aqui. "Valemos mais porque temos muito a crescer no Brasil e na América Latina. Elas (as duas bolsas citadas) já estão maduras."
Segundo Mifano, vai ser feito um trabalho simultâneo para crescer no mercado brasileiro e na região da América Latina, tentando atrair empresas para cá. Segundo ele, aquisições serão feitas se fizerem sentido "estratégico" e derem retorno. "Não é porque temos dinheiro em caixa que vamos sair comprando."
A integração das bolsas da região começou a ganhar corpo em 2004. Pelo projeto, um investidor mexicano pode negociar papéis brasileiros por meio de uma corretor e vice-versa. Como a própria Bolsa de Valores do México também está abrindo o capital, as negociações emperraram.
Cintra Neto contou que a fusão entre Bovespa e BM&F começou a ser discutida no ano passado, antes da abertura de capital das duas bolsas. "Mas vimos que não era o momento." As duas bolsas preferiram aproveitar a janela de oportunidade no mercado e abriram o capital. No dia da oferta da BM&F, diz ele, foi dada uma "indicação simbólica" de que a fusão aconteceria. Um tapete vermelho ligando as duas bolsas foi colocado entre os dois prédios, no calçadão do centro velho de São Paulo.
Em janeiro, as conversas foram retomadas e, em poucas semanas, chegou-se ao desenho atual. A nova bolsa precisa de autorização da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), do Banco Central e do Cade. Esta semana entrega os papéis na CVM para pedir o registro de companhia aberta. A sede da nova empresa será no prédio da BM&F.
Segundo Cintra Neto, as economias e ganhos com a fusão ainda não estão refletidos no preço das ações das duas bolsas. "A nova bolsa tem tudo para se tornar a maior do mundo."
Mifano diz que no mundo globalizado, a concorrência entre as bolsas também virou global. "A segunda maior bolsa brasileira é a Bolsa de Valores de Nova York", disse ele, se referindo aos papéis das empresas do país listados em Wall Street, os American Depositary Receipts (ADRs).
Segundo estudo da Economática, os ADRs estão com volume diário de negócios maior que a Bovespa. Este mês, até o dia 26, os ADRs movimentaram US$ 4 bilhões em média ao dia, frente a volume de US$ 3,6 bilhões na Bovespa. Os dois valores são recordes. Petrobras e Vale estão entre os papéis mais negociados nos Estados Unidos.