Título: Economistas prevêem que Selic atingirá 14,25%
Autor: Ribeiro , Bianca
Fonte: Valor Econômico, 29/05/2008, Brasil, p. A4

Para domar a inflação e evitar o comprometimento da meta do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em 2009, o Banco Central (BC) terá que promover um ciclo de aperto monetário de pelo menos três pontos percentuais, elevando a Selic de 11,75% para 14,25%, já considerando a alta de 0,50 ponto percentual aplicada na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom). Esse é um consenso entre economistas que participaram de evento organizado pela Associação de Traders de Mercados Emergentes (EMTA, na sigla em inglês), em São Paulo.

Há divergência, no entanto, sobre a dosagem da alta a cada reunião do comitê. Para o economista Luiz Carlos Mendonça de Barros, da Quest Asset Management, as atuais condições de demanda interna e o choque externo de preços autorizam o BC a surpreender novamente o mercado e elevar o custo do dinheiro em 0,75 ponto percentual na semana que vem.

"Passamos do ponto ótimo e o BC tem que tomar medidas para fazer a inflação cair de 2 a 3 pontos percentuais nos próximos 12 meses", diz. O ideal, afirma, seria conjugar a alta do juro com redução de gastos públicos e restrição de crédito, mas ele se mostra cético em relação ao uso dessas ferramentas adicionais, por parte do governo, para conter a demanda.

Alexandre Schwartsman, economista-chefe do Santander e ex-diretor de Assuntos Internacionais do BC, concorda com a percepção de que os gastos do governo continuarão em elevação e que o caminho do controle de preços é a alta do juro. Avalia, no entanto, que o Copom pode manter o ritmo de elevação da Selic em 0,50 ponto percentual na próxima reunião e sustentar ciclo total de alta entre 2,5 pontos e 3 pontos percentuais.

Schwartsman afirma não acreditar em "inflação importada" pela alta global de preços de alimentos e diz que os indicadores são pressionados essencialmente pelo consumo interno. "A dinâmica do conjunto de dados mostra que não fomos um transeunte inocente que pegou uma inflação importada", diz, lembrando que os preços de serviços comprovam que não se trata apenas de alta de alimentos.

Embora a inflação preocupe, os economistas acreditam que a atuação do BC tende a ser eficiente para combatê-la, sem ajustes "dramáticos". Essa é a avaliação de Eduardo Loyo, economista-chefe do UBS Pactual. Para ele, não é preciso que o Copom desvie a trajetória de 0,50 ponto percentual de alta na próxima reunião. "Não é uma tarefa impossível de atingir com o uso civilizado dos instrumentos."

Loyo acredita que o BC deve se empenhar em convencer o mercado de que o aperto monetário será eficiente para conter os preços, pois há certo pessimismo no mercado em relação a isso. "Já estamos no 6 mês consecutivo de inflação mensal de 0,5% ou mais", lembra.

Luiz Fernando Figueiredo, sócio da Mauá Investimentos, é mais otimista. Para ele, o processo inflacionário no curto prazo é "no mínimo" duvidoso, mas ainda é cedo para afirmar que a situação é dramática. Figueiredo avalia que o formato adotado pelo BC até o momento é adequado, ou seja, analisar os indicadores a cada 40 dias para definir o tamanho do ajuste. Ele também aposta em alta total de juro de 3 pontos percentuais.