Título: Empresas devem acelerar medidas para reduzir emissões
Autor: Chiaretti , Daniela
Fonte: Valor Econômico, 29/05/2008, Brasil, p. A6

Enquanto os negociadores internacionais trabalham para traçar os preâmbulos do segundo compromisso do Protocolo de Kyoto - Kyoto 2, como dizem os europeus, ou o pós-2012, como preferem os norte-americanos -, as empresas no Brasil deveriam acelerar o passo e identificar como podem cortar suas emissões de gases-estufa. Seria antecipar-se ao inevitável, acreditam consultores da área. Esta deveria ser uma preocupação empresarial de planejamento de longo prazo assim como montar estruturas de governança climática.

As sugestões surgiram ontem durante o seminário Crédito de Carbono e Mudanças Climáticas - Propostas e Desafios para a Sustentabilidade Ambiental, em São Paulo, promovido pelo Valor e com patrocínio da Companhia Brasileira de Energia Renovável (Brenco) e ArcelorMittal. O evento reuniu 200 participantes.

"O momento é de um ambiente institucional em mudança", lembrou Roberto Kishinami, consultor para mudanças climáticas da Brenco. Ele se referia às definições que precisam ser acertadas para que o mundo saiba o que fazer depois de 2012. Os países ricos têm, até lá, cortes obrigatórios de emissões de gases do efeito-estufa, mas os emergentes e em desenvolvimento não têm metas. Agora o quadro está mudando e há peças novas no tabuleiro.

O corte de emissões com enfoque setorial é uma das novidades do debate internacional dos últimos tempos. Entram na discussão as cadeias produtivas do alumínio, cimento e energia, e o foco inclui empresários nas conversas que até agora eram só de governos. Outra questão é onde colocar a linha de base para que se façam as reduções. Se for em 2012, por exemplo, ficarão penalizados quem já fez esforços de cortes de emissão a partir de 1990 (o ano base do primeiro período de Kyoto). E mesmo a eterna polêmica - que emergentes como Brasil, China e Índia deveriam ter metas de redução de emissões- pode ter algum ponto positivo, entende Kishinami. "Esta é uma discussão de dois lados", diz ele. "Com metas, teríamos, de fato, um comércio de emissões."

"Temos que abrir o horizonte em relação ao MDL", afirmou Isaías Macedo, consultor de tecnologia da Brenco e pesquisador visitante do núcleo interdisciplinar de planejamento energético da Universidade de Campinas (Unicamp). O MDL é a sigla para Mecanismo de Desenvolvimento Limpo, um instrumento previsto no Protocolo de Kyoto e que impulsionou o mercado de créditos de carbono. A lógica é a seguinte: os países ricos podem comprar créditos de carbono de projetos de tecnologia limpa situados em nações em desenvolvimento. "Este é o 'drive' que vai puxar a tecnologia mundial com uma intensidade muito maior ao que foi feito até agora."

O etanol, que está no epicentro de uma polêmica internacional, evitou, em 2007, que os carros no Brasil emitissem 26 milhões de toneladas de CO2 equivalente, defendeu Macedo. Em 2012, para uma produção de 33 milhões de m3 de etanol, a emissão evitada alcançaria 44 milhões de toneladas de CO2 equivalente, calcula.

"O Brasil não é um 'player' importante no mercado de carbono", disse Carlos Henrique Delpupo, diretor do Instituto Totum, consultoria que trabalha, entre outras áreas, com sustentabilidade empresarial. Índia e China têm fatias bem mais expressivas do mercado mundial, em função, principalmente, de terem matriz energética ambientalmente suja e baseada em carvão. "Não somos competitivos em volume, mas podemos fazer diferença com projetos de qualidade", prosseguiu. "E como nos tornamos diferentes? A resposta é ter uma base de sustentabilidade." Segundo ele, "cada vez mais, as mudanças climáticas estão na pauta das empresas e se transformaram em item estratégico."

Para Maurik Jehee, superintendente de vendas de crédito de carbono do Banco Real, o fato de o Brasil ainda não ter uma regulamentação para o mercado de carbono é o maior risco que existe hoje para negócios nesta área.