Título: Meirelles diz que política monetária visa controlar a inflação de 2009
Autor: Ribeiro , Alex
Fonte: Valor Econômico, 29/05/2008, Finanças, p. C2

O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, sinalizou ontem que as decisões de política monetária tomadas daqui por diante visam controlar a inflação do próximo ano. "O ano de 2009 é o horizonte adequado para o planejamento do BC e, para esse ano, as expectativas estão ancoradas no centro da meta." O objetivo definido é de 4,5%.

Durante depoimento no Congresso Nacional, Meirelles explicou que é normal que a inflação ao longo do tempo gravite em torno do centro da meta, ora ficando abaixo dele, ora acima. Para 2008, o mercado espera que a inflação fique em 5,24%, portanto acima do centro da meta, de 4,5%. "É muito raro, quase uma coincidências estatística, que a inflação fique exatamente na meta", afirmou.

Segundo ele, o BC calibra sua política monetária com antecedência, e as decisões levam tempo para se transmitirem à inflação - período durante o qual a economia está sujeita a choques externos que fazem a inflação subir ou cair, como a recente alta nos preços dos alimentos. "O importante é que o BC tome as providências para que a inflação orbite em torno da meta."

Meirelles disse que o BC não foi surpreendido com a recente aceleração inflacionária, já que a autoridade monetária vinha há algum tempo incorporando essa possibilidade em seu cenário de risco. "O BC vinha dizendo que havia o cenário básico para a inflação e que vinham aumentando os riscos à concretização desse cenário básico." Respondendo a perguntas de parlamentares, Meirelles disse que, em tese, uma elevação do superávit primário contribuiria para reduzir a taxa básica de juros na economia. Mas, frisou ele, essa não é uma decisão que cabe ao BC, mas sim à sociedade, por meio do Executivo e do Legislativo, que decidem a prioridade dos gastos públicos.

O presidente do BC descartou medidas de restrição do crédito como forma de reduzir a inflação. Segundo ele, as decisões de política econômica se dividem em dois grupos: estruturais e conjunturais. O aumento do crédito, afirmou, é uma decisão estrutural, que decorre da estabilidade monetária e amplia a eficiência da economia. O controle da demanda agregada, disse, é uma decisão de conjuntura. "Já se foi o tempo no Brasil em éramos obrigados a tomar decisões estruturais para lidar com problemas conjunturais."

Há algumas semanas, o Ministério da Fazenda chegou a cogitar controles sobre o crédito, como limites de prazos para os empréstimos, para conter a demanda agregada e a inflação. Meirelles disse que eventuais medidas de controle de crédito, caso venham a ser tomadas, atenderiam exclusivamente a objetivos prudenciais, para garantir a solidez do sistema.

O senador Eduardo Suplicy (PT-SP), perguntou a opinião do BC sobre a possível incorporação da Nossa Caixa pelo Banco do Brasil. Meirelles disse que não é possível ainda opinar sobre o assunto porque existe apenas a negociação entre os dois bancos - e o governo do Estado não descarta completamente um leilão de privatização. "Não sabemos ainda se a Nossa Caixa será vendida e quem será o comprador", afirmou Meirelles.

Respondendo à pergunta de Suplicy, que se mostrou preocupado sobre os efeitos que a fusão da Nossa Caixa com o BB poderá causar sobre a competição, Meirelles citou estatísticas que mostram que o sistema financeiro brasileiro é pouco concentrado, comparado com outros países.