Título: Grupo saudita compra 49% da Unicel
Autor: Moreira , Talita
Fonte: Valor Econômico, 29/05/2008, Empresas, p. B3

A HiTs Telecom, empresa saudita de investimentos em telecomunicações, firmou acordo para adquirir 49% da Unicel - que detém licença para operar serviços de telefonia móvel em São Paulo, mas nunca entrou em atividade.

A compra, de valor não revelado, é o primeiro negócio do grupo saudita no Brasil. Criada em 2002, a HiTs atua no Oriente Médio e na África - em atividades como prestação de telefonia fixa e móvel, distribuição e varejo de produtos de telecomunicações e serviços de pagamentos por meio do celular. A empresa é pouco conhecida e não abre dados financeiros. A companhia já anunciou planos de abrir o capital no mercado saudita.

Segundo o noticiário especializado Telecom Online, a HiTs teria concordado em pagar US$ 62 milhões pela fatia na Unicel.

Numa nota enviada ao Valor, o presidente da Unicel, José Roberto Melo, declara que o aporte é "o necessário e o suficiente para dar tranqüilidade e assegurar o pleno cumprimento das metas estabelecidas pela empresa". Segundo ele, nos próximos dias será apresentado à Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) o pedido de aprovação do negócio.

Melo diz ser o principal acionista da Unicel, operadora criada por ele em parceria com o empresário americano Edward Jordan e a brasileira Gedilva Targino. Segundo o comunicado, o executivo mantém 51% da empresa. A HiTs, porém, tem a opção de assumir o controle nos próximos anos.

Já fazia algum tempo que os controladores da Unicel buscavam sócios. No ano passado, discutiram a venda de participação à família Constantino, controladora da companhia aérea Gol. As negociações chegaram a um patamar avançado, mas fracassaram. Uma das razões, segundo fontes a par do assunto, foi o descontentamento dos compradores com o vazamento, para a imprensa, de possíveis termos do acordo.

Há dois anos, os acionistas da Unicel diziam ter condições de captar US$ 120 milhões com fundos de participações nos EUA e na Europa. Com esses recursos, seria construída uma rede de 500 estações radiobase na Grande São Paulo. A operadora prometia se tornar a "Gol da telefonia móvel", oferecendo tarifas até 40% inferiores às praticadas no mercado. O projeto jamais saiu do papel.

A Unicel está envolta em polêmicas desde que surgiu. A primeira delas foi logo na obtenção da licença para atuar como a quarta operadora de telefonia móvel na região metropolitana de São Paulo. A empresa foi a única a apresentar proposta num leilão promovido pela Anatel em fevereiro de 2006. Porém, o resultado só foi homologado um ano mais tarde, depois que a Unicel obteve na Justiça o direito de depositar como garantia apenas 1% do valor da outorga, de R$ 93,8 milhões. O edital da Anatel previa 10%.

Em setembro de 2007, a Unicel participou de outro leilão, desta vez para disputar uma licença para atuar no interior paulista. Foi desclassificada pela Anatel e a outorga acabou ficando com a Oi, que está implantando uma rede de celulares no Estado de São Paulo. Três meses mais tarde, conseguiu reverter a desclassificação e reabrir o leilão. O episódio não alterou o resultado, mas levou a Oi a desembolsar mais recursos pela autorização.

Com a chegada da Oi, a Unicel terá de disputar o mercado paulista com quatro grandes operadoras. Vivo, TIM e Claro já atuam no Estado. A companhia precisará de uma estratégia muito bem costurada para competir com essas empresas, que têm marcas conhecidas e escala para negociar descontos na compra de equipamentos de redes e aparelhos de telefone.