Título: Azul negocia financiamento com BNDES
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 29/05/2008, Empresas, p. B4
A Azul Linhas Aéreas está em negociações "avançadas" para obter uma linha de financiamento junto ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para a compra de aeronaves Embraer, segundo o fundador e presidente do conselho da empresa, o empresário David Neeleman. "Queremos financiar o máximo possível com eles (BNDES), porque seria em reais e nossa receita será em reais", disse Neeleman, após uma coletiva ontem à tarde, para apresentação do logotipo da empresa.
A companhia tem, junto à fabricante brasileira, 38 pedidos firmes do jato do modelo 195 com capacidade para 118 passageiros e mais 38 opções de compra. Neeleman não disse qual montante está sendo negociado. Pelo valor de tabela, a aquisição custará US$ 1,6 bilhão, mas grandes clientes sempre obtêm descontos sobre o preço oficial.
Contudo, segundo o Valor apurou, a definição sobre o negócio ainda deve levar alguns meses. A Azul tem feito reuniões com a equipe técnica da instituição, mas ainda não apresentou uma carta consulta pedindo a linha de crédito. Além disso, o empréstimo só poderá ser concedido quando a Agência Nacional de Aviação Civil conceder-lhe o certificado de homologação. A previsão da Azul é que o documento seja outorgado em dezembro deste ano, quando a companhia recebe também as primeiras três aeronaves. O início dos vôos está previsto para janeiro.
Embora ainda não venda passagens, a empresa já fala em aumento das tarifas previstas caso a cotação do petróleo permaneça elevada - ontem, o barril do tipo Brent para julho fechou a US$ 130,93. "São tempos difíceis com o atual preço do petróleo. Estamos orando muito", brincou Neeleman. "As companhias aéreas são obrigadas a aumentar os preços para cobrir o custo." A TAM anunciou há cerca de duas semanas que aumentaria o valor que cada passageiro paga por quilômetro voado (chamado de "yield") em 7%, no mercado doméstico, e em 5%, no mercado internacional, neste ano. A Gol, por sua vez, não comunicou aumentos e em abril fez previsão de ligeira queda no "yield" para o segundo trimestre do ano. Sem elevar os preços, porém, as companhias aéreas têm pouca margem para absorver a forte elevação do combustível de aviação - no Brasil, o preço do insumo subiu 20% entre janeiro e maio deste ano, na comparação com igual período de 2007.
O temor da indústria é que tarifas mais altas constrinjam o crescimento da demanda de passageiros, num momento em que as companhias, ainda que num ritmo mais lento do que no passado, continuam incorporando mais aviões. "Com a economia aquecida como está, acreditamos que a demanda vai continuar aumentando", rebateu Neeleman. Segundo o vice-presidente de marketing da empresa, Gianfranco Beting, a Azul refez seus planos levando em conta um preço de até US$ 200 pelo barril de petróleo e "as contas continuam fechando."
Com apenas uma parte da equipe de vice-presidentes e diretores ocupada por executivos brasileiros e americanos que trabalharam na JetBlue, falta à Azul definir os nomes que ocuparão cargos importantes, como a própria presidência, a diretoria comercial e a financeira. Na área técnica, a maior parte da equipe está montada com executivos que foram da Varig, OceanAir, Embraer, VarigLog e Flex. (Colaborou Vera Saavedra Durão, do Rio)