Título: Dinheiro no banco
Autor: Felipe Frisch
Fonte: Valor Econômico, 17/02/2005, EU &, p. D1

Diante do cenário de alta taxa de juros e do aumento da procura por crédito, analistas olham com atenção as ações do setor bancário. A expectativa é de que os ganhos, que cresceram em 2004, sejam ainda mais expressivos este ano, beneficiando o investidor não só com os tradicionais dividendos regulares como com um ajuste de preços da ação quando o ganho for confirmado. Depois do lucro expressivo, de R$ 3,06 bilhões do Bradesco, as atenções se voltam para os papéis do Unibanco, que divulga seus números hoje, e do Itaú, no próximo dia 24. Apesar de estarem otimistas e apostarem em crescimentos acima de 10% para os lucros líquidos de 2004 em relação a 2003, os especialistas dizem que pode ser o momento de aproveitar para comprar os papéis que ainda não "colocaram no preço" os lucros do ano passado e deste ano. As ações preferenciais (PN, sem direito a voto) do Bradesco, por exemplo, já subiram 22,41% desde o início do ano, especialmente após o balanço. Se isso mostra que o ano é mesmo para colocar dinheiro nos bancos - via fundos ou comprando suas ações -, também deixa claro que outros concorrentes do setor podem se valorizar no curto prazo e tirar a diferença. Os papéis PN do Itaú são um dos casos, dizem os especialistas. Embora acumulem alta de 11,37%, podem subir mais. As ações do estatal Banco do Brasil têm valorização de 7,72% e as units do Unibanco - certificados que reúnem uma ação preferencial do Unibanco e outra da holding - vêm com valorização ainda menos expressiva, de 4,42% e podem estar perto da recuperação, dizem. "Vemos 2005 como o ano dos bancos, pois eles têm a taxa de juros alta no primeiro semestre a favor e a expectativa de crescimento da economia e aumento de crédito no segundo", diz Catarina Pedrosa, do Banif Investment Banking. Segundo ela, o momento pode ser para vender os papéis do Bradesco, embora continue defendendo que se trata de uma boa empresa para investir. Para o Itaú, ela projeta crescimento de 20,4% no lucro líquido anual de 2004 a ser divulgado na semana que vem, para R$ 3,795 bilhões. O crescimento da carteira de crédito já dá o tom dos balanços divulgados nesse início de ano, segundo Rafael Quintanilha, da Ágora Senior. "Os aumentos na taxa de juros no fim de 2004 ainda não reduziram o apetite do consumidor por bens duráveis", avalia. Pela avaliação da corretora, os juros próximos a 19% podem ser mantidos nos próximos três meses e, para o analista, não devem afetar a procura por empréstimos. "Só uma mudança drástica na taxa pode fazer os bancos mudarem a estratégia e saírem das operações de crédito para as de tesouraria", avalia. Com relação ao Banco do Brasil, cujos resultados saem no dia 21, o analista também tem uma avaliação positiva, de crescimento de 14% em 2004 em relação a 2003, para um lucro de R$ 2,7 bilhões. O problema para os papéis do banco oficial é justamente o que é uma vantagem dos concorrentes privados: o pagamento de dividendos. Enquanto Itaú e Unibanco distribuem cerca de 40% do lucro em dividendos aos acionistas e o Bradesco, 35%, o BB só distribui 25%, o mínimo exigido pela legislação societária, devido aos compromissos do banco com os projetos e as contas do governo. Uma das vantagens do setor com relação ao pagamento de dividendos é a freqüência: Itaú e Bradesco pagam todo mês, enquanto Unibanco e BB, semestralmente. Apesar disso, o percentual desse retorno sobre o preço das ações é baixo. Rafael Quintanilha estima para este ano, um "dividend yield" - dividendo em relação ao preço da ação - de 4,3% sobre os papéis do Itaú, 4,1% sobre as do Banco do Brasil e 7,2% em relação às do Unibanco sobre os resultados já de 2005. Para o chefe de análise da ABN Amro Real Corretora, quem tem uma das melhores relações entre dividendo e preço da ação ainda é o Bradesco, em torno de 6% atualmente. O banco divulgou recentemente o aumento dos seus juros sobre capital próprio - outra forma de remuneração, com base no lucro retido pela empresa nos anos anteriores - em cerca de 21% para esse ano. Um problema seria o banco fazer freqüentes ofertas de ações por preço mais baixo. O banco fica capitalizado, mas as ações se desvalorizam, diz Cataldo. Outro ponto negativo da relação entre a ação e os seus dividendos pode estar justamente na valorização dos papéis em bolsa, o que aumenta o denominador. "O setor bancário é bom pagador, mas com os juros elevados a procura pelas ações aumenta", afirma Quintanilha, da Ágora.