Título: Remessas das montadoras cresce 238%
Autor: Olmos , Marli
Fonte: Valor Econômico, 29/05/2008, Empresas, p. B6

Em apenas dois anos, de 2005 para 2007, o volume de remessas de lucros e dividendos que as filiais brasileiras dos fabricantes de veículos enviaram para o exterior cresceu quase cinco vezes e meia. Saiu de US$ 498 milhões em 2005 para US$ 2,702 bilhões, no ano passado. Surpreende ainda mais o crescimento já registrado pelo Banco Central do Brasil este ano. Somente de janeiro a abril, o total, de US$ 1,881 bilhão, foi 238,3% superior ao de igual período do ano passado e ultrapassa o volume de todo o ano de 2006.

O total enviado pelas montadoras às matrizes no primeiro quadrimestres equivale a 20,7% da soma de todos os lucros e dividendos que as empresas mandaram do Brasil para outros países, que foi de US$ 9,1 bilhões de janeiro a abril.

Dentro do grupo da indústria, que registra o volume de US$ 5,3 bilhões-, a participação das remessas dos fabricantes de veículos foi de quase 35%. Esse setor tem a fatia maior dentro do grupo da indústria. No total geral, perde apenas para o setor de serviços financeiros, que, de janeiro a abril registrou a remessa de US$ 2,28 bilhões, com participação de 25% no grupo de serviços.

Lucros e dividendos não são um tema que as montadoras gostam de tratar no Brasil. Se na Europa, Estados Unidos e Ásia é rotina para as suas matrizes prestar informações detalhadas para o mercado, no Brasil, à exceção da Renault e Fiat, nenhuma outra divulga o balanço financeiro.

O assunto, sempre tratado como generalidades pelos executivos que representam essas multinacionais no Brasil, foi, abordado numa recente visita do segundo homem no comando mundial da General Motors, Frederick Henderson. Na ocasião , ele confirmou o envio de dividendos da filial brasileira para os Estados Unidos e disse que a região que engloba a América do Sul é hoje a mais rentável na companhia. A Fiat obteve em 2007 um lucro líquido de R$ 1,666 bilhão, mais do que o dobro do resultado do ano anterior.

Entre as montadoras que chegaram no país há menos tempo, os resultados também são favoráveis. A Renault encerrou 2007 com lucro líquido de R$ 169,5 milhões, o primeiro resultado no vermelho desde a inauguração da fábrica, no final de 1998.

Segundo dados do Banco Central, o registro da entrada de investimentos estrangeiros diretos dos fabricantes de veículos registra um quadro diferente. Os volumes totais chegaram a US$ 607 milhões de janeiro a abril, crescimento de 83,4% na comparação com igual período de 2007.

O histórico do BC mostra, no entanto, uma redução nesses ingressos de investimentos no setor a partir de 2006, um período que coincide com o agravamento das crises de algumas montadoras nos seus países de origem. Isso aconteceu, sobretudo, com as americanas Ford e General Motors . Essas duas empresas foram obrigadas a enxugar drasticamente as operações na América do Norte. Essa reestruturação, ainda está em curso.

Os ingressos de investimentos estrangeiros na fabricação e montagem de veículos caiu de US$ 1,04 bilhão em 2005 para US$ 290 milhões, em 2006. No ano passado, o volume alcançou US$ 861 milhões, o que equivale a uma participação de 2,5% no total de ingressos registrado por todas as empresas, segundo dados do Banco Central.

Os ganhos que as subsidiárias brasileiras estão obtendo no Brasil e que, em vários casos, têm servido para compensar as perdas nas matrizes mergulhadas em crises financeiras, tem praticamente se sustentado no mercado interno. O crescimento de 8% a 10% que as montadoras projetam na produção de veículos este ano será puxado pelas vendas domésticas, que, por sua vez, se sustentam no crédito fácil. (Colaborou Nelson Niero)