Título: Mercado lança novos fundos ambientais
Autor: Oliveira , João Carlos
Fonte: Valor Econômico, 29/05/2008, Especial, p. F2

O Banco de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES ) está lançando dois novos fundos de private equity, voltados para projetos ambientais no âmbito do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), previsto no Protocolo de Kyoto. O primeiro já tem nome escolhido, Brasil Sustentabilidade, e será gerido pela Latour Capital. O segundo, em fase de definição de regulamento, terá gestão da BRZ Investimentos. A informação é de Otávio Vianna, gerente da área de mercados de capitais do BNDES, que vai investir cerca de R$ 200 milhões em cada novo fundo.

Ambos, que devem captar até R$ 1 bilhão, são destinados a investidores qualificados (fundos de pensão, por exemplo), e a taxa de performance estará vinculada à quantidade de créditos de carbono que o fundo conseguirá gerar. Caberá aos respectivos gestores privados apresentar os projetos e as empresas que poderão ser apoiados. "Aqui, da avenida Chile, não temos capilaridade para colher projetos pelo país", afirma Vianna.

Enquanto o BNDES se volta para o investidor qualificado, cresce no mercado a disputa entre os bancos pelos investidores em empresas com práticas socioambientais corretas.

O primeiro fundo deste segmento, o Ethical, do Banco Real, tinha patrimônio líquido de R$ 3 milhões, em 2001, quando foi criado e, hoje, soma R$ 570 milhões. No período, acumulou rendimento líquido, descontada a taxa de administração, de 584%, contra o Ibovespa acumulado de 577%.

Pedro Villani, gestor de renda variável do Real, afirma que, desde a criação do Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) pela Bovespa, em 2005, tem crescido a concorrência. "Hoje, praticamente todos os principais concorrentes têm na prateleira um fundo que replica o ISE", diz. Segundo ele, "o ISE é muito bem feito pela Bovespa, mas nós preferimos manter as nossas escolhas e a nossa metodologia própria, que leva em conta 63 indicadores". Eles medem a qualidade da gestão socioambiental das companhias abertas, além do ciclo de vida de produtos, entre outros. A idéia central é a mesma que baliza a política de crédito da instituição: empresas que têm compromisso com a sustentabilidade socioambiental, "normalmente, são melhor geridas financeiramente e mais rentáveis". Os números já citados mostram que a aposta, até agora, foi vitoriosa.

O Bradesco oferece dois fundos de ações cujas aplicações são direcionadas a empresas comprometidas com o desenvolvimento sustentável, um para o segmento de alta renda - Bradesco Prime - e outro para clientes dos segmentos institucional e private. São eles: Bradesco Prime FIC FIA ISE e Bradesco FIA ISE. O conceito de sustentabilidade utilizado é aquele internacionalmente conhecido como triple bottom line que avalia aspectos ambientais, sociais e econômico-financeiros. Para fazer parte da carteira do fundo, as empresas devem ser uma das que compõem o ISE da Bovespa. Esses fundos, lançados em dezembro de 2005, contam, atualmente, com patrimônio líquido de mais de R$ 70 milhões distribuídos para mais de 1800 cotistas.

No Itaú, maior gestor privado de fundos de ações do país, o destaque neste segmento é o Itaú Excelência Social, lançado em 2004, que tem patrimônio líquido superior à R$ 450 milhões. O fundo aplica apenas em papéis de empresas com práticas reconhecidas de responsabilidade social, preocupadas no cuidado e proteção do meio ambiente. Além dessa característica, 50% de sua taxa de administração é destinada a projetos sociais na área de Educação. As organizações interessadas passam por um processo de seleção. Em 2007, R$ 3,3 milhões foram repassados para 20 organizações não governamentais de todo país.

No segmento de renda fixa, o Itaú lançou, no ano passado, os fundos Ecomudança DI e o Ecomudança RF. Esses fundos já captaram R$ 73 milhões. Em parceria com organizações não-governamentais, destinam 30% da taxa de administração para ações ambientais que reduzem a quantidade de CO2 (dióxido de carbono) no ar.