Título: Estudo investiga efeitos do aquecimento
Autor: Santos , Chico
Fonte: Valor Econômico, 02/06/2008, Brasil, p. A3

Um estudo produzido por uma equipe de oito técnicos da Coordenação de Pós-Graduação em Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe-UFRJ) para medir os efeitos de uma provável elevação da temperatura no Brasil ao longo deste século, provocada pelo efeito estufa, sobre a produção de energia elétrica no país concluiu que as modalidades de geração mais afetadas seriam a energia hidrelétrica e a eólica. A primeira perderia até 10,8% das vazões médias das oito bacias estudadas e até 2,2% da capacidade de geração entre 2071 e 2100. A segunda perderia até 60% do potencial de geração, pela redução da velocidade dos ventos.

Geograficamente, a área mais afetada seria a região Nordeste, seguida da região Norte. No Nordeste, a desertificação pode provocar perda de até 7,7% na geração hidrelétrica da bacia do São Francisco. Do ponto de vista da demanda, o trabalho conclui que o consumo energético pode aumentar até 8%, provocado pelo uso mais intensivo de aparelhos de ar condicionado.

Denominado "Mudança Climática e Energia - Impactos no Brasil", o trabalho é parte de um estudo mais amplo encomendado pelo governo do Reino Unido a instituições de pesquisa brasileiras sobre os efeitos das mudanças climáticas. Além da energia, estão sendo estudados os efeitos sobre a agricultura, a saúde e as migrações.

No estudo sobre energia, os técnicos da Coppe constatam também que poderá haver um pequeno impacto na capacidade de geração térmica a gás, porque a elevação da temperatura e a redução da umidade reduzem a eficiência das turbinas, e previram a inviabilidade da produção de soja e mamona, bioenergéticos, no Nordeste, compensada pela alta no Centro-Sul.

Os técnicos da Coppe utilizam a maior parte da longa introdução do estudo para ressalvar a carência de dados que permitam dar maior precisão ao estudo e, por isso, concluem que seus resultados "devem ser encarados mais como uma possibilidade do que como uma previsão de fato".

O estudo, que estará sendo apresentado hoje, no Rio de Janeiro, utiliza dois cenários de emissões de óxido de carbono (CO2) propostos pelo Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas, IPCC na sigla em inglês. No primeiro, de emissões altas, o crescimento econômico e tecnológico é lento e desigual entre as regiões do mundo. No segundo, as emissões são baixas, é crescente a preocupação sócio-ambiental e a população do mundo cresce menos.