Título: IBGE revela dezembro muito forte no varejo
Autor: Raquel Landim e Raquel Salgado
Fonte: Valor Econômico, 17/02/2005, Brasil, p. A4

As vendas do comércio varejista surpreenderam em dezembro de 2004 e aumentaram vigorosos 11,43% em volume e 18,76% em receita nominal na comparação com dezembro de 2003, segundo levantamento divulgado ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em 2004, o comércio cresceu 9,25% em volume e 12,97% em receita e teve o primeiro desempenho positivo desde o início da pesquisa em 2001. Nilo Macedo, coordenador da pesquisa de comércio do IBGE, atribui a alta nas vendas ao incremento da massa salarial, mas lembrou também que a fraca base de comparação deixa os dados melhores ainda. Em 2001, o comércio teve queda de 1,57% no volume de vendas. Em 2002, de 0,70% e, em 2003, de 3,67%.

Favorecidas pela expansão do crédito e da renda, as vendas de móveis e eletrodomésticos tiveram o maior crescimento de 2004: 26,37%. Em dezembro, o segmento registrou alta 23,46% ante o mesmo mês de 2003. A abundância de crédito também favoreceu a venda de veículos, motos e peças, que aumentou 18,7% em dezembro de 2004 ante dezembro de 2003. No ano, a atividade desse setor acumulou crescimento de 17,8%. O comércio de alimentos e bebidas teve forte impulso no final do ano e cresceu 12,36% em dezembro ante igual mês de 2003. No acumulado do ano, a alta foi de apenas 7,22%, abaixo da média do varejo. Os dados do IBGE relativos a dezembro revelam um Natal mais forte que o anunciado. O dado lançou dúvidas sobre o ritmo da atividade, pois sinaliza necessidade de recomposição de estoques no varejo. Enquanto o setor de eletroeletrônicos relata forte ritmo de vendas, há setores e pesquisas que indicam movimento mais fraco. Pelos cálculos do Unibanco, as vendas dessazonalizadas do comércio varejista cresceram 4,8% em dezembro ante novembro. "Os dados do comércio demonstram que a indústria não está com um estoque tão grande, mas apenas acompanhando a demanda", diz a economista Giovanna Rocca. O setor de duráveis, que engloba produtos como eletroeletrônicos, móveis e eletrodomésticos surpreendeu positivamente os analistas. A expectativa era de alta na comparação com dezembro do ano anterior, mas de desaceleração ante novembro. Entretanto, segundo cálculos do Bradesco, com dados dessazonalizados, o crescimento na margem ficou em 6,8%. Segundo Paulo Saab, presidente da Associação Nacional de Fabricantes de Eletroeletrônicos (Eletros), as vendas da indústria em janeiro e fevereiro estão acima da média em 2005. "Até 2004 estávamos recuperando as perdas sofridas desde 2000. Agora, é crescimento efetivo", diz. Ele atribui o bom desempenho à expansão do crédito e diz setor trabalha com nível normal de estoques. Para Júlio Sérgio Gomes de Almeida, diretor-executivo do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), o crescimento do varejo em dezembro representa um ponto "fora da curva", porque o varejo também passa por uma fase de acomodação. As vendas aumentaram 11,26% no segundo trimestre de 2004 em relação ao mesmo período do ano anterior. Na mesma base de comparação, a alta foi de 9,4% no terceiro trimestre e 8,97% no quarto. "Dezembro foi a euforia do Natal", acredita Júlio. Segundo ele, ainda não é possível saber o impacto dos bons resultados do fim do ano no estoque da indústria, porque os dados são contraditórios. "Há setores que relatam compra de insumos, enquanto outros pensam em demitir". Pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI) demonstra que o nível de estoques de dezembro ficou bem acima do patamar dos meses de junho e julho, os menores desde 2003. No final do ano, o índice ficou em 94,1, contra 86,5 de junho. Apesar da alta, os estoques ainda são considerados baixos, já que em meados de 2004 se temia um superaquecimento. A rede Lojas Cem começou o ano com estoques de 90 dias, bem acima dos 60 dias considerados normais. Durante o mês passado a empresa não comprou nada, apenas desovou mercadorias. "Só agora em fevereiro é que demos início às compras", comenta Valdemir Coleone, superintendente da rede. Os dados de dezembro da Associação Comercial de São Paulo (ACSP) não foram tão vigorosos quanto os anunciados ontem. No começo do ano, a entidade reclamou do Natal e afirmou que as vendas ficaram aquém do esperado. No crediário, o crescimento frente dezembro de 2003 foi de 3% e no cheque a alta foi de 9,4%. No ano, 1,8% no Usecheque e 6% no prazo. "Os números do IBGE estão turbinados", alfineta Emílio Alfieri, economista da associação.