Título: Estado do Rio projeta investimentos de R$ 95 bi em três anos
Autor: Lamucci , Sergio
Fonte: Valor Econômico, 02/06/2008, Brasil, p. A6

Sérgio Cabral: investimentos no setor de petróleo e gás devem atingir R$ 56 bilhões nos próximos três anos O governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB), traça um quadro otimista para a economia do Rio de Janeiro nos próximos três anos. Nesse período, estima ele, o Estado deve receber R$ 94,8 bilhões em investimentos públicos e privados, dos quais 59% no setor de petróleo e gás.

Em café da manhã com 80 empresários e executivos promovido na sexta-feira pelo Valor, em São Paulo, Cabral destacou as perspectivas positivas para o investimento no Rio, contou detalhes sobre o ajuste fiscal promovido pela sua administração e exaltou programas feitos em parceria com o governo federal.

Embora a grande estrela da economia do Estado seja o setor de petróleo e gás, o governador ressaltou também o cenário favorável para outros segmentos da economia, como o siderúrgico. Nos próximos três anos, a aposta de Cabral é de que as empresas do setor investirão R$ 8 bilhões no Estado. "O Rio de Janeiro passa a ser talvez o maior pólo siderúrgico do Brasil", disse Cabral, para quem há um boom no segmento no país - e no Rio em particular.

Cabral mostrou-se confiante quanto às perspectivas das recentes descobertas de campos de petróleo na camada de pré-sal, mas observou que ainda é difícil dimensionar exatamente qual será o impacto. "Faltam ainda condições tecnológicas para perfurar até lá", disse ele.

Ao mesmo tempo em que destacou o papel crucial da Petrobras, Cabral insistiu na importância de o país contar com investimentos estrangeiros para o setor. "Isso é fundamental." Para o governador, seria muito positivo para o país se houvesse "uma grande refinaria de petróleo do setor privado".

Com um ótimo relacionamento com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o governador fez questão de mencionar as ações que contam com dinheiro do governo federal. Lembrou que a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, "comprou" a idéia de concluir a usina nuclear de Angra 3, o que deve trazer mais R$ 4,8 bilhões para o Estado.

Cabral também destacou as obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) no Rio, que devem totalizar mais R$ 3,6 bilhões nos próximos três anos. Esses recursos são fundamentais em sua estratégia de dar prioridade para obras na periferia e em comunidades carentes, que, segundo ele, ficaram esquecidas por muitos anos. "O Complexo do Alemão tem 100 mil habitantes, mas conta com apenas um posto de saúde e duas escolas públicas", disse Cabral, atribuindo a responsabilidade pela expansão urbana desordenada sem oferta de serviços públicos "à elite política e econômica do Rio".

O governador do Rio de Janeiro defendeu ainda a sua política de segurança pública, vista como truculenta por alguns especialistas. "A violência no Rio passou dos limites", afirmou Cabral, para quem é fundamental confrontar a situação atual, em que organizações criminosas ocupam territórios e usam armamento pesado. "Nós já apreendemos 200 fuzis. É uma guerra." Segundo ele, a população de regiões dominadas pelo tráfico apóia a atuação da polícia.

Cabral disse acreditar que o trem-bala entre São Paulo e Rio realmente sairá do papel. No fim de novembro o estudo de viabilidade deve ser apresentado, segundo ele. A licitação deve ser feita em abril do ano que vem.

Em sua exposição aos empresários, Cabral deu muita ênfase ao ajuste fiscal promovido por seu governo, num processo comandado por Joaquim Levy, secretário da Fazenda do Rio, que secretário do Tesouro Nacional na maior parte do primeiro mandato do governo Lula. Cabral foi buscar Levy em Washington, no Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), onde era vice-presidente de Administração e Finanças.

Cabral encontrou as contas públicas em estado de penúria. Segundo ele, havia apenas R$ 88 milhões em caixa, número que subiu para R$ 798 milhões no fim do ano passado. Áreas vitais como saúde e a educação estavam totalmente sucateadas, argumenta Cabral. Não se comprava um tomógrafo havia 20 anos, e havia 15 não se inaugurava uma escola de ensino médio.

Confrontado com essa situação, o Estado cortou custos e modernizou a administração orçamentária. As despesas correntes caíram de R$ 2,68 bilhões em 2006 para R$ 2,37 bilhões em 2007, e o número de operações feitas por meio de pregões eletrônicos cresceu de 40 para 802, o que garantiu uma economia média de 20% em cada compra.

Para melhorar técnicas de gestão, o governo contratou o consultor Vicente Falconi, do Instituto de Desenvolvimento Gerencial (INDG). No primeiro ano de mandato, o Estado conseguiu economizar R$ 168 milhões com as medidas de "reestruturação organizacional" do governo, batendo as metas definidas por Falconi. "Nós também reduzimos o número de secretarias estaduais de 32 para 19."

O discurso de austeridade fiscal de Cabral agradou aos empresários. O presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Base e de Infra-Estrutura (Abdib), Paulo Godoy, cumprimentou o governador pela condução das contas públicas, dizendo que uma gestão fiscal responsável ajuda a melhorar o ambiente de negócios. "Isso é muito importante para atrair investimentos", disse ele.

O controlador da Amil, Edson de Godoy Bueno, elogiou o governador fluminense por considerar que Sérgio Cabral tem atacado os problemas do governo nas mais diferentes áreas - "com fluxo de caixa positivo".