Título: Petistas articulam frente contra Dilma
Autor: Costa , Raymundo
Fonte: Valor Econômico, 02/06/2008, Política, p. A11

Fernando Pimentel: ao conseguir apoio tácito de Lula, reverteu derrota política no Diretório Nacional do partido, que vetaria aliança em Belo Horizonte A ofensiva desencadeada pelo ministro Tarso Genro (Justiça) para a construção de um novo campo hegemônico no PT tem objetivo determinado: impedir a consolidação e que se torne irreversível a candidatura da ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) ao Palácio do Planalto, com o patrocínio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O veto da Executiva Nacional petista à aliança com o PSDB, na eleição para a prefeitura de Belo Horizonte (MG), é reflexo dessa disputa, na qual está em jogo quem vai conduzir o processo de sucessão de Lula.

Boa parte da cúpula petista julga que o partido deve ter autonomia na escolha do candidato. Mas o presidente não pretende perder o controle do processo e demonstrou força ao levar a direção do PT a ser menos rigorosa em relação à disputa pela prefeitura da capital de Minas Gerais do que na decisão que adotara semana antes.

Na ocasião, o PT foi taxativo e decidiu "comunicar" a seção mineira que não autorizaria, "em nenhuma hipótese, o PT a participar de qualquer coligação da qual faça parte o PSDB naquela capital". O tom foi outro na resolução aprovada na última sexta-feira, e em vez de "nenhuma hipótese" o PT resolveu "recomendar" aos mineiros uma nova discussão "afastando a possibilidade de coligação com PSDB e PPS".

A questão mineira está longe de ser resolvida, mas na segunda-feira passada o Diretório Nacional era majoritariamente favorável ao veto radical da Executiva ao lançamento da candidatura de Márcio Lacerda (PSB) a prefeito de Belo Horizonte numa aliança com o PT - que indicará o candidato a vice - e o PSDB do governador Aécio Neves.

O que aconteceu entre a reunião da Executiva e o encontro Diretório foi a entrada em cena de Lula. E antes disso, uma entrevista do ministro Tarso Genro (Justiça) ao jornal "Zero Hora", de Porto Alegre, que deu contornos bem delineados ao que antes não passava de um rumor entre os petistas: mais que insatisfação, havia uma reação articulada entre os potenciais presidenciáveis petistas aos privilégios de Lula à eventual candidatura Dilma.

Aliados de Lula acreditam que até então o presidente não havia se dado conta da extensão da ofensiva do gaúcho. Tarso nominou inclusive alguns dos petistas - cerca de 10 - que estariam empenhados na construção desse novo campo hegemônico. Entre eles dois ministros, Luiz Dulci (Secretaria Geral) e Patrus Ananias (Desenvolvimento Social), e o assessor para Assuntos Internacionais do Palácio do Planalto, Marco Aurélio Garcia.

Entre os governadores, o ministro citou Jaques Wagner, da Bahia. Também não descartou a hipótese dele próprio vir a ser candidato. Sobre Dilma, foi bem claro que, entre as hipóteses possíveis, ela era "uma das". O manifesto gaúcho levou vários setores do PT a acreditar que estava em formação uma "frente anti-Dilma". O Valor apurou, no entanto, que há nuances e posições diversas entre os petistas citados.

O discurso de Genro encerra no partido autonomia para decidir sobre a candidatura. Mas Marco Aurélio Garcia, por exemplo, apenas teria dúvidas sobre a oportunidade da escolha - seria ainda cedo - e os métodos de gestão de Dilma Rousseff, mas nenhuma oposição a entrega do comando da sucessão a Lula.

Responsável pelo programa-símbolo do governo Lula, o Bolsa Família, o ministro Patrus Ananias diz que sim, tem debatido questões partidárias, inclusive é parte diretamente interessada na questão de Belo Horizonte, onde preferia uma aliança do PT com o PMDB. Mas definitivamente acha que não é hora de se falar em 2010. Patrus é um dos nomes citados no PT para a sucessão de Lula, para o governo de Minas Gerais, e seu ministério tem boa interação com o de Dilma.

Nesse contexto, Lula decidiu ir a Belo Horizonte no início da semana passada, onde tirou fotos com Lacerda ao lado do governador Aécio Neves e do prefeito Fernando Pimentel, os dois principais articuladores da candidatura. Nesse meio tempo, encontrou com a deputada Maria do Carmo e cobrou "a onda" que o PT estava fazendo. O deputado Ricardo Berzoini, presidente do PT, nega, mas tanto Aécio como Pimentel confirmam que Lula telefonou para o deputado a fim de dizer que apoiava a aliança.

A posição de Lula teve adesões previsíveis, como a de seu chefe de gabinete, Gilberto Carvalho, e dos ministros Paulo Bernardo (Planejamento) e Luiz Marinho (Previdência e Assistência Social; mas também algumas inesperadas para os conhecedores dos meandros da política petista. O exemplo mais ilustrativo é o de Marta Suplicy, ministra do Turismo, e assim como Dilma, Genro, Patrus e Jaques uma das opções consideradas no PT.

Se vencer a eleição para prefeito de São Paulo, Marta Suplicy em dois anos pode se candidatar ao governo do Estado ou até mesmo à Presidência da República, segundo avaliação feita no PT. No embate mineiro, Marta teve como aliado o ex-ministro Antonio Palocci, também citado como opção, na hipótese de conseguir se livrar das ações judiciais em que está envolvido até agora. Marta quer o apoio de Lula na eleição de São Paulo, mas o presidente está inclinado a não participar das eleições onde houver mais de um candidato aliado na disputa, caso de São Paulo.

Na véspera da reunião do Diretório Nacional do PT, no dia 30, o embate sobre o candidato e a condução do processo sucessório presidencial ficou m ais claro aos petistas no decorrer do dia. À noite, Pimentel, que estava em Brasília mas no dia seguinte não participaria da reunião do DN, chegou a dizer em alto e bom som, como se estivesse arrebatado: "Eu prefiro perder com o Lula a ganhar contra ele". Quatro dias antes, o prefeito achava que seria derrotado no DN.

Um grupo de deputados teve ação decisiva na negociação de uma solução em que parecesse que nenhum dos lados perdeu, especialmente José Genoino (SP), Andre Vargas (PR), João Paulo Cunha (SP) e Maurício Rands (PE). A idéia era recuperar um pouco a força da Executiva, que parecia prestes a uma derrota após a entrada de Lula, e reduzir "um pouco o ímpeto do Pimentel", segundo esse grupo. Mas a avaliação que fica é que a atual Executiva do PT tem pouca condição de enfrentamento. Depois de rosnar, fincou mansa. Resta esperar a solução para Belo Horizonte, onde o próximo passo é do PSB e será de ratificação da aliança com os tucanos.