Título: Petrobras passa a ter 23% da Braskem
Autor: Camarotto , Murillo
Fonte: Valor Econômico, 02/06/2008, Empresas, p. B8

Pouco mais de um ano após uma aquisição conjunta do grupo Ipiranga, foi assinado na última sexta-feira o novo acordo de acionistas pelo qual a Braskem assumiu praticamente todos os ativos petroquímicos da Petrobras. Como resultado, a estatal do petróleo aumenta de 7,1% para 23,1% a sua participação no capital total da petroquímica, tornando-se sócia minoritária relevante. A fatia no capital votante passa de 8% para 30%.

A partir de agora, a empresa controlada pelo grupo Odebrecht passa a deter 100% do capital votante de Ipiranga Petroquímica, Ipiranga Química e Petroquímica Paulínia. Até então, a Petrobras detinha 40% dessas empresas. Também foi incorporada a fatia de 36,4% da estatal no capital votante da Companhia Petroquímica do Sul (Copesul), o que deixou a Braskem com participação de 99,17% da centra gaúcha.

O pequeno percentual restante na Copesul está em poder de acionistas minoritários da Petroquímica Triunfo, empresa controlada pela Petrobras, com 85% do capital. Esses acionistas relutam em vender seus papéis à estatal, que pretende repassar essa empresa para as mãos da Braskem. Após esse processo, a fatia da Petrobras no capital total da Braskem passará a 25%. Já o percentual no capital votante permanecerá inalterado.

Na expectativa de uma solução para esse impasse, o vice-presidente de Finanças e Relações com Investidores da Braskem, Carlos Fadigas, disse ao Valor Online que a existência isolada da Petroquímica Triunfo "não faz sentido". "O nosso desejo é incorporar logo, pois trata-se de uma empresa instalada no pólo de Triunfo, que já está todo integrado", afirmou o executivo.

Mais robusta, a Braskem espera começar logo a tirar proveito da nova estrutura. A empresa calcula que a união dos ativos vai gerar sinergias operacionais da ordem de US$ 1,1 bilhão, em valor presente. "A integração possibilita ganhos de escala e sinergias, maior capacidade de investimentos em pesquisa e desenvolvimento e melhoria da competitividade da cadeia produtiva do plástico" disse a companhia, em nota oficial.

Fadigas informou que todas as empresas incorporadas permanecerão com identidade jurídica independente até o mês de outubro, "quando tudo passa a ser Braskem".

O novo acordo de acionistas (assinado por Petrobras, Petroquisa, Odebrecht e Norquisa) prevê também o aumento de dois para três no número de representantes da estatal no conselho de administração da Braskem. Haverá ainda membros da Petrobras no conselho fiscal e nos comitês de apoio ao conselho de administração.

Apesar de passar a ser mais influente nas decisões da Braskem, a Petrobras continuará recebendo pressões para uma flexibilização no preço que cobra pela nafta petroquímica, matéria-prima que representa quase 80% dos custos de produção da Braskem. Fadigas afirmou que está otimista para que uma solução possa ser anunciada ainda neste mês.

Em maio, o presidente da Braskem, José Carlos Grubisich, disse que iria pedir à estatal um desconto no preço da nafta, visto que a petroquímica compra o produto em grandes volumes. A empresa alega que o desconto para grandes compradores é prática comum no mercado internacional. A Petrobras, pelo contrário, cobra um prêmio sobre a nafta que vende à Braskem, segundo o executivo.

Também em junho, a Braskem pretende anunciar o endereço de sua nova fábrica, onde serão produzidas 200 mil toneladas anuais de polietileno a partir do etanol. Estão na disputa Bahia e Rio Grande do Sul, onde estão os pólos da companhia.