Título: Recuo do câmbio ajuda inflação em fevereiro
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 17/02/2005, Brasil, p. A4

Indicadores de inflação divulgados ontem confirmaram um ambiente de tranqüilidade para os preços em fevereiro, sem sinais de novas pressões de alta. O Índice Geral de Preços-10 (IGP-10), recuou para 0,31% em fevereiro, após alta de 0,42% no mês anterior, de acordo com a Fundação Getulio Vargas (FGV). Em São Paulo, o Índice de Preços ao Consumidor (IPC), medido pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), desacelerou para 0,49% na segunda quadrissemana do mês ante alta de 0,52% na medição anterior. A desaceleração é atribuída, em boa parte, à valorização do real frente ao dólar. Os efeitos da política monetária continuam restritos, já que nos índices ao consumidor a inflação ainda está distante da meta perseguida pelo Banco Central. O IGP-10 de fevereiro é o menor patamar desde outubro passado, quando ficou em 0,23%. Segundo o coordenador de Análises Econômicas da FGV, Salomão Quadros, os IGPs estão em trajetória de desaceleração. E o recuo ocorre em todas as etapas de produção. Os preços no atacado (IPA) caíram de 0,27% para 0,17%, reflexo da queda tanto da deflação dos produtos agrícolas quanto da alta mais contida dos industriais. Os primeiros foram de uma taxa de 0,40%, para uma variação negativa de 0,21%. Entretanto, frente os preços agrícolas ao atacado no mês de janeiro (IPA-DI), que haviam cedido 0,41%, houve aceleração. Na análise de Ricardo Denadai, da LCA Consultores, as chuvas de verão começam a impactar os preços agrícolas e devem aprofundar seus efeitos até o final do mês. Já os preços industriais no atacado tiveram alta de 0,23% para 0,30%, influenciados principalmente por insumos químicos, que deixaram de contar com uma deflação de 0,49% verificada em janeiro e subiram 0,04% neste mês. "Ainda assim, os movimentos mais relevantes para a inflação não vêm destes insumos e sim de elevações de produtos que sofrem com a influência sazonal", afirma Paulo Picchetti, da Fipe. Os efeitos da alta do real frente o dólar começam a aparecer. "Boa parte da desaceleração dos preços no atacado conta com a ajuda do câmbio, o problema é saber se e quando isso chegará ao consumidor", pondera Denadai. Fernando Fenolio, da Rosenberg e Associados, aposta que a partir do segundo trimestre deste ano os efeitos ficarão mais visíveis no varejo. O núcleo do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de janeiro ficou em um nível elevado: 0,66%. Dados anualizados mostram uma inflação de 8%, segundo a LCA, bastante fora da meta de 5,1%. "Com um dólar mais barato, esperamos que em abril esse núcleo arrefeça para 0,43%", comenta o economista da Rosenberg. Os preços ao consumidor (IPC) medidos pelo IGP-10 mostraram variação de 0,66%, uma desaceleração de 0,08 ponto percentual na comparação com janeiro. Isso foi possível devido ao arrefecimento dos grupos alimentação, vestuário, transportes e despesas diversas. Ao mesmo tempo, o Índice de Preços da Construção Civil (INCC) foi de 0,70% para 0,47% O índice da Fipe, que ficou em 0,49% na segunda quadrissemana, deve fechar fevereiro próximo a 0,4%. A maior pressão veio do item educação, que subiu 2,54%, mas ainda assim ficou bem abaixo dos 4,4% da primeira quadrissemana. E a tendência é de que sua influência seja zerada até o fim do mês. Os demais itens tiveram os seguintes desempenhos: habitação (0,36%); alimentação (0,02%), transportes (1,63%), despesas pessoais (0,31%), saúde (0,06%) e vestuário (menos 0,44%). Picchetti, da Fipe, ressalta que a cesta de produtos industrializados em São Paulo recuou de 0,40% para 0,26% entre as duas semanas de fevereiro. "O repasse de custos da indústria para o varejo persiste, mas não aumenta", diz. O núcleo do IPC está num patamar bem abaixo do apresentado pelo IPCA - 0,29% -, mas resiste nesse nível há algumas quadrissemanas (RS)