Título: Agora, exportação de gado é alvo de europeus
Autor: Moreira , Assis
Fonte: Valor Econômico, 02/06/2008, Agronegócios, p. B12

A agropecuária brasileira é alvo de uma nova campanha que começa a engatinhar na Europa: contra a crueldade na exportação de animais vivos. A World Society for the Protection of Animais (WSPA), sediada em Londres, organizadora da campanha, estima esse tipo de comércio em US$ 10 bilhões por ano globalmente.

A entidade utiliza o Brasil como um dos quatro casos, ilustrando com brochura e filme as condições da exportação de gado bovino vivo do porto de Belém do Pará para Beirute, no Líbano.

A WSPA relata que primeiro os animais são amontoados em caminhões, sem se mover, por três a quatro dias de viagem, sem água ou comida. Ao chegar ao porto, são "brutalmente" empurrados para o navio com bastões elétricos.

Segundo a brochura, 8% a 10% do gado morrem durante a viagem pelo Atlântico e Mediterrâneo, e ao chegar são "cruelmente abatidos", em condições que violariam os requerimentos religiosos. A carne chega enfim no mercado com a etiqueta "Halal".

Vale observar que o abate dos animais é feito em frigoríficos no Líbano, portanto sob responsabilidade de empresários locais.

São também alvos da WSPA as exportações de suínos do Canadá para o Havaí, de ovelhas da Austrália para o Oriente Médico, de cavalos da Espanha para a Itália.

Sofia Parente, da WSPA, menciona outros casos no Brasil, como um recente incidente com um navio que transportava bovinos para a Venezuela, no qual mais de dois mil animais teriam morrido.

Para ela, a relação entre bem-estar animal, qualidade do produto e demandas dos países ricos deveria estimular produtores como o Brasil a melhorar o transporte e abate dos animais.

A entidade dá como bom exemplo o Chile, onde as regulamentações fazem dos transportadores os responsáveis pelo que acontece com os animais, numa abordagem que influencia as decisões sobre o número de animais que carrega.

Embora a exportação de animais vivos pelo Brasil pareça insignificante no total de seu agro negócio, a campanha não é para ser ignorada. A revista suíça L'Hebdo destaca em sua edição desta semana a propagação na Europa dos "ultra-radicais da causa animal".

A reportagem prevê para "breve o adeus ao steak", exagerando a influência de Peter Singer, professor de bioética da Universidade de Princeton (EUA), que defende a abolição da fronteira separando o homem e o animal e alimenta grupos como a Frente de Liberação Animal e o Animal Rights Milicia.

Na semana passada, em Paris, a Associação Brasileira de Produtores e Exportadores de Frango (Abef) lançou sua própria campanha para combater denúncias antigas, e procurar convencer na Europa que a produção brasileira é sustentável e de qualidade.

Nos últimos anos, a produção de frango brasileiro tem sido acusada de destruir a Amazônia, utilizar hormônios e substâncias cancerígenas. Além disso, há acusações também de que frango congelado brasileiro seria vendido como fresco e de que utilizaria ração à base de grãos transgênicos.

Christian Lohbauer, diretor-executivo da Abef, mostrou inclusive slide de cardápio de restaurante na Suíça advertindo o cliente que o frango era brasileiro e podia ter sido alimentado com substâncias proibidas na Europa.

"O número de besteiras é impressionante e decidimos ser pro-ativos, ao invés de ficar enviando cartas que nem nos respondem", afirmou. "Temos etiquetagem garantindo qualidade, indústria modernizada, sistema de produção integrado, proibição de qualquer tipo de hormônio, sementes ótimas e clima abençoado por Deus".