Título: BNDES detecta aceleração na demanda por máquinas em 2005
Autor: Cynthia Malta
Fonte: Valor Econômico, 18/02/2005, Brasil, p. A6

A indústria começou o ano comprando mais máquinas e equipamentos. Do início de janeiro até a última segunda-feira, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) aprovou 300 operações no valor de R$ 141,8 milhões, no âmbito do programa Modermaq, que financia compras por cinco anos, com juros fixos de até 14,95%. "A demanda está forte", diz o superintendente de Operações do BNDES, Claudio Bernardo Guimarães de Moraes. O resultado das primeiras sete semanas de 2005 indica que a demanda pelo programa está em forte aceleração, pois supera o desempenho dos quatro meses de 2004 em que esteve em vigor. O Modermaq começou a funcionar em setembro passado e até dezembro, o BNDES havia dado sinal verde para 299 operações no valor de R$ 136,8 milhões. Para Moraes, o Modermaq "está deslanchando, pegando velocidade de cruzeiro". A agroindústria é a maior tomadora de recursos, mas a participação do setor de construção pesada vem crescendo e chega a 14,8% do total aprovado até final de janeiro. (Ver quadro abaixo) Moraes se diz otimista e avalia que os dados apurados no BNDES, e não apenas relativos ao Modermaq, indicam que "os empresários estão modernizando os equipamentos, acreditando no futuro". O dado dos primeiros 45 dias do ano também segue a tendência positiva detectada pelo BNDES no final de 2004 no Finame, linha de financiamento dirigida a máquinas, equipamentos e caminhões. O custo financeiro do Finame, ao contrário do Modermaq, é variável, seguindo a Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP) e a variação cambial (para operações acima de R$ 10 milhões). O Finame chegou a dezembro passado com desembolsos totais de R$ 6,562 bilhões. Desse total, R$ 3,428 bilhões referem-se a empréstimos para compra de máquinas. "Conseguimos um crescimento de 23% em relação a 2003 no Finame e o setor de máquinas e equipamentos está crescendo mais do que o de caminhões", diz o superintendente de Operações do BNDES. Os dados do Finame para janeiro e fevereiro ainda não estão disponíveis. Se for considerado o que o BNDES já aprovou neste ano, até 14 de fevereiro, o Modermaq apresenta 599 financiamentos no valor total de R$ 278,5 milhões. E o prazo para o tomador do empréstimo receber os recursos do agente repassador varia de 50 a 57 dias. Dentre os fabricantes que mais estão conseguindo vender bens de capital, por meio dessa linha de financiamento, estão a americana Caterpillar, a italiana CNH, e a brasileira Romi. Essa linha de financiamento demorou para entrar em vigor. Discutia-se com quem ficaria o ônus de bancar uma possível variação da TJLP, o BNDES ou o Tesouro Nacional, já que a prestação para o tomador é fixa. Ficou decidido que nos dois primeiros anos do financiamento o risco é do BNDES; e do terceiro ao quinto ano o Tesouro assume. Segundo Moraes, o setor privado está respondendo bem ao Modermaq. A empresa de grande porte, aquela que fatura mais de R$ 60 milhões por ano, é o maior tomador de recursos, com 70% do valor aprovado pelo BNDES de setembro a 14 de fevereiro. As médias empresas, cujo faturamento vai de R$ 10,5 milhões até R$ 60 milhões, ficaram com 15,3% do total aprovado. A fatia das micro e pequenas, com receita de R$ 1,2 milhão a R$ 10,5 milhões, é de 14,7%. A expectativa de Moraes é de uma demanda mensal entre R$ 150 milhões a R$ 200 milhões. A dotação orçamentária é de R$ 2,5 bilhões e vai até agosto. Mas o superintendente do BNDES não acredita que haverá problema para conseguir mais recursos caso haja demanda além do previsto. "Depois de agosto, vamos discutir uma nova dotação orçamentária". Uma das explicações para a boa aceitação do Modermaq por parte das empresas é o custo do financiamento. Em tempos de juro básico batendo em quase 19%, o juro cobrado no programa é de, no máximo, 14,95%, sendo 11% para o BNDES. A remuneração dos bancos repassadores dos recursos é de até 3,95%. Mas, segundo o superintendente, grandes empresas têm conseguido reduzir a parcela dos bancos a 0,5%. Assim, o empréstimo ficaria com um juro muito atraente, de apenas 11,5%. A situação é oposta no Modercarga, que em breve fará aniversário de um ano e que apresenta apenas quatro operações, no valor total de R$ 900 mil. Esse programa foi criado para financiar a compra de caminhões novos para caminhoneiros autônomos. O juro é alto, de 17%. E a possibilidade de os bancos cobrarem parcelas fixas do tomador, que na visão do governo traria um alento aos bancos repassadores, não deu o resultado esperado. Os agentes, como proteção para eventuais calotes, exigem garantias que o caminhoneiro autônomo não consegue dar. "A diretoria do BNDES já pediu ao Ministério do Desenvolvimento que avalie possíveis mudanças no Modercarga", diz Moraes. Ele observa, porém, que o segmento de caminhões não foi abandonado pelo BNDES. Em 2004, por meio do programa Finame, o BNDES registrou desembolsos de R$ 3,134 bilhões em financiamentos para compra de caminhões - crescimento de 14% em relação a 2003. No segmento do Finame para caminhões, cujo juro é composto da TJLP mais 1%, com um spread entre 3% e 6%, os maiores tomadores no ano passado foram as micro e pequenas empresas. Estas ficaram com 51,8% das operações no ano passado, participação menor do que a registrada em 2003 (de 61,8%). A fatia encolheu porque "o mercado demandou mais caminhões pesados, para transportar a safra agrícola", explicou Moraes. Com isso, a participação das grandes empresas no Finame para caminhões cresceu de 15,2%, em 2003, para 20,4% em 2004. E a fatia das médias subiu ainda mais, de 20% para 25,6%. "O segmento de caminhões é bem importante no Finame e vai continuar sendo neste ano. O que recebermos de demanda, vamos aprovar", diz o superintendente. Para este ano, o valor a ser destinado ao Finame ainda está sendo definido pelo BNDES, cujo orçamento total é de R$ 60 bilhões. O Moderfrota, que financia compra de equipamentos, tratores, para o setor agrícola, para a safra de junho de 2003 a junho de 2004 tem valor estabelecido de R$ 5,5 bilhões. Desse total, o BNDES já aprovou operações equivalentes a R$ 1,2 bilhão. O valor estabelecido para a safra 2004/2005 praticamente repete o valor desembolsado no período anterior. Moraes explica que o BNDES definiu o valor de acordo com a demanda, que não deve crescer neste em razão da queda nos preços das commodities agrícolas no mercado internacional. Na safra 2003/2004, a linha do Moderfrota tem R$ 5,460 bilhões à disposição. O Tesouro Nacional destinou R$ 2,250 bilhões desse total. O restante foi completado com recursos do BNDES alocados no Finame Especial. Para o período 2004/2005, a expectativa é de que não será necessária a ajuda do Tesouro Nacional. Modermaq, Modercarga e Moderfrota são programas que integram a política industrial do governo federal e têm como objetivo fortalecer o setor de bens de capital e modernizar o parque industrial. Também deve ajudar a ampliar a capacidade de produção de alguns setores. Dois deles são bem sucedidos e o Modercarga, que não andou, está sendo reavaliado. O BNDES, segundo Moraes, está levando de 3 a 4 dias, em média, para avaliar pedidos de financiamento. O prazo é maior quando o banco repassador dos recursos não está conectado "online" com o BNDES. Dos 90 bancos com os quais o BNDES mais atua, 70% já estão conectados.