Título: Garotinho mobiliza governadores para queda-de-braço com o Planalto
Autor: César Felício
Fonte: Valor Econômico, 18/02/2005, Política, p. A13

Até o fim da tarde de ontem, o ex-governador do Rio Anthony Garotinho controlava 22 dos 90 deputados federais do PMDB, em um cenário cujo comando da bancada do partido na Câmara dos Deputados permanece totalmente indefinido. A vantagem conseguida anteontem pelo grupo governista, por meio de novas filiações e de pressão sobre os deputados que se aliaram ao ex-governador para destituir o líder José Borba (PR) desapareceu, mas a ala oposicionista não tem certeza sobre o resultado da votação secreta dentro da bancada que pretende realizar até quarta-feira. O equilíbrio se restabeleceu ontem com duas impugnações de novas filiações e uma expulsão. O deputado André Luiz (RJ), alvo de diversas acusações de irregularidades, foi expulso da sigla. O parlamentar era próximo de Garotinho, mas migrou para a ala governista na esperança de deter o processo de cassação de mandato que está prestes a enfrentar na Câmara. Também em nome da ética, foram impugnadas as filiações governistas de Ronivon Santiago (AC) e Renato Cozzolino (RJ). O primeiro enfrenta um processo de cassação do mandato por crime eleitoral. O segundo está envolvido em uma briga paroquial com Garotinho pelo controle político da cidade fluminense de Magé. Os oposicionistas sofreram um revés, contudo, com a saída do deputado Costa Ferreira (MA), um dos evangélicos que Garotinho havia conseguido filiar no início do mês. No Rio, o ex-governador afirmou que a ala governista do PMDB "apelou ao ter tentado filiar pessoas estranhas ao partido", na tentativa de reconduzir Borba à liderança do partido.. Os governadores aliados do grupo oposicionista foram acionados para reverter a ofensiva governista. O governador do Rio Grande do Sul, Germano Rigotto, deve exonerar por alguns dias seu secretário da Saúde, Osmar Terra, que é deputado federal licenciado, para garantir um voto a mais contra Borba. O governador de Pernambuco, Jarbas Vasconcelos, procura agir sobre o deputado Inocêncio Oliveira , que entrou no partido ao lado do Planalto. Aliado regional do PMDB, o governador de Minas Gerais, Aécio Neves, também agiu. Exonerou temporariamente o secretário da Agricultura, Silas Brasileiro, outro deputado licenciado que deverá votar contra o governo. Garotinho coordena todo o trabalho para tentar tornar o deputado mineiro Saraiva Felipe o novo líder da bancada. Assumiu esta condição ao patrocinar a filiação de dez deputados no partido este mês. Antes da onda de filiações, o ex-governador já era influente na bancada, com doze deputados. No outro lado do front, a articulação governista é conduzida pelo próprio Borba, pelo presidente do Senado, Renan Calheiros (AL), pelo ministro das Comunicações, Eunício Oliveira e pelo deputado Jader Barbalho (PA). Articulador político de Garotinho no Congresso, o deputado Eduardo Cunha (RJ) garante que a questão interna do PMDB não foi discutida na negociação que selou o apoio de Garotinho no segundo turno da eleição na Câmara para o novo presidente da Casa, Severino Cavalcanti. "O apoio nosso a Severino no segundo turno foi definido há muito tempo, quando ele e Garotinho se encontraram. O que pedimos para o Severino foi que o Rio pudesse ser ouvido de forma permanente nos assuntos de interesse do Estado", diz Cunha. O parlamentar afirmou que o apoio a Severino era natural, já que os contatos de Garotinho com o governo estariam rompidos desde o início do ano. "Só vai haver conversa com o governo quando eles honrarem o acordo de antecipação dos royalties deste ano, fechado entre Garotinho e o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, para a aprovação do Orçamento", disse o parlamentar. Segundo Cunha, depois de aprovado o Orçamento, o governo suspendeu o cumprimento do acordo, como uma retaliação ao fato do governo estadual não restabelecer convênios de transferências de verbas para a Prefeitura de Nova Iguaçu (RJ), controlada pelo PT. "Sem esta retaliação, seria possível o apoio ao candidato do governo na Câmara. Mas não temos porquê aceitar chantagem", disse. (Colaborou Janaina Vilella, do Rio)