Título: ONU prevê uma década de alimentos caros
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Fonte: Valor Econômico, 30/05/2008, Internacional, p. A9

Os preços mundiais dos alimentos cairão um pouco em relação aos atuais níveis recordes, mas seguirão elevados pelos próximos dez anos, prejudicando principalmente as populações dos países mais pobres, onde a inflação é mais influenciada pelo aumento do custo da comida. A culpa dessa alta é dos biocombustíveis, da maior demanda de países emergentes, como a China, e da especulação nos mercados futuros.

A previsão e as conclusões são da Organização para a Alimentação e a Agricultura da ONU (FAO) e da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), em um relatório sobre as perspectivas agrícolas mundiais no período 2008-2017, divulgado antes da cúpula que será realizada em Roma na semana que vem.

"A demanda por biocombustíveis é a maior fonte de nova demanda em décadas e um forte fator subjacente na tendência de alta dos preços agrícolas", afirma.

A perspectiva do relatório não é muito otimista. "Uma vez que retrocedam de seus atuais níveis máximos, os preços permanecerão em níveis médios maiores, a médio prazo, do que na década passada", afirma o documento.

"O preço dos produtos alimentícios de base deve cair em relação a seu preço atual muito elevado. Porém, permanecerá em um nível claramente superior em relação à década anterior", resumiu o senegalês Jacques Diouf, diretor da FAO, ao apresentar o informe. "Com uma produção de biocombustíveis que deve quase dobrar nos próximos dez anos, segundo as estimativas mais prudentes, a pressão exercida sobre a agricultura se intensificará", advertiu Diouf.

"O fim da comida barata em um mundo onde metade da população vive com menos de US$ 2 ao dia é uma fonte de grave preocupação", afirmou o mexicano Angel Gurría, secretário-geral da OCDE.

Quase 30 países da África, Ásia e Caribe registraram protestos nos últimos meses pelos altos preços dos alimentos. No Haiti a situação derrubou o primeiro-ministro.

"O estudo foi preparado em um clima de crescente instabilidade dos mercados financeiros, uma inflação mais elevada dos preços dos alimentos, sinais de um debilitamento do crescimento econômico mundial e preocupações sobre a segurança alimentar", explicaram a FAO e a OCDE.

O relatório alertou que o mundo precisa se preparar para pontuais altas drásticas de preços e mais volatilidade de mercado.

"Esperamos que os líderes mundiais que estão vindo a Roma cheguem a um acordo em torno das medidas urgentes necessárias para estimular a produção agrícola, ao mesmo tempo protegendo os pobres dos preços ascendentes", disse Diouf.

A ONU apresentou uma lista com 22 países, que, segundo a organização, estão particularmente ameaçados pela crise global dos alimentos. São países vulneráveis porque sofrem de fome crônica e porque são obrigados a importar alimentos e combustível. O relatório disse que Eritréia, Níger, Ilhas Comores, Haiti e Libéria são especialmente afetados.

A crise realça "a fragilidade do equilíbrio entre o suprimento de víveres mundial e as necessidades dos habitantes do mundo", disse Jacques Diouf.

O presidente do Banco Mundial, Robert Zoellick, anunciou ontem um fundo de US$ 1,2 bilhão em novos empréstimos e financiamentos para países pobres que lutam contra a alta dos preços de alimentos e combustíveis. Ele pediu por um plano de ajuda global.